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sexta-feira, dezembro 29, 2023

Joaquim Namorado morreu há trinta e sete anos...

(imagem daqui)


Joaquim Vitorino Namorado (Alter do Chão, Alter do Chão, 30 de junho de 1914 - Coimbra, 29 de dezembro de 1986), foi um poeta português
 
Biografia

Frequenta de 1924 a 1929 o curso geral no Liceu Mouzinho de Albuquerque em Portalegre, concluindo o curso complementar em Coimbra, no Liceu José Falcão, que frequenta de 1921 a 1931.

Matricula-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, para os preparatórios para a Escola Naval. Acabou por ingressar no curso de Ciências Matemáticas, que terminou em 1943.

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra viria, após o 25 de Abril de 1974, a ingressar no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela mesma universidade.

Foi um dos iniciadores e teóricos do movimento neo-realista em Portugal e colaborou nas revistas Seara Nova, Vértice, Sol Nascente, entre outras.

Foi militante do Partido Comunista Português desde os anos 30.

A 16 de março de 1983 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade. Igualmente a Assembleia Municipal e o Executivo da Câmara Municipal de Coimbra deliberam, por unanimidade, atribuir-lhe a Medalha de Ouro da Cidade, durante as comemorações do 5 de outubro.

 


 
Legenda para a vida de um vagabundo
 

Nasci vagabundo em qualquer país,
minhas fronteiras são as do mundo.
Esta sina vem-me no sangue:
não me fartar! Um desejo morto,
mais de dez a matar.

O caminho é longo!…
— Mas nada é longe e distante
quando se quer realmente…
E nunca o cansaço é tão grande
que um passo mais senão possa dar.
 

in Incomodidade (1945)  - Joaquim Namorado

quarta-feira, setembro 06, 2023

Poema para um aldrabão que caiu na asneira de fazer hoje anos...

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

sexta-feira, junho 30, 2023

Joaquim Namorado nasceu há 109 anos...

  
Joaquim Vitorino Namorado (Alter do Chão, Alter do Chão, 30 de junho de 1914 - Coimbra, 29 de dezembro de 1986), foi um poeta português

Frequenta de 1924 a 1929 o curso geral no Liceu Mouzinho de Albuquerque em Portalegre, concluindo o curso complementar em Coimbra, no Liceu José Falcão, que frequenta de 1921 a 1931.

Matricula-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, para os preparatórios para a Escola Naval. Acabou por ingressar no curso de Ciências Matemáticas, que terminou em 1943.

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra viria, após o 25 de Abril de 1974, a ingressar no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela mesma universidade.

Foi um dos iniciadores e teóricos do movimento neo-realista em Portugal e colaborou nas revistas Seara Nova, Vértice, Sol Nascente, entre outras.

Foi militante do Partido Comunista Português desde os anos 30.

A 16 de março de 1983 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade. Igualmente a Assembleia Municipal e o Executivo da Câmara Municipal de Coimbra deliberam, por unanimidade, atribuir-lhe a Medalha de Ouro da Cidade, durante as comemorações do 5 de outubro.




Caridade

As senhoras da sociedade
deram um baile a rigor
para vestir a pobreza
e a pobreza horas a fio
cortou, coseu, enfeitou
os vestidos deslumbrantes
que a caridade exibiu.
Depois das contas bem feitas
bem tiradas as despesas
arranjou um namorado
a mais nova das Fonsecas;
esteve bem a viscondessa,
veio o nome e o retrato
da comissão nos jornais,
e o Doutor, o Menezes,
o senhor desembargador,
estiveram muito engraçados,
dançaram o tiro-liro
já meio-tombados...
Parece que ainda sobrou
algum dinheiro para chita
para vestir a pobreza
numa festa comovente
com discursos de homenagem
e uma missa...
a que assistiu toda a gente



Joaquim Namorado

quinta-feira, dezembro 29, 2022

Música para recordar um Poeta...

 

Combate

Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos.
Vimos do cabo do mundo
Com esse passo seguro
De quem sabe aonde vai.

