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quinta-feira, fevereiro 15, 2024

O anjo do Gueto de Varsóvia nasceu há 114 anos

   
Irena Sendler, em polaco: Irena Sendlerowa, nascida Krzyżanowska (Varsóvia, 15 de fevereiro de 1910 - Varsóvia, 12 de maio de 2008), também conhecida como o "Anjo do Gueto de Varsóvia," foi uma ativista católica dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuído para salvar mais de 2.500 vidas, ao conseguir que várias famílias cristãs escondessem filhos de judeus no seio do seu lar e ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida.
   
(...)  
 
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.
Em novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwaśniewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por Elżbieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que a recordava como "a menina da colher de prata".
      

segunda-feira, outubro 09, 2023

O Papa Pio XII morreu há 65 anos...


Papa Pio XII
(em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII; O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; Roma, 2 de março de 1876 - Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi eleito Papa no dia 2 de março de 1939 até à data da sua morte. Foi o primeiro Papa romano desde 1724.
Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950, na sua encíclica Munificentissimus Deus. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polémica devido a sua posição papal de imparcialidade, com relação ao conflito. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.

  

Opus iustitiae pax

 

Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.
A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo interreligioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.

   

 

COMO DE VÓS...
À memória do Papa Pio XII que quis ouvir, moribundo, o “Allegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven.


Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,

importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.

Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
 
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo.


11.10.1958
 

 


in Fidelidade (1958) - Jorge de Sena

sexta-feira, agosto 04, 2023

Raoul Wallenberg nasceu há cento e onze anos...

   
Raoul Wallenberg (Lidingö, 4 de agosto de 1912 - Moscovo, 17 de julho de 1947) foi um arquiteto sueco, empresário e diplomata. Tornou-se famoso por conta de seus esforços bem sucedidos para resgatar dezenas de milhares de judeus da Hungria ocupada pelos nazis durante o Holocausto.
Em 17 de janeiro de 1945, durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho, Wallenberg foi detido pelas autoridades soviéticas, sob suspeita de espionagem e, posteriormente, desapareceu. Mais tarde, foi relatado que morreu em 17 de julho de 1947, enquanto estava preso na prisão de Lubyanka, em Moscovo, Rússia. Os motivos por trás da prisão de Wallenberg pelo governo soviético, juntamente com as circunstâncias de sua morte, permanecem misteriosas.
Devido a suas ações corajosas em nome dos judeus húngaros, Raoul Wallenberg tem sido objeto de numerosas honrarias humanitárias nas décadas seguintes a sua morte presumida. Em 1981, o deputado Tom Lantos, ele próprio salvo por Wallenberg, elaborou uma lei tornando Wallenberg cidadão honorário dos Estados Unidos. Ele também é cidadão honorário do Canadá, Hungria e Israel. Também em Israel, Raoul Wallenberg é considerado como um dos "Justos entre as Nações", citado e homenageado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto.

