domingo, setembro 09, 2007

Página da Internet da AESDA

Aqui fica a informação: há uma interessante página nova na Internet de um grupo de Espeleologia (da AESDA - Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente, com sede em Torres Vedras) da qual publicamos alguns textos (ver a página AQUI):


Fundada em 1992, a AESDA (Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente) é uma entidade associativa, sem fins lucrativos, destinada ao desenvolvimento de actividades relacionadas com a Espeleologia e a Defesa do Ambiente.

O principal objectivo desta Associação consiste em pesquisar e estudar as cavidades subterrâneas, em particular as de génese natural (grutas, algares) mas também as resultantes da acção humana, tais como minas ou criptas. Defender o património natural e construído, em particular no que se relaciona com o meio subterrâneo, é outro dos preceitos fundamentais que regem a actuação da AESDA. Pretende-se, igualmente, contribuir para o desenvolvimento das diversas disciplinas técnicas e científicas ligadas à actividade espeleológica.

A componente de intervenção social é também valorizada no âmbito da AESDA. Recorrendo ao meio subterrâneo, são promovidas acções pedagógicas e de sensibilização dirigidas a todos os interessados, mas sobretudo a estudantes e a grupos sociais de risco complementando projectos de integração social ou de prevenção à marginalidade.


BREVE HISTORIAL DA AESDA

Os primeiros tempos

Antes da existência da AESDA, os elementos que a viriam a constituir promoviam, há já alguns anos, actividades de Espeleologia, então sob a égide do Espeleo Clube de Torres Vedras (ECTV). De entre os espeleólogos mais activos destacou-se um grupo que acarinhava ideias e objectivos espeleológicos bem definidos e que pretendia reunir as condições necessárias para a exequibilidade dos projectos preconizados, que poderiam realizar-se no quadro de um novo espaço associativo subordinado à actividade espeleológica. A AESDA foi oficialmente fundada no dia 11 de Setembro de 1992, formando-se, assim, a entidade jurídica que viria a possibilitar a realização dos projectos almejados (DR – III série, n.º 255, de 04/11/1992).

As conquistas iniciais

Os anos iniciais foram marcados por grandes dificuldades, mas, também, por importantes descobertas. Sem uma sede oficial nem equipamento colectivo, a AESDA era mantida apenas com os recursos dos associados. O facto de ter surgido uma nova associação de espeleologia em Torres Vedras, onde já se encontrava solidamente implantado outro organismo do mesmo tipo, dificultava a obtenção dos necessários apoios da parte dos poderes locais e de outros potenciais financiadores. No entanto, rapidamente se deram importantes aquisições humanas que vieram reforçar o contingente associativo e a capacidade de trabalho. Os resultados não se fizeram esperar. Nesta fase inicial fizeram-se importantes recolhas bioespeleológicas, sendo de destacar a conclusão do trabalho que havia sido iniciado ainda no ECTV sobre ectoparasitas dos morcegos (7). De entre os invertebrados recolhidos, um tisanuro (Coletinia mendesi) mereceu particular atenção. Proveniente da Gruta de Colaride (Cacém), foi entregue para estudo no Centro de Zoologia do Instituto de Investigação Científica Tropical. Trata-se de uma espécie que, até então, tinha sido referenciada apenas no Algarve e em Córdoba (3).

Em Junho de 1993, na sequência de uma série de prospecções espeleológicas desenvolvidas na Serra de Montejunto, foram localizadas e desobstruídas diversas cavidades até então desconhecidas. Uma destas revelou-se de grande importância ao nível arqueológico, atendendo ao seu aproveitamento como necrópole em período Neolítico (6). Os testemunhos arqueológicos aí existentes, com perto de cinco mil anos de antiguidade, correspondem às ossadas de mais de 120 indivíduos acompanhados de inúmeros artefactos de pedra polida ou lascada, de osso, de concha e alguma cerâmica. Esta descoberta levou ao estabelecimento de colaborações com o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e com o Instituto Português de Arqueologia (IPA). A partir de 1994, estas instituições (primeiro o IPPAR e depois o IPA) promoveram sucessivas campanhas de trabalhos arqueológicos na gruta, contando com a participação efectiva de elementos da AESDA (1 e 2).

