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quarta-feira, março 06, 2024

Tomás de Aquino morreu há 750 anos

  
Tomás de Aquino
(Roccasecca, 1225 - Fossanova, 7 de março de 1274) foi um padre dominicano, filósofo, teólogo, distinto expoente da escolástica, proclamado santo e Doutor da Igreja Católica, cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica.
O seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na Escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Nas suas duas summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: a Summa theologiae e a Summa contra gentiles. A partir dele, a Igreja tem uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. Explica que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus, o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a privação ou ausência do bem. Além da sua Teologia e da Filosofia, desenvolveu também uma teoria do conhecimento e uma Antropologia, deixou também escrito conselhos políticos: Do governo do Príncipe, ao rei de Chipre, que se contrapõe, do ponto de vista da ética, ao O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.
     
        

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Spinoza morreu há 347 anos...

Bento Espinosa: Amesterdão, 24.11.1632 - Haia, 21.02.1677 (imagem daqui)
 
 
Homenagem a Spinoza
 
Lentes poliu para de Holanda os míopes
que delas precisavam para a escrita
comercial do açúcar e saborearem
os cantos delicados das pinturas.
Judeu sem sinagoga e sem península
ibérica de avós, moral geómetra
os ângulos mediu aos teoremas
da vida humana em lentes tão convexas
que até o latim lhe é como hebraico morto.
E sem de deus teólogo traçou
as linhas da cidade constituída
segundo as leis dos anjos da razão.
E Bento se chamava este coitado
da suma gentileza de existir-se
e de pensar-se em glória a paciência triste
de polir lentes sem ter deus nem pátria.
Mas só assim é que os cristais flamejam
em pura transparência apavorada.


     
  

in Exorcismos (1972) - Jorge de Sena

O filósofo Schopenhauer nasceu há 236 anos


Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 - Frankfurt, 21 de setembro de 1860) foi um filósofo alemão do século XIX. Ele é mais conhecido pela sua obra principal "O Mundo como Vontade e Representação" (1819), em que caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica. A partir do idealismo transcendental de Immanuel Kant, Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Foi fortemente influenciado pela leitura das Upanixades, que foram traduzidas, pela primeira vez, para o latim, por Abraham Hyacinthe Anquetil-Duperron, no início do século XIX.

 

segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Ernst Mach morreu há 108 anos

   
Ernst Waldfried Josef Wenzel Mach (Brno, 18 de fevereiro de 1838 - Vaterstetten, 19 de fevereiro de 1916) foi um físico e filósofo austríaco.
De 1864 a 1867 foi professor de matemática em Graz. Depois (1867-1895) lecionou Física na Universidade de Praga, onde se opôs à introdução da língua checa como idioma oficial na mesma universidade, alinhando com os partidários do domínio alemão na região. De 1895 a 1901 foi o titular da cadeira de história e teoria da ciência indutiva na Universidade de Viena. Em 1901, após abandonar o ensino, foi nomeado membro da Câmara dos Pares pelo Imperador da Áustria.
As suas obras filosóficas e científicas exerceram profunda influência no pensamento do século XX. Os seus primeiros livros contêm os fundamentos de uma nova teoria filosófica, o empirocriticismo. Defendeu uma conceção positivista: nenhuma proposição das ciências naturais é admissível se não for possível verificá-la empiricamente.
Ficou bastante conhecido pelo número de Mach, as bandas de Mach, o seu livro "A ciência da mecânica" e os seus trabalhos em filosofia da física.

domingo, fevereiro 18, 2024

Ernst Mach nasceu há 186 anos

   
Ernst Waldfried Josef Wenzel Mach (Brno, 18 de fevereiro de 1838 - Vaterstetten, 19 de fevereiro de 1916) foi um físico e filósofo austríaco.
  
(...)
  
Ficou bastante conhecido pelo número de Mach, as bandas de Mach, o seu livro "A ciência da mecânica" e os seus trabalhos em filosofia da física.
     
Um F/A-18 Hornet após quebrar a barreira do som - Mach 1
   

sábado, fevereiro 17, 2024

Giordano Bruno foi executado há 424 anos...