Memorial Raoul Wallenberg, Rua Wallenberg, Tel-Aviv, Israel
   
Raoul Wallenberg nasceu em Kappsta, um distrito da cidade de Lidingö, nas proximidades de Estocolmo, onde seus avós maternos, o professor Per Johan e sua esposa Sophie, tinham uma casa de verão. O seu avô paterno, Gustaf Wallenberg, era diplomata e trabalhou em Tóquio, Constantinopla e Sofia. Os seus pais eram Raoul Oscar Wallenberg (1888 – 1912), oficial da Marinha Sueca, e Maria "Maj" Sofia (18911979), casados em 1911. Raoul Oscar morreu de cancro quando o seu filho contava apenas três meses de idade. Em 1918, sua mãe casou novamente e teve mais dois filhos.
Em 1931, Wallenberg foi estudar arquitetura na Universidade de Michigan, nos EUA. Na faculdade, ele aprendeu Inglês, Alemão e Francês.
De volta à Suécia, o seu diploma americano de arquiteto não foi validado pelas autoridades locais. No entanto, o seu avô conseguiu-lhe um emprego na Cidade do Cabo, África do Sul, no escritório de uma empresa sueca de venda de materiais de construção. Entre 1935 e 1936, Wallenberg trabalhou numa filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica, onde travou contacto com a grande comunidade judaica local. De volta à Suécia em 1936, obteve um cargo em Estocolmo, com a ajuda de seu tio e padrinho, Jacob Wallenberg, numa empresa de exportação e importação de propriedade da Kálmán Lauer, um judeu húngaro.
A partir de 1938, o Reino da Hungria, sob a regência de Miklós Horthy, mergulhou numa onda de antissemitismo. Foram adotadas medidas inspiradas nas leis recentemente promulgadas na Alemanha Nazista. As novas leis húngaras restringiam o acesso dos judeus a inúmeras profissões. Na tentativa de driblar as leis anti-judaicas, Kalman Lauer nomeou Wallenberg como seu “sócio” e representante. Com isso, ele passou a viajar para a Hungria para fazer negócios em nome de Lauer e de zelar pelos membros da grande família de Lauer que permaneceram em Budapeste. Ele rapidamente aprendeu a falar húngaro e também se tornou conhecedor dos métodos da burocracia alemã da época, por ter de fazer negócios com empresas nazis. Tal conhecimento seria fundamental mais tarde, quando se aproveitou das brechas legais nazis para salvar judeus.
Estando em contacto bastante estreito com os alemães em plena Guerra, Wallenberg pode testemunhar a campanha de perseguições e extermínio contra os judeus, empreendida pelo regime nazi. Tais factos chocaram o empresário, que a partir de 9 de julho de 1944, foi nomeado primeiro-secretário da delegação sueca em Budapeste. Agora feito diplomata, Wallenberg aproveitou da imunidade, de seu poder e de seus contactos para expedir passaportes especiais (“schutzpass”) para cidadãos judeus. Estes eram qualificados como cidadãos suecos, à espera de repatriamento. Embora tais documentos não fossem legalmente válidos, eles pareciam impressionar os oficiais nazis que ocupavam a Hungria, que acabavam dando passagem aos seus portadores.
Além disso, Wallenberg alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca, colocando nas suas entradas falsas identificações, tais como "Biblioteca da Suécia" ou "Instituto de Pesquisas Suecas". Protegidas pelo status diplomático, tais casas não podiam ser invadidas pelos nazis e os judeus encontravam nelas refúgio.
Wallenberg habilmente negociou com oficiais nazis, como Adolf Eichmann e o comandante das forças armadas alemãs na Hungria, general Gerhard Schmidhuber. A dois dias da chegada do Exército Vermelho em Budapeste, ele conseguiu cancelar uma leva de judeus que seriam deportados para campos de concentração e extermínio da Alemanha, usando um bilhete assinado por um amigo fascista húngaro, Pal Szalay, que os ameaçou de processo por crimes de guerra.
Estima-se em cem mil o número de judeus que teriam sido salvos da morte por conta das ações de Raoul Wallenberg.
A chegada dos soviéticos à Hungria determinou o fim das perseguições aos judeus. Mas foi o início do fim de Raoul Wallenberg. Em 17 de janeiro de 1945, quando a guerra ainda se desenrolava, Wallenberg e seu motorista particular foram presos pelas autoridades comunistas, acusados de serem "espiões da OSS", a agência de espionagem britânica. De Budapeste, Wallenberg foi deportado para Moscovo, onde foi encarcerado na prisão de Lubyanka. Posteriormente foi transferido para a prisão de Lefortovo, também em Moscovo, onde permaneceria até à sua suposta morte, dois anos depois.
As condições das cadeias soviéticas eram tão terríveis quanto as vigentes nos campos de concentração nazis. Torturas, privações extremas, terrorismo psicológico e execuções sumárias faziam parte dos "métodos" comunistas. Incomunicável, Wallemberg teria morrido em Lefortovo no dia 17 de julho de 1947. Pelo menos foi isso o que as autoridades russas afirmaram em 6 de fevereiro de 1957, após uma intensa campanha internacional por notícias de seu paradeiro. Mesmo após tal notícia, prosseguiram as investigações em busca de seu paradeiro. Em 1981, sobreviventes dos gulags afirmaram terem conhecido um prisioneiro estrangeiro com as mesmas características físicas de Raoul Wallemberg, ainda vivo muitos anos depois da data da sua suposta morte.
Contudo em 1991, Vyacheslav Nikonov foi encarregado pelo governo da Rússia de investigar o destino de Wallenberg. Ele concluiu que Wallenberg morreu em 1947, executado como prisioneiro na prisão de Lubyanka.

quarta-feira, julho 19, 2023

Aristides de Sousa Mendes nasceu há 138 anos


Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches (Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, 19 de julho de 1885 - Lisboa, 3 de abril de 1954) foi um diplomata português. Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, Sousa Mendes desafiou ordens expressas do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, António de Oliveira Salazar (cargo ocupado em acumulação com a chefia do Governo), e concedeu trinta mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir da França em 1940.
Aristides de Sousa Mendes salvou dezenas de milhares de pessoas do Holocausto. Chamado de "Schindler português", Sousa Mendes também teve a sua lista e salvou a vida de milhares de pessoas, das quais cerca de dez mil judeus.
     