Ainda nesses primeiros anos de 1992/93, foi realizado o inventário e levantamento topográfico das grutas dos Cucos, em Torres Vedras. Prosseguiram também os trabalhos de exploração e topografia subterrânea nas minas auríferas romanas de Valongo. As pesquisas nestas minas levaram à descoberta de um conjunto de galerias com mais de seiscentos metros, cuja existência se pensava lendária.

Paralelamente aos trabalhos de investigação, realizaram-se as primeiras actividades que ligaram a prática espeleológica à acção pedagógica e social, salientando-se a colaboração no Projecto Joventura, de prevenção à toxicodependência, apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Freguesia de Benfica (5).

Um dos passos mais significativos para a evolução da AESDA deveu-se à boa vontade dos sócios da firma FAS – Francisco António da Silva, Imobiliária, S.A., que cederam, a título gracioso, instalações para a constituição da sede, através de um protocolo assinado em Janeiro de 1994. A cedência foi posteriormente reiterada, permitindo uma mais sólida implantação da AESDA e uma muito mais eficaz gestão dos recursos.

A consolidação

Os dois anos que se seguiram (1994/95) foram marcados pela continuação dos trabalhos já iniciados na Serra de Montejunto e nas minas de Valongo. A necrópole pré-histórica do Algar do Bom Santo foi alvo de um documentário produzido pela RTP, intitulado “Terra Humana” (1995), da autoria de Paulo Costa, que contou com a colaboração de associados. O ano de 1995 teve particular significado na história da AESDA, uma vez que corresponde à data de edição do primeiro número do Trogle, o tão ambicionado meio de edição e divulgação dos trabalhos realizados no âmbito desta Associação. Mais uma vez, tal etapa só foi atingida graças à oportuna solicitude de uma empresa torreense, desta vez a Sogratol – Sociedade Gráfica Torreense. Na realidade, a reduzida formação académica de então dos jovens autores não os fez recuar face ao imperativo da publicação dos trabalhos, para que não se tornassem infrutíferos os esforços até aí despendidos. Esta primeira edição permitiu afastar as dúvidas ainda existentes, particularmente ao nível dos poderes públicos, sobre a capacidade de trabalho da AESDA.

De seguida, registou-se um notável avanço na topografia das minas de Valongo onde, em Outubro de 1999, se deu um acidente grave mas com final feliz (9). Verificou-se a continuidade da colaboração nos trabalhos arqueológicos no Algar do Bom Santo e prosseguiram as tarefas de inventariação, prospecção e desobstrução na Serra de Montejunto e no Planalto das Cesaredas. Só em 1998 se reuniram as condições para lançar o segundo número do boletim Trogle, com os resultados dos trabalhos realizados em Valongo, no Algar do Bom Santo e, extraído da gaveta dos primeiros trabalhos, o inventário das grutas dos Cucos.

Os tempos mais recentes

Com a entrada no novo milénio notou-se um incremento muito significativo nas pesquisas. Prosseguiram as expedições às minas romanas de Valongo. Tendo em mente a continuação do inventário e cadastro das grutas de Torres Vedras, iniciou-se um levantamento topográfico nas pequenas lapas da Maceira, as quais se revelaram afinal um espantoso labirinto com cerca de 900 metros de galerias anastomosadas. Tal situação motivou a preparação de um estudo mais abrangente que incidiu sobre as componentes geológicas e arqueológicas do local (8 e 10).

A dinâmica atingida neste período possibilitou a edição dos números três e quatro do Trogle, em regime anual (2001 e 2002). Nestas edições, a revista foi prestigiada com participações externas à Associação, nomeadamente um artigo sobre morcegos cavernícolas (11) e outro referente à célebre Gruta do Frade (4).