 

Giordano Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 1548 - Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e ex-frade dominicano italiano, condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) por heresia ao defender erros teológicos, mas não pela defesa do heliocentrismo de Copérnico. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano.

        
  (...)
    
Prisão, julgamento e execução
Em Roma, o julgamento de Bruno durou oito anos, durante os quais ele foi preso, por último, na Torre de Nola. Alguns documentos importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas outros foram preservados e entre eles um resumo do processo, que foi redescoberto em 1999. As numerosas acusações contra Bruno, com base em alguns de seus livros, bem como em relatos de testemunhas, incluíam blasfémia, conduta imoral e heresia em matéria de teologia dogmática e envolvia algumas das doutrinas básicas da sua filosofia e cosmologia. Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno pela Inquisição Romana:
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica e contestar os seus ministros;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a transubstanciação quanto a Missa;
  • reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades;
  • acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos;
  • envolvimento com magia e adivinhação.
  
Giovanni Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a pretexto de lhe ensinar mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo Will Durant Bruno estava havia muitos anos na lista dos procurados pela Inquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de Bruno ensinamentos de ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar os seus concorrentes e inimigos, segundo outros, Bruno negou-se a ensiná-lo. Segundo Durant, Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com "as heresias que o loquaz e incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou o seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para o levarem preso, acusado de heresia. Bruno foi transferido para o cárcere do Santo Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.
No último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício, não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno teria respondido com um desafio: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").
A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na ocasião teve a voz calada por um objeto de madeira posto na sua boca.
     
Monumento erguido, em 1889, por maçons italianos, no local onde Giordano Bruno foi executado
     

terça-feira, fevereiro 13, 2024

Agostinho da Silva nasceu há 118 anos...

    
George Agostinho Baptista da Silva (Porto, 13 de fevereiro de 1906 - Lisboa, 3 de abril de 1994) foi um filósofo, poeta, ensaísta, professor, filólogo, pedagogo e tradutor português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático empenhado, através da sua vida e obra, na mudança da sociedade. Passou considerável tempo de sua vida no Brasil.

 

quarta-feira, janeiro 24, 2024

António Sérgio morreu há 55 anos...

   

António Sérgio de Sousa Júnior (Damão, 3 de setembro de 1883Lisboa, 24 de janeiro de 1969) foi um pensador, pedagogo e político português. Existe uma escola secundária com o seu nome em Vila Nova de Gaia

   

Biografia

António Sérgio nasceu na Índia Portuguesa e viveu parte da infância em África. Já em Lisboa, seguindo uma linhagem de familiares militares, estudou no Colégio Militar e depois na Escola Politécnica e na Escola Naval. Cedo sentiu grande interesse pela poesia e pela filosofia, devendo-se o seu precoce pendor racionalista à leitura da Ética de Espinosa, ao estudo da geometria analítica e ao interesse pela obra de Antero de Quental.

Iniciando uma carreira de oficial da Marinha, fez várias viagens que o levaram a Cabo Verde e a Macau. Abandonou a Marinha com a implantação da República em 1910, por ter jurado fidelidade ao Rei deposto.

Casou com Luísa Epifâneo da Silva (que assinou escritos pedagógicos como Luísa Sérgio), com quem teve uma grande camaradagem intelectual. As suas duas primeiras obras publicadas foram um volume de Rimas e uma obra filosófica sobre Antero de Quental onde reagiu contra o naturalismo positivista.

Em 1912 concorreu para lente assistente da secção de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, num concurso a que também se apresentaram Leonardo Coimbra e Matos Romão, que haveria de ser nomeado.

Após estudos de pós-graduação no Instituto Jean-Jacques Rousseau (1914-16), grande centro mundial do movimento da Escola Nova, onde estudou com a sua mulher, e onde privou com Édouard Claparède e com Adolphe Ferrière, participou no mais consequente projeto de reforma do Ensino Português elaborado durante a Primeira República (Projecto Camoesas).

A sua vida aventurosa fê-lo viver em diversos lugares (Lisboa, Rio de Janeiro, Londres, Genebra, Paris, Santiago de Compostela, Madrid) o que favoreceu o seu assumido cosmopolitismo.