Vida
Foi batizado Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches numa pequena aldeia do concelho do Carregal do Sal, no sul do distrito de Viseu. Aristides pertenceu a uma família aristocrática rural, católica, conservadora e monárquica (ele também católico e monárquico que apoiou a célebre contra-revolução a "Monarquia do Norte"). O seu pai era membro do supremo tribunal. Pelo lado materno era bisneto matrilineal por bastardia do 2.º Visconde de Midões e descendente de D. Fernando de Almada (2º Conde de Avranches). Pelo lado familiar "de Sousa", descendente de Madragana Ben Aloandro (de quem teve filhos El-Rei D. Afonso III de Portugal), senhora que pertencia à Comunidade Judaica de Faro e cuja ascendência provinha do próprio Rei David de Israel.
Aristides instala-se em Lisboa em 1907 após a licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tal como o seu irmão gémeo César de Sousa Mendes. Ambos enveredaram pela carreira diplomática. César foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo a 28 de janeiro de 1925 e Grã-Cruz da Ordem Real da Estrela Polar da Suécia a 23 de setembro de 1932. Em 1909 nasceu seu primogénito, tendo ao todo 14 filhos e filhas com a sua mulher Angelina.
Aristides ocupou diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora, entre elas: Zanzibar, Brasil, Estados Unidos, Guiana, entre outras.
Em 1929 é nomeado Cônsul-geral em Antuérpia, cargo que ocupa até 1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passa despercebido. É condecorado por duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito Oficial da Ordem de Leopoldo II a 6 de janeiro de 1931 e Comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga. Durante o período em que viveu na Bélgica, conviveu com personalidades ilustres, como o escritor Maurice Maeterlinck, Prémio Nobel da Literatura, e o cientista Albert Einstein, Prémio Nobel da Física.
Depois de quase dez anos de serviço na Bélgica, Salazar, presidente do Conselho de Ministros e simultaneamente Ministro dos Negócios Estrangeiros, nomeia Sousa Mendes cônsul em Bordéus, França.
  
II Grande Guerra
Aristides de Sousa Mendes permanece ainda cônsul de Bordéus quando tem início a Segunda Guerra Mundial, e as tropas de Adolf Hitler avançam rapidamente sobre a França. Salazar manteve a neutralidade de Portugal.
Pela circular 14, Salazar ordena aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusem conferir vistos às seguintes categorias de pessoas: "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos".
Entretanto, em 1940, o governo francês refugiou-se temporariamente na cidade de Vichy, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Milhares de refugiados que fogem do avanço nazi dirigiram-se a Bordéus. Muitos deles afluem ao consulado português desejando obter um visto de entrada para Portugal ou para os Estados Unidos, onde Sousa Mendes, o cônsul, caso seguisse as instruções do seu governo, distribuiria vistos com parcimónia.
Já no final de 1939, Sousa Mendes tinha desobedecido às instruções do seu governo e emitido alguns vistos. Entre as pessoas que ele tinha então decidido ajudar encontra-se o rabino de Antuérpia, Jacob Kruger, que lhe faz compreender que há que salvar os refugiados judeus.
A 16 de junho de 1940, Aristides decide conceder visto a todos os que o pedissem: "A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião". Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos e do rabino Kruger, ele carimba passaportes, assina vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito:
Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus.
Uma vez que Salazar tomara medidas contra o cônsul, Aristides continuou a sua atividade de 20 a 23 de junho, em Baiona (França), no escritório de um vice-cônsul estupefacto, e mesmo na presença de dois outros funcionários de Salazar. A 22 de junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha nazi. Mesmo a caminho de Hendaye, Aristides continua a emitir vistos para os refugiados que cruzam com ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de junho, Salazar demitira-o de suas funções de cônsul.
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides, este lidera, com a sua viatura, uma coluna de veículos de refugiados e guia-os em direção à fronteira, onde, do lado espanhol, não existem telefones. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França. Sousa Mendes impressiona os guardas aduaneiros, que acabariam por deixar passar todos os refugiados, que, com os seus vistos, puderam continuar viagem até Portugal.
     
Castigo de Salazar
A 8 de julho de 1940, Aristides, de volta a Portugal, é punido pelo governo de Salazar, que priva o diplomata de suas funções por um ano, diminuindo em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, também lhe é retirada.
O cônsul demitido e sua família, bastante numerosa, sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos participaram no desembarque da Normandia.
Frequentou, juntamente com os seus familiares, a cantina da assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas ricas roupas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar:
 
Nós também, nós somos refugiados.
Em 1945, Salazar felicitou-o por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em 1948, emigração dos seus filhos, com uma exceção. Após a morte da mulher, Aristides de Sousa Mendes viveu com uma amante francesa que, segundo testemunhos da época, muito contribuiu para a sua miséria.
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre, a 3 de abril de 1954, no hospital dos franciscanos em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado com um hábito franciscano.
    
