quinta-feira, novembro 15, 2007

A fé que não tem coragem de se mostrar

Da revista on-line Crítica, dedicada à divulgação, ensino e investigação filosófica e dirigida pelo filósofo Desidério Murcho, publicamos o início de um artigo sobre criacionismo e ID:

O processo contra o "desígnio inteligente"
Jerry Coyne
Universidade de Chicago

Exactamente oitenta anos após o processo de Dayton, Tennessee, que ficou conhecido como o John Scopes "monkey trial", a história está prestes a repetir-se. Numa sala de audiências em Harrisburg, Pennsylvania, desde fins de Setembro cientistas e criacionistas travam uma luta para saber se e como os estudantes do liceu, em Dover, irão aprender a respeito da evolução biológica. Poder-se-ia presumir que estas batalhas tinham acabado mas isso seria subestimar o furor (e a ingenuidade) dos criacionistas escarnecidos.

O julgamento Scopes dos dias de hoje — Kitzmiller e outros contra Distrito Escolar da Zona de Dover e outros — começou de forma inócua. Na primavera de 2004, a comissão de revisão do manual escolar do distrito recomendou que um novo manual escolar comercial substituísse o obsoleto manual de biologia. Na reunião do conselho de instrução, em Junho, o presidente da comissão curricular, William Buckingham, queixou-se de que o livro proposto para revisão estava "estreitamente ligado ao Darwinismo". Depois de desafiar a audiência para que recuasse nas suas origens até ao macaco sugeriu que um manual mais apropriado deveria incluir a teoria bíblica da criação. Quando foi questionado sobre se isso poderia ofender aqueles que professassem outras crenças, Buckingham retorquiu: "Este país não foi fundado sobre as crenças muçulmanas ou sobre a evolução. Este país foi fundado a partir da Cristandade e os nossos estudantes devem ser ensinados como tal". Uma semana mais tarde, defendendo o seu ponto de vista, Buckingham alegadamente argumentou: "Há dois mil anos alguém morreu numa cruz. Será que ninguém pode defendê-lo?". E acrescentou: "Em lado algum a Constituição exige a separação entre a igreja e o estado".

Depois de um verão de discussões acaloradas mas inconclusivas, em 18 de Outubro de 2004 o conselho de instrução de Dover aprovou, por seis votos a favor e três contra, uma resolução que diz: "Os estudantes serão postos ao corrente dos problemas/lacunas existentes na teoria de Darwin bem como de outras teorias da evolução incluindo, mas não só, o desígnio inteligente. Nota: A Origem da Vida não é ensinada". Decorrido um mês, o distrito escolar de Dover emitiu uma nota de imprensa divulgando a forma como a alternativa do "desígnio inteligente" devia ser exposta. Antes de começar a ensinar a evolução, os professores de biologia teriam de ler aos seus alunos do nono ano uma declaração que incluísse as seguintes palavras:

Os Padrões Académicos da Pennsylvania exigem que os estudantes aprendam a Teoria da Evolução de Darwin e que, em tempo oportuno, se submetam a um teste estandardizado do qual a evolução faz parte.
Porque a Teoria de Darwin é uma teoria, continua a ser testada à medida que são descobertas novas evidências. A Teoria não é um facto. Na Teoria existem lacunas para as quais não há provas… O desígnio inteligente é uma explicação sobre a origem da vida que difere da perspectiva de Darwin. A obra de consulta, Of Pandas and People, é útil para que os estudantes vejam se gostariam de explorar esta perspectiva num esforço para alcançar uma compreensão do que implica, de facto, o desígnio inteligente. Tal como acontece com qualquer teoria, os estudantes são encorajados a manter o espírito aberto.

Embora previsíveis, os resultados foram dramáticos. Dois membros do conselho de instrução demitiram-se. Os oito professores de ciências do Liceu de Dover enviaram uma carta ao inspector escolar salientando que "o desígnio inteligente não é ciência. Não é biologia. Não é uma teoria científica aceite". Os professores de biologia pediram para serem dispensados de ler a declaração, alegando que fazê-lo significaria "deturpar, com conhecimento e intencionalmente, as matérias ou o curriculum", uma violação das normas do seu código profissional. E assim, em Janeiro deste ano, todas as turmas de biologia do nono ano foram visitadas pelo próprio inspector auxiliar, que leu o aviso obrigatório enquanto os professores e alguns alunos abandonaram a sala.

Para ler o resto texto (que é fantástico) clicar AQUI.

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