Durante o consulado sidonista (1918-19), lança a revista Pela Grei (1918-1919), para a qual convoca diversos especialistas para apresentar um programa de Fomento Nacional (tendo a parte económica sido bastante trabalhada por Ezequiel de Campos); nos anos 20 integra a direção da Seara Nova (junto com Raul Proença e Jaime Cortesão) e é nesse quadro que vem a integrar o governo de Álvaro de Castro (1923), assumindo a pasta da Educação, com o principal propósito de criar uma Junta de Ampliação de Estudos, organismo autónomo que enviaria sistematicamente bolseiros ao estrangeiro para estudar, e que financiaria institutos de investigação e escolas modernas (o projeto foi executado, sem a componente pedagógica e sem o espírito democrático que inspirava Sérgio, em 1929, com a criação da Junta de Educação Nacional, antepassado do Instituto de Alta Cultura, do INIC e da FCT).

Com o fim da Primeira República, vê-se obrigado ao exílio, residindo em Paris de 1926 até 1933.

De volta ao solo pátrio, tornou-se um dos principais nomes do movimento cooperativista e do socialismo democrático; entre os seus companheiros de luta contaram-se Alves Correia, Mário Azevedo Gomes, José Régio, Bento de Jesus Caraça (com quem travou uma polémica sobre a interpretação de Platão, cerca de 1945, onde a tensão entre marxismo e proudhonismo e idealismo racionalista está implícita), Manuel Antunes e muitos outros vultos da cultura portuguesa. A importância das suas ligações políticas nota-se perfeitamente nessa época. Sérgio fez parte do Movimento de Unidade Democrática, juntamente com nomes como Alves Redol, o General Norton de Matos, Ruy Luís Gomes e Bento de Jesus Caraça (oposicionistas e excecionais matemáticos), Irene Lisboa, Fernando Lopes Graça, Ferreira de Castro, Abel Salazar, Miguel Torga, Maria Lamas, Pulido Valente, Vitorino Magalhães Godinho, Mário Dionísio e Francisco Salgado Zenha (à data ainda estudante) e muitos outros.

Apoiou a candidatura de Humberto Delgado e desenvolveu ampla campanha em prol da cultura.

A partir de 1959, abandonou a intervenção cívica ativa e a pena de escritor. O desalento que o acometeu depois da derrota de Delgado e a prisão a que foi torpemente submetido, em novembro de 1958, aos 75 anos, terão sido o principal motivo. A morte da mulher, em fevereiro de 1960, veio ainda agravar mais o seu estado depressivo. Passou a viver amparado pela sobrinha materna e sua família. Veio a falecer no Hospital da Cruz Vermelha, pelas 19.30 de 24 de janeiro de 1969.

O seu nome perdura na toponímia portuguesa, em nomes de arruamentos. Em Campo Maior (Portugal) existe inclusivamente um busto de António Sérgio na Avenida que também tem o seu nome.

Foi agraciado, a título póstumo, com os graus de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade (30 de junho de 1980) e de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (3 de agosto de 1983).

 

Pensamento

António Sérgio, muito influenciado pelo socialismo de Proudhon por via de Antero, não considerava a questão república/monarquia importante por julgar a questão social (melhoria das condições de vida das classes trabalhadoras) mais fundamental que a revolução política.

A sua ação e pensamento, inicialmente inspirados por figuras como Alexandre Herculano, Oliveira Martins e Antero de Quental, foi marcadamente voltada para a reforma das mentalidades, para a compreensão histórico-sociológica de Portugal e para a problemática da educação; defendeu o modelo da escola-município, baseado no ideal de self-government e de educação cívica.

O seu pensamento inscreve-se numa constelação de pensadores cosmopolitas de pendor voluntarista seus contemporâneos, defensores da democracia e de ideais socialistas, entre os quais se contam John Dewey, Guglielmo Ferrero, Ramsay MacDonald e Georg Kerschensteiner.

