terça-feira, junho 21, 2011

Hoje, com a tomada de posse de um novo governo...

 (imagem daqui)



... há que recordar o que anterior fez. Pois faça-mo-lo recorrendo à Poesia:


Nesta hora


Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade


Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida


O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe


A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados


Não basta gritar povo
É preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar


Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão


Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -


Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste.


in O nome das coisas - Sophia de Mello Breyner Andresen

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