As actividades da AESDA nas grandes grutas do Maciço Calcário Estremenho remontam aos tempos da fundação mas davam-se de modo pontual e raramente com perspectivas de trabalho continuado. No século XXI, estas saídas de campo começaram a tornar-se mais frequentes e enquadradas em perspectivas mais ambiciosas. Foram desobstruídas diversas cavidades totalmente inexploradas, frequentemente com poços verticais de algumas dezenas de metros, em alguns casos com espólio paleontológico (trabalho ainda inédito). Em 2003, no decurso de uma visita de reconhecimento ao mais profundo algar conhecido em Portugal, o Algar da Manga Larga, realizou-se um levantamento fotográfico. Entre as imagens obtidas no interior da gruta, algumas mostram em detalhe uma ossada de carnívoro. A análise pormenorizada das imagens permitiu perceber que se trata de um grande felídeo, conferindo anatomicamente com o leopardo, espécie que, segundo tudo indica, desapareceu da Europa há mais de 10.000 anos. A AESDA tomou de imediato as medidas necessárias para salvaguardar os raros testemunhos e promover o seu estudo à luz da ciência. A evolução deste trabalho tem sido divulgada no meio espeleológico nacional e internacional.

As exposições subordinadas à Espeleologia e à fotografia subterrânea foram-se realizando regularmente ao longo da história da AESDA, em eventos como a Festa da Juventude (Instituto da Juventude), a Feira de S. Pedro (Torres Vedras) ou nas comemorações dos aniversários desta Associação. Em Novembro de 2003, na celebração do 11º aniversário, realizou-se um ciclo de palestras sobre os mais importantes trabalhos realizados, abrilhantado com uma exposição de fotografia subterrânea a que se deu o nome de: Modernos Trogloditas – uma década de explorações subterrâneas.

Os anos mais recentes denotam uma interrupção prolongada ao nível da edição do Trogle, cujo n.º 5 saiu apenas em 2007. Em contrapartida, a divulgação fez-se em eventos de Espeleologia nacionais e internacionais. A AESDA participou com três comunicações no 13º Congresso Internacional de Espeleologia, no Brasil (2001), e com uma comunicação sobre a ossada de leopardo do Algar da Manga Larga, no 14º Congresso Internacional de Espeleologia, na Grécia (2005). Ao nível nacional, este último trabalho foi sucessivamente apresentado no Espeleo Congresso 2003, no IV Congresso Nacional de Espeleologia e no já referido Ciclo de Palestras, juntamente com outros trabalhos.

O complexo cársico de Ibn Ammar, na foz do rio Arade, tem sido alvo dos mais recentes trabalhos de exploração, desobstrução e topografia. Este projecto marca uma importante expansão para sul da área geográfica de actuação da AESDA.

Um dos aspectos de maior relevância da actividade recente da AESDA tem a ver com os contactos inter-associativos entretanto estabelecidos. Têm-se realizado recentemente actividades de colaboração entre a AESDA e outras associações portuguesas de espeleologia.

Bibliografia citada:

1 - Duarte, Cidália (1998a) – Escavações arqueológicas no Algar do Bom Santo. Trogle, 2: 9-15.
2 - Duarte, Cidália (1998b) – Necrópole neolítica do Algar do Bom Santo (contexto cronológico e espaço funerário). Revista Portuguesa de Arqueologia, 1 (2): 107-118.
3 - Mendes, Luís F. (1996) – Further data on the Nicoletidae (Zygentoma), with description of a new species from Mauritius. Revue Suisse de Zoologie, 103 (3): 749-756.
4 - Mendes, José R. & Matos, Soraia, C.; NECA-Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (2002) – Gruta do Frade – o tesouro da Costa Azul, um monumento a preservar. Trole, 4: 22-29.
5 - Regala, F. Tátá (1994) – Jovens de Lisboa descobrem a Serra de Montejunto. Badaladas, 07 de Janeiro: 4, Torres Vedras.
6 - Regala, F. Tátá (1995) – Montejunto revela necrópole neolítica de importância mundial. Trogle, 1: 14-15.
7 - Regala, F. Tátá & Mergulho, Rui (1995) – Notícia da recolha de exemplares do Ixodes (Eschatocephalus) vespertilionis (Acarina, Ixodidae). Trogle,1:16-18.

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