A sua interpretação da história de Portugal, que foi amadurecendo em textos publicados entre 1913 e 1924, valorizou os fatores sócio-económicos (as duas políticas nacionais: transporte e fixação) e de psicologia social (dicotomia ideal-típica entre particularismo e comunarismo, originária da corrente sociológica francesa do grupo de La Science Sociale, onde se destacaram Edmond Desmolins, autor de À quoi tient la supériorité des anglo-saxons, e Léon Poinsard, que veio estudar Portugal a convite de D. Manuel II, de que resultou a obra Le Portugal Inconnu, publicada em 1909); António Sérgio criticou as histórias românticas que enalteciam os feitos guerreiros e a aventura norte-africana de D. Sebastião, esquecendo a pesada herança do nosso colonialismo.

Durante a década de 10, a sua intervenção foi enquadrada pelo movimento cultural da Renascença Portuguesa (onde pontificavam Teixeira de Pascoaes e Jaime Cortesão), movimento que Sérgio sempre considerou de natureza plural, por isso se opondo à ideia de que o saudosismo de Pascoaes, cujo valor restringia ao plano estético, poderia servir de farol para a solução do problema nacional; pelo contrário denunciou a mania da purificação e o parasitismo que nos inquinava desde os descobrimentos, enaltecendo o papel dos estrangeirados reformistas e dos que se inspiravam de corrente liberais cosmopolitas (Luís António Verney, Ribeiro Sanches e depois Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Mouzinho de Albuquerque, Antero de Quental, Oliveira Martins).

No plano político, Sérgio considerou prioritária a constituição de uma opinião pública e de uma elite, recrutada sobre a base social mais ampla, a qual fiscalizaria os representantes eleitos - esta seria uma condição fundamental para uma democracia efetiva, a qual, na aceção filosófica, equivaleria ao regime em que todo o ser humano estivesse investido da dignidade que resulta de o considerar sempre como fim em si e nunca como meio (Kant); por isso teorizou sobre a noção de elite, para o que se inspirou em Proudhon, Gabriel Tarde e Paul de Roussiers.

Durante a residência em Paris de 1926 até 1933, tornou-se amigo de Paul Langevin, frequentando os cenáculos racionalistas onde Léon Brunschvicg era figura maior. Continuou entretanto a publicar os seus Ensaios, onde os temas literários, históricos e filosóficos eram dominantes, sempre apresentados numa perspetiva pedagógica e crítica (que se manteve fiel às intuições maiores dos seus anos de formação) e a lutar pelo retorno de Portugal à democracia.

Nos anos 50 rodeou-se de um grupo de jovens estudantes de ciências (entre os quais se contou João Luís Andrade e Silva, discípulo de Louis de Broglie, que a voltar de Paris iniciou de modo consequente o ensino superior da História das ideias científicas), para os quais escreveu as Cartas de Problemática.

Para os seus detratores (bergsonistas, nacionalistas de feição romântica ou integralista, marxistas-leninistas), o seu pensamento foi essencialmente polémico e datado; não obstante, o seu pensamento continuou a despertar vocações em gente das ciências sociais e exatas, que não se reclamando seus discípulos sentem ser decisiva a sua inspiração.

"O desenvolvimento do capitalismo português, na sua unidade fundamental e na diversidade das suas orientações, não determinou entre nós um alto desenvolvimento das forças produtivas. O sistema escolar português não ultrapassou, por isso mesmo, os limites dos estreitos interesses económicos e culturais da burguesia. Nunca se alcançou a democratização real da Educação e da Instrução."

     

segunda-feira, janeiro 22, 2024

Francis Bacon nasceu há 463 anos


Francis Bacon, 1° Visconde de Saint Alban, também referido como Bacon de Verulâmio (Londres, 22 de janeiro de 1561 - Londres, 9 de abril de 1626) foi um político, filósofo, cientista, ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio) e visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência moderna.

Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Em 1584 foi eleito para a câmara dos comuns.

Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano, foi nomeado barão de Verulam e, em 1621, barão de Saint Alban. Também em 1621, Bacon foi acusado de corrupção. Condenado ao pagamento de pesada multa, foi também proibido de exercer cargos públicos.

Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo, sendo muitas vezes chamado de "fundador da ciência moderna".
    

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Montesquieu nasceu há 335 anos

    
Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu (castelo de La Brède, próximo de Bordéus, 18 de janeiro de 1689 - Paris, 10 de fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, inclusive a constituição brasileira.