Pessoas que salvou
Cerca de trinta mil vistos foram emitidos pelo cônsul Sousa Mendes, dos quais dez mil a refugiados de confissão judaica.
Entre aqueles que obtiveram um visto do cônsul português contam-se:
  
Políticos:
  • Otto de Habsburgo, filho de Carlos, o último imperador da Áustria-Hungria; o príncipe Otto era detestado por Adolf Hitler, que o condenara inclusive à morte. Ele escapou com a sua família desde o exílio belga e dirigiu-se aos Estados Unidos onde participou numa campanha para alertar a opinião pública.
  • Vários ministros do governo belga no exílio.
Artistas:

Reconhecimento
Em 1966, o Memorial de Yad Vashem (Memorial do Holocausto situado em Jerusalém) em Israel, presta-lhe homenagem atribuindo-lhe o título de "Justo entre as nações". Já em 1961, haviam sido plantadas vinte árvores em sua memória nos terrenos do Museu Yad Vashem.
Em 1986, a 15 de novembro, o presidente da República Portuguesa Mário Soares reabilita Aristides de Sousa Mendes condecorando-o a título póstumo com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade e a sua família recebe as desculpas públicas, dezasseis anos após a morte de Salazar.
Em 1994, o presidente português Mário Soares desvela um busto em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, bem como uma placa comemorativa na Rua 14 Quai Louis-XVIII, o endereço do consulado de Portugal em Bordéus em 1940.
Em 1995, a 23 de março, é agraciado a título póstumo pelo presidente da República Portuguesa Mário Soares com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Em 1995, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) cria um prémio anual com o seu nome.
Em 1996, o grupo de escuteiros de Esgueira (Aveiro) homenageou-o criando o CLÃ 25 ASM (Aristides de Sousa Mendes)
Em 1998, a República Portuguesa, na prossecução do processo de reabilitação oficial da memória de Aristides de Sousa Mendes, condecora-o com a Cruz de Mérito a título póstumo pelas suas acções em Bordéus.
Em 2005, na Grande Sala da Unesco em Paris, o barítono Jorge Chaminé organiza uma homenagem a Aristides de Sousa Mendes, realizando dois Concertos para a Paz, integrados nas comemorações dos sessenta anos da Unesco.
Em 2006 foi realizada uma ação de sensibilização: "Reconstruir a Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes", na sua antiga casa em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal e na Quinta de Crestelo, Seia - São Romão.
Em 2007, um programa televisivo da RTP1, Os Grandes Portugueses, promoveu a escolha dos dez maiores e importantes portugueses de todos os tempos. Sousa Mendes foi o terceiro mais votado. Ironicamente, o primeiro lugar foi atribuído a Salazar e o segundo lugar a Álvaro Cunhal.
Em 2007 o barítono Jorge Chaminé realizou dois concertos de homenagem a Aristides de Sousa Mendes, em Baiona e em Bordéus.
Em Viena, Áustria, no Vienna International Center, onde estão sediados diversos organismos da ONU, como a Agência Internacional de Energia Atómica, existe um grande passeio pedonal com o nome do ex-diplomata português, denominado Aristides-de-Sousa-Mendes-Promenade.
Aristides de Sousa Mendes não foi o único funcionário a quem o seu país não perdoou a desobediência apesar dos seus atos de justiça e humanidade na Segunda Guerra Mundial. Entre outros casos conhecidos de figuras que se destacaram pela coragem e humanismo incluem-se o cônsul japonês em Kaunas (Lituânia) Chiune Sugihara e Paul Grüninger, chefe da polícia do cantão suíço de São Galo.
    

sexta-feira, maio 12, 2023

Porque os anjos também morrem - o do Gueto de Varsóvia deixou-nos há quinze anos...

     
Irena Sendler, em polaco: Irena Sendlerowa, nascida Krzyżanowska (Varsóvia, 15 de fevereiro de 1910 - Varsóvia, 12 de maio de 2008), também conhecida como "O Anjo do Gueto de Varsóvia," foi uma ativista católica dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuído para salvar mais de 2.500 vidas ao conseguir que várias famílias cristãs escondessem filhos de judeus no seio do seu lar e ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida. 
   
A mãe das crianças do Holocausto
Cquote1.svg A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade. Cquote2.svg
- Irena Sendler
  
Quando a Alemanha nazi invadiu o país, em 1939, Irena era assistente social no Departamento de Bem Estar Social de Varsóvia, trabalhava com enfