domingo, março 27, 2011

Acabar com a mentira também nos media

Nas próximas semanas vale a pena ler e reler  este artigo do Eduardo Cintra Torres:  ”António Barreto e outros comentadores disseram nos canais de notícias, nas horas seguintes ao pedido de demissão de Sócrates, que a próxima campanha eleitoral não poderá decorrer sob o signo da mentira. Que o Banco de Portugal e os responsáveis que ainda mantêm o valor da verdade devem revelar-nos o estado efectivo da economia.

Nenhum cidadão sério poderá discordar. Vivemos seis anos (e não apenas desde 2009) debaixo de uma blitzkrieg de mentira, com constantes ataques à verdade e aos verdadeiros, com bombardeamentos de falsidades e de balas de açúcar de promessas impossíveis em palcos de performance política e inaugurações repetidas. Não vale a pena fingirmos que estivemos todos alerta, porque a propaganda é eficaz e muitos poderão ter perdido o passo, sem saberem já o que é a verdade, o que é viver com ela na vida pública e no espaço público.

Agora que parece aproximar-se o fim de seis anos de Carnaval da Mentira, espera-se mais contenção no discurso político. Mas para isso terá de tomar-se em conta o papel fulcral dos órgãos de informação.

Se diversos comentadores e se as redacções se esforçam hoje por noticiar com verdade a situação económica, é preciso recordar que não foi sempre assim. Muitos, mas mesmos muitos, dos que agora criticam o governo são exactamente os mesmos que andaram com ele ao colo durante os cinco primeiros anos da governação socretista. Incensaram Sócrates como o melhor primeiro-ministro do mundo, elevaram aos píncaros as suas políticas. Criticaram ou até enxovalharam (como fizeram a Manuela Ferreira Leite) quem chamava a atenção para a mentira. Promoveram (como o Diário de Notícias no caso dos emails) actos de pura desinformação e campanha negra. Durante anos, alguns que agora parecem pitonisas em previsões de tragédia, recusaram-se a criticar, calaram-se, outros tiveram medo do governo, da sua violência verbal e das suas pressões. A central de propaganda e Sócrates fizeram o que quiseram deles. Alguns comentadores da área económico-financeira só começaram a criticar as políticas do governo depois de os grupos financeiros se terem virado contra ele, nunca antes. São poucos os comentadores, como Barreto, que sempre falaram não só de acordo com a sua consciência — a sua verdade interior — mas também de acordo com os factos conhecidos.

Alguns espaços de maior liberdade, de notícias e comentários verdadeiros, desapareceram por acção de blitzkrieg do governo, como o Jornal Nacional de 6ª ou os comentários avulsos de Paulo Pinto de Albuquerque na RTP. Outros desapareceram como por encanto, caso de Plano Inclinado, na SICN, ou um bom frente-a-frente que houve em tempos na RTPN, com Manuel Villaverde Cabral e Joaquim Aguiar. Mas o lixo comentatório, como O Eixo do Mal, ou Pedro Marques Lopes, ou Luís Delgado, ou os politólogos que sintonizam a sua ciência política com a onda política, isso permanece sempre.

Por isso, o apelo aos responsáveis políticos para que nos digam a verdade sobre a situação económico-financeira de Portugal deve estender-se aos meios de informação, às televisões, para que não tenham medo de dizer a verdade e moderem a verborreia dos tudólogos que não esclarecem nada, antes confundem ainda mais, acrescentando um zumbido de vespeiro ao furacão da propaganda. Os jornalistas e os comentadores devem procurar a verdade e não escondê-la, como fizeram tantos durante meia dúzia de anos, traindo o contrato ético com os seus leitores, ouvintes ou espectadores.

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