Aristocrata, filho de família nobre, nasceu no dia 18 de janeiro de 1689. Logo cedo teve formação iluminista com padres oratorianos. Revelou-se um crítico severo e irónico da monarquia absoluta, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas também frequentou em Paris os círculos da boémia literária. Em 1714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1716 a 1726. Fez longas viagens pela Europa e, de 1729 a 1731, esteve na Inglaterra.

Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como Cartas persas (1721), Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis (1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia, juntamente com Diderot e D'Alembert

  



domingo, dezembro 31, 2023

Porque hoje é dia de recordar um Poeta...

Unamuno visto por Ramon Casas (imagem daqui)
    
      
Unamuno
 
 
D. Miguel…
Fazia pombas brancas de papel
Que voavam da Ibéria ao fim do mundo…
Unamuno Terceiro!
(Foi o Cid o primeiro,
D. Quixote o segundo.)

Amante duma outra Dulcineia,
Ilusória, também
(Pátria, mãe,
Ideia
E namorada),
Era seu defensor quando ninguém
Lhe defendia a honra ameaçada!

Chamado pelo aceno da miragem,
Deixava o Escorial onde vivia,
E subia, subia,
A requestar na carne da paisagem
A alma que, zeloso, protegia.

Depois, correspondido,
Voltava à cela desse nosso lar
Por Filipe Segundo construído
Com granito da fé peninsular.

E falava com Deus em castelhano.
Contava-lhe a patética agonia
Dum espírito católico, romano,
Dentro dum corpo quente de heresia.

Até que a madrugada o acordava
Da noite tumular.
E lá ia de novo o cavaleiro andante
Desafiar
Cada torvo gigante
Que impedia o delírio de passar.

Unamuno Terceiro!
Morreu louco.
O seu amor, por ser demais, foi pouco
Para rasgar o ventre da Donzela.
D. Miguel…
Fazia pombas brancas de papel,
E guardava a mais pura na lapela.


in
Poemas Ibéricos (1965) - Miguel Torga

quinta-feira, dezembro 07, 2023

Noam Chomsky faz hoje 95 anos

 
Avram Noam Chomsky
(Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo e ativista político dos Estados Unidos, professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O seu nome está associado à criação da gramática ge(ne)rativa transformacional. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, sendo o seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky.
Os seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenómenos da linguagem com uma crítica do behaviorismo, nos quais a linguagem é conceptualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para a formação da psicologia cognitiva, no domínio das ciências humanas.
Além da sua investigação e ensino no âmbito da linguística, Chomsky é também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica à política externa dos Estados Unidos. Chomsky descreve-se como um socialista libertário, havendo quem o associe ao anarco-sindicalismo.
O termo chomskiano é habitualmente usado para identificar as suas ideias linguísticas embora o próprio considere que esses tipos de classificações (chomskiano, marxista, freudiano) "não fazem sentido em nenhuma ciência", e que "pertencem à história da religião, enquanto organização".
      

sexta-feira, novembro 24, 2023

Baruch de Espinoza nasceu há 391 anos...

   
Baruch de Espinoza (Amesterdão, 24 de novembro de 1632 - Haia, 21 de fevereiro de 1677) foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amesterdão, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
  

 


Homenagem a Spinoza

 

Lentes poliu para de Holanda os míopes
que delas precisavam para a escrita
comercial do açúcar e saborearem
os cantos delicados das pinturas.
Judeu sem sinagoga e sem península
ibérica de avós, moral geómetra
os ângulos mediu aos teoremas
da vida humana em lentes tão convexas
que até o latim lhe é como hebraico morto.
E sem de deus teólogo traçou
as linhas da cidade constituída
segundo as leis dos anjos da razão.
E Bento se chamava este coitado
da suma gentileza de existir-se
e de pensar-se em glória a paciência triste
de polir lentes sem ter deus nem pátria.
Mas só assim é que os cristais flamejam
em pura transparência apavorada.