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Guerras perdidas e ganhas
Marcaram o nosso corpo
Mas nunca em nós foi vencida
Essa certeza sabida
De saber aonde vamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Os mortos não os deixamos
Para trás, abandonados,
Fazemos deles bandeiras,
Guias e mestres, soldados
do combate que travamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Pró assalto das muralhas
nossos corpos são escadas
para as batalhas da rua
nossos peitos barricadas

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Vimos do cabo do mundo
Vimos do fundo da vida:
Que somos o próprio mundo
E somos a própria vida

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

 

Joaquim Namorado

 

Joaquim Namorado morreu há trinta e seis anos...

 

(imagem daqui)


Joaquim Vitorino Namorado (Alter do Chão, Alter do Chão, 30 de junho de 1914 - Coimbra, 29 de dezembro de 1986), foi um poeta português
 
Biografia

Frequenta de 1924 a 1929 o curso geral no Liceu Mouzinho de Albuquerque em Portalegre, concluindo o curso complementar em Coimbra, no Liceu José Falcão, que frequenta de 1921 a 1931.

Matricula-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, para os preparatórios para a Escola Naval. Acabou por ingressar no curso de Ciências Matemáticas, que terminou em 1943.

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra viria, após o 25 de Abril de 1974, a ingressar no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela mesma universidade.

Foi um dos iniciadores e teóricos do movimento neo-realista em Portugal e colaborou nas revistas Seara Nova, Vértice, Sol Nascente, entre outras.

Foi militante do Partido Comunista Português desde os anos 30.

A 16 de março de 1983 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade. Igualmente a Assembleia Municipal e o Executivo da Câmara Municipal de Coimbra deliberam, por unanimidade, atribuir-lhe a Medalha de Ouro da Cidade, durante as comemorações do 5 de Outubro.

 


 
Legenda para a vida de um vagabundo

Nasci vagabundo em qualquer país,
minhas fronteiras são as do mundo.
Esta sina vem-me no sangue:
não me fartar! Um desejo morto,
mais de dez a matar.

O caminho é longo!…
— Mas nada é longe e distante
quando se quer realmente…
E nunca o cansaço é tão grande
que um passo mais senão possa dar.
 

in Incomodidade (1945)  - Joaquim Namorado

terça-feira, setembro 06, 2022

Poema para um traste que faz hoje anos

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

quarta-feira, dezembro 29, 2021

Hoje é dia de cantar a Poesia de Joaquim Namorado

 

Combate

Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos.
Vimos do cabo do mundo
Com esse passo seguro
De quem sabe aonde vai.

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Guerras perdidas e ganhas
Marcaram o nosso corpo
Mas nunca em nós foi vencida
Essa certeza sabida
De saber aonde vamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Os mortos não os deixamos
Para trás, abandonados,
Fazemos deles bandeiras,
Guias e mestres, soldados
do combate que travamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Pró assalto das muralhas
nossos corpos são escadas
para as batalhas da rua
nossos peitos barricadas

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Vimos do cabo do mundo
Vimos do fundo da vida:
Que somos o próprio mundo
E somos a própria vida

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

 

Joaquim Namorado

Joaquim Namorado morreu há 35 anos


Joaquim Namorado (30.06.1914 - 29.12.1986) nasceu em Alter do Chão, Alentejo. Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966).

Adaptado de Projecto Vercial

 
Legenda para a vida de um vagabundo

Nasci vagabundo em qualquer país,
minhas fronteiras são as do mundo.
Esta sina vem-me no sangue:
não me fartar! Um desejo morto,
mais de dez a matar.

O caminho é longo!…
— Mas nada é longe e distante
quando se quer realmente…
E nunca o cansaço é tão grande
que um passo mais senão possa dar.


in Incomodidade - Joaquim Namorado

segunda-feira, setembro 06, 2021

Poesia para aniversariante de hoje...

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

 

 


(imagem daqui)


Ideias

Honra, Brio, Dignidade:
Onde estais? Quem vos preza?
Não posso viver pobre: – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, paredes húmidas, bolores,
Ao pensar na pobreza! Ideias.
E causam-me suores.

 

in Ossadas (1947) - Afonso Duarte

quarta-feira, setembro 06, 2017

Poesia para aniversariante de hoje...

(imagem daqui)

Ideias

Honra, Brio, Dignidade:
Onde estais? Quem vos preza?
Não posso viver pobre: – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, paredes húmidas, bolores,
Ao pensar na pobreza! Ideias.
E causam-me suores.

in Ossadas (1947) - Afonso Duarte


(imagem daqui)

Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

quinta-feira, dezembro 29, 2011

O Combate de Joaquim Namorado transposto para coro por Lopes-Graça


Combate

Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos.
Vimos do cabo do mundo
Com esse passo seguro
De quem sabe aonde vai.