 

Jorge de Sena

terça-feira, novembro 21, 2023

Voltaire nasceu há 329 anos

Voltaire, com 28 anos, por Nicolas de Largillière
       
François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 - Paris, 30 de maio de 1778), foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.
Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio. É uma dentre muitas figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana. Escritor prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfletos.
Foi um defensor aberto da reforma social apesar das rígidas leis de censura e severas punições para quem as quebrasse. Um polemista satírico, ele frequentemente usou as suas obras para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu tempo. Voltaire é o patriarca de Ferney. Ficou conhecido por dirigir duras críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra. Durante os três anos em que permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias políticas de John Locke.
      

terça-feira, novembro 14, 2023

Leibniz morreu há 307 anos


Gottfried Wilhelm Leibniz (Leipzig, 1 de julho de 1646 - Hanôver, 14 de novembro de 1716) foi um proeminente polímata e filósofo alemão e figura central na história da matemática e na história da filosofia. A sua realização mais notável foi conceber as ideias de cálculo diferencial e integral, independentemente dos desenvolvimentos contemporâneos de Isaac Newton. Trabalhos matemáticos sempre favoreceram a notação de Leibniz como a expressão convencional do cálculo, enquanto a notação de Newton ficou sem uso. Foi apenas no século XX que a lei de continuidade e a lei transcendental da homogeneidade de Leibniz encontraram implementação matemática (por meio da análise não padronizada). Ele tornou-se um dos inventores mais prolíficos no campo das calculadoras mecânicas, trabalhando para adicionar a multiplicação automática e a divisão à calculadora de Pascal e foi o primeiro a descrever uma calculadora cata-vento em 1685, além de inventar a roda de Leibniz, usada no aritmómetro - a primeira calculadora mecânica produzida em massa. Ele também refinou o sistema de números binários que se tornaria a base de trabalho de todos os computadores digitais. 

Em filosofia, Leibniz é mais conhecido por seu otimismo, por sua conclusão de que nosso universo é, num sentido restrito, o melhor de todos os mundos possíveis que Deus poderia ter criado. Essa ideia muitas vezes foi satirizada por outros filósofos, como Voltaire. Leibniz, juntamente com René Descartes e Baruch Spinoza, foi um dos três grandes defensores do racionalismo no século XVII. O trabalho de Leibniz antecipou a lógica moderna e a filosofia analítica, mas sua filosofia também remete para a tradição escolástica, na qual as conclusões são produzidas aplicando-se a razão aos primeiros princípios ou definições anteriores, e não à evidências empíricas.

Leibniz teve importantes contribuições para a física e para a tecnologia e antecipou noções que surgiram muito mais tarde na filosofia, na teoria das probabilidades, na biologia, na medicina, na geologia, na psicologia, na linguística e na informática. Ele escreveu obras sobre filosofia, política, direito, ética, teologia, história e filologia. Leibniz também contribuiu para o campo da biblioteconomia. Enquanto servia como superintendente da biblioteca Wolfenbüttel na Alemanha, ele desenvolveu um sistema de catalogação que serviria de guia para muitas das maiores bibliotecas da Europa. As contribuições de Leibniz para esta vasta gama de assuntos foram espalhadas em várias revistas científicas, em dezenas de milhares de cartas e em manuscritos inéditos.

   

segunda-feira, novembro 13, 2023

Santo Agostinho nasceu há 1669 anos

Agostinho num afresco de Botticelli
      
Aurélio Agostinho (em latim: Aurelius Augustinus), dito de Hipona, conhecido como Santo Agostinho (Tagaste, 13 de novembro de 354 - Hipona, 28 de agosto de 430), foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo e é um padre latino e Doutor da Igreja Católica.
Agostinho é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo de Plotino, mas, depois de tornar-se cristão (387), ele desenvolveu a sua própria abordagem sobre filosofia e teologia e uma variedade de métodos e perspetivas diferentes. Ele aprofundou o conceito de pecado original dos padres anteriores e, quando o Império Romano do Ocidente começou a se desintegrar, desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus (num livro com o mesmo nome), distinta da cidade material do homem. O seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval. A Igreja se identificou com o conceito de "Cidade de Deus" de Agostinho, e também a comunidade que era devota de Deus.
Na Igreja Católica, e na Igreja Anglicana, é considerado um santo e um importante Doutor da Igreja, e o patrono da ordem religiosa agostiniana. Muitos protestantes, especialmente os calvinistas, mas também os luteranos (basta recordar que Martinho Lutero era inicialmente um sacerdote católico agostiniano), consideram-no como um dos pais teólogos da Reforma Protestante, ensinando a salvação e a graça divina.
Na Igreja Ortodoxa Oriental é louvado e o seu dia festivo é celebrado a 15 de junho, apesar de uma minoria ser da opinião que ele é um herege, principalmente por causa de suas mensagens sobre o que se tornou conhecido como a cláusula filioque. Entre os ortodoxos é chamado de "Agostinho Abençoado", ou "Santo Agostinho o Abençoado".
     