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Guerras perdidas e ganhas
Marcaram o nosso corpo
Mas nunca em nós foi vencida
Essa certeza sabida
De saber aonde vamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Os mortos não os deixamos
Para trás, abandonados,
Fazemos deles bandeiras,
Guias e mestres, soldados
do combate que travamos

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Pró assalto das muralhas
nossos corpos são escadas
para as batalhas da rua
nossos peitos barricadas

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!

Nada poderá deter-nos
Vimos do cabo do mundo
Vimos do fundo da vida:
Que somos o próprio mundo
E somos a própria vida

Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos!


Joaquim Namorado

Poema de Joaquim Namorado na voz de Mário Viegas


PORT-WINE

O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.

O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.

Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.

As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.

Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.

O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre.

in
Operário em Construção - Joaquim Namorado

Joaquim Namorado morreu há 25 anos


Joaquim Namorado (30.06.1914 - 29.12.1986) nasceu em Alter do Chão, Alentejo. Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966).

Adaptado de Projecto Vercial

Legenda para a vida de um vagabundo

Nasci vagabundo em qualquer país,
minhas fronteiras são as do mundo.
Esta sina vem-me no sangue:
não me fartar! Um desejo morto,
mais de dez a matar.

O caminho é longo!…
— Mas nada é longe e distante
quando se quer realmente…
E nunca o cansaço é tão grande
que um passo mais senão possa dar.

in Incomodidade - Joaquim Namorado

terça-feira, setembro 06, 2011

Hoje faz anos um engenheiro-arquitecto-político-aldrabão

(imagem daqui)

Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

ADENDA: nem de propósito, hoje o Correio da Manhã tem uma interessante notícia sobre o aniversariante e a sua famiglia - 383 milhões em offshores.

terça-feira, outubro 05, 2010

A imposição da república foi há 100 anos


Dia triste para o país e para a democracia - contra a vontade da maioria do povo foi-nos imposta, há 100 anos, a república...


FÁBULA

No tempo em que os animais falavam.
Liberdade!
Igualdade!
Fraternidade!

Joaquim Namorado

quarta-feira, junho 30, 2010

Joaquim Namorado nasceu há 96 anos


Joaquim Namorado (30.06.1914 - 29.12.1986) nasceu em Alter do Chão, Alentejo. Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966).

Adaptado de Projecto Vercial


Caridade

As senhoras da sociedade
deram um baile a rigor
para vestir a pobreza
e a pobreza horas a fio
cortou, coseu, enfeitou
os vestidos deslumbrantes
que a caridade exibiu.
Depois das contas bem feitas
bem tiradas as despesas
arranjou um namorado
a mais nova das Fonsecas;
esteve bem a viscondessa,
veio o nome e o retrato
da comissão nos jornais,
e o Doutor, o Menezes,
o senhor desembargador,
estiveram muito engraçados,
dançaram o tiro-liro
já meio-tombados...
Parece que ainda sobrou
algum dinheiro para chita
para vestir a pobreza
numa festa comovente
com discursos de homenagem
e uma missa...
a que assistiu toda a gente

Joaquim Namorado

quinta-feira, abril 01, 2010

Poema

Manhã de Abril

Olho o céu nas poças da rua
que a chuva de ontem deixou,
como pássaros verdes as primeiras folhas
empoleiram-se nos ramos enegrecidos a do inverno
e o sol entorna sobre o casario miserável
uma chuva de falso oiro.
Que raiva me dá...
Foi hoje a enterrar aquela miúda loura
que via brincar na rua
com as tranças apertadas nos laços vermelhos
— morressem antes os velhos
que da vida nada esperam,
já sem amor, já sem esperança,
roídos de chagas e da lepra dos dias.
que não morresse ninguém, valá!
mas ela...
levaram-lhe flores os outros meninos da rua,
iam contentes como para uma festa,
e a mãe atrás do caixão chorando,
e as folhas verdes
e as flores nos canteiros e nas janelas
como se florir fosse uma coisa natural e inevitável
e o velho mendigo cego estendendo a mão,
e a gente educada tirando o chapéu por hábito...

Que raiva me dá a Primavera sobre a dor do Mundo!

Joaquim Namorado