sexta-feira, setembro 29, 2023

Poema de aniversariante de hoje...

  
Castilla


Tú me levantas, tierra de Castilla,
en la rugosa palma de tu mano,
al cielo que te enciende y te refresca,
al cielo, tu amo,

Tierra nervuda, enjuta, despejada,
madre de corazones y de brazos,
toma el presente en ti viejos colores
del noble antaño.

Con la pradera cóncava del cielo
lindan en torno tus desnudos campos,
tiene en ti cuna el sol y en ti sepulcro
y en ti santuario.

Es todo cima tu extensión redonda
y en ti me siento al cielo levantado,
aire de cumbre es el que se respira
aquí, en tus páramos.

¡Ara gigante, tierra castellana,
a ese tu aire soltaré mis cantos,
si te son dignos bajarán al mundo
desde lo alto!

   

    

Miguel de Unamuno

Miguel de Unamuno nasceu há 159 anos

       
Miguel de Unamuno y Jugo (Bilbau, 29 de setembro de 1864Salamanca, 31 de dezembro de 1936) foi um ensaísta, romancista, dramaturgo, poeta e filósofo espanhol. Foi também deputado entre 1931 a 1933 pela região de Salamanca. É o principal representante espanhol do existencialismo cristão, sendo conhecido principalmente por sua obra O sentimento trágico da vida, que lhe valeu a condenação do Santo Ofício. Tendo apoiado inicialmente o franquismo, passaria os seus últimos dias de vida em prisão domiciliária, por se opor aos excessos deste.
      

 

 


Unamuno visto por Ramon Casas (imagem daqui)
  
    
Unamuno
 
 
D. Miguel…
Fazia pombas brancas de papel
Que voavam da Ibéria ao fim do mundo…
Unamuno Terceiro!
(Foi o Cid o primeiro,
D. Quixote o segundo.)

Amante duma outra Dulcineia,
Ilusória, também
(Pátria, mãe,
Ideia
E namorada),
Era seu defensor quando ninguém
Lhe defendia a honra ameaçada!

Chamado pelo aceno da miragem,
Deixava o Escorial onde vivia,
E subia, subia,
A requestar na carne da paisagem
A alma que, zeloso, protegia.

Depois, correspondido,
Voltava à cela desse nosso lar
Por Filipe Segundo construído
Com granito da fé peninsular.

E falava com Deus em castelhano.
Contava-lhe a patética agonia
Dum espírito católico, romano,
Dentro dum corpo quente de heresia.

Até que a madrugada o acordava
Da noite tumular.
E lá ia de novo o cavaleiro andante
Desafiar
Cada torvo gigante
Que impedia o delírio de passar.

Unamuno Terceiro!
Morreu louco.
O seu amor, por ser demais, foi pouco
Para rasgar o ventre da Donzela.
D. Miguel…
Fazia pombas brancas de papel,
E guardava a mais pura na lapela.



in
Poemas Ibéricos (1965) - Miguel Torga

quarta-feira, setembro 13, 2023

João XXI foi eleito Papa há 747 anos

      

João XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, (Lisboa, 1215 - Viterbo, 20 de maio de 1277) foi Papa desde 20 de setembro de 1276 até à data da sua morte, tendo sido também um famoso médico, filósofo, teólogo, professor e matemático português do século XIII.

Adoptou sucessivamente os nomes de Pedro Julião como nome de batismo, Pedro Hispano como académico e João XXI como pontífice.

Alguns autores indicam como data de nascimento o ano de 1205, outros que foi antes de 1210, possivelmente em 1205 ou 1207 e outros ainda entre 1210 e 1220.
 
A eleição de Pedro Julião, em conclave realizado em Viterbo, após a morte do Papa Adriano V, a 18 de agosto de 1276, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Papa a 13 de setembro e coroado a 20 de setembro de 1276, e adota o nome de João XXI.
 
Pedro Julião, ou Pedro Hispano, nasce em Lisboa, no então Reino de Portugal, provavelmente na que é a atual freguesia de São Julião, em data não conhecida, mas seguramente antes de 1226, filho de Julião Rebelo, médico, cuja profissão segue, e de Teresa Gil (embora Luís Ribeiro Soares defenda que possa ter sido filho do chanceler de D. Sancho I, Mestre Julião Pais).
Começou os seus estudos na escola episcopal da catedral de Lisboa, tendo mais tarde estudado na Universidade de Paris (alguns historiadores afirmam que terá sido na Universidade de Montpellier) com mestres notáveis, como São Alberto Magno, e tendo por condiscípulos São Tomás de Aquino e São Boaventura, grandes nomes do cristianismo. Lá estuda medicina e teologia, dedicando especial atenção a palestras de dialética, lógica e sobretudo a física e metafísica de Aristóteles.
Entre 1246 e 1252 ensinou medicina na Universidade de Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a Europa, traduzido para grego e hebraico.
Prova da sua vastíssima cultura científica encontra-se na obra De oculo, um tratado de Oftalmologia, que conhece ampla difusão nas universidades europeias. Quando Miguel Ângelo adoece gravemente dos olhos, devido ao árduo labor consumido na decoração da Capela Sistina, encontra remédio numa receita de Pedro Julião. De sua autoria, o ‘Thesaurus Pauperum’ (Tesouro dos pobres), em que trata de várias doenças e suas curas, com cerca de uma centena de edições e traduzido para 12 línguas.
Já no domínio da Teologia, é autor de Comentários ao pseudo-Dionísio e Scientia libri de anima. Encontra-se por publicar a obra De tuenda valetudine, manuscrita em Paris, dedicada a Branca de Castela, esposa do rei Luís VIII de França, filha de Afonso IX de Castela.
Antes de 1261, ano em que é eleito decano da Sé de Lisboa, Pedro Julião ingressa no sacerdócio. O rei Afonso III de Portugal confia-lhe o priorado da Igreja de Santo André (Mafra) em 1263, posto o que é elevado a cónego e deão da Sé de Lisboa, Tesoureiro-mor na Sé do Porto e Dom Prior na Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.

Após a morte de Dom Martinho Geraldes, Pedro Julião é nomeado Arcebispo de Braga pelo Papa Gregório X, em 1273. Um ano depois, participa no XIV Concílio Ecuménico de Lião, altura em que Gregório X o eleva a Cardeal-bispo com o título de Tusculum-Frascati, da Diocese suburbicária de Frascati, o que permite ao pontífice poder contar com os serviços médicos do sábio português. Regressa ao Arcebispado de Braga, até ser nomeado o sucessor, Dom Sancho. De volta à corte pontifícia, Gregório X nomeia-o seu médico principal (arquiathros) em 1275.
A eleição de Pedro Julião, em conclave realizado em Viterbo, após a morte do Papa Adriano V, a 18 de agosto de 1276, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Papa a 13 de setembro e coroado a 20 de setembro de 1276, e adota o nome de João XXI.


Brasão de armas do Papa João XXI
 
João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lião. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera.
Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos.
Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Alemanha e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso.
Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa ‘Divina Comédia’, coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de "aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português. O rei aragonês Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de D. Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista físico e naturalista'.
Mais dado ao estudo que às tarefas pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de Viterbo, onde morre a 20 de maio de 1277, com 51 anos, vitimado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento, estando o palácio apostólico em obras. É sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade. No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados para modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares, então seu presidente, o mausoléu é colocado, a título definitivo, ao lado do Evangelho de Catedral de Viterbo, a 28 de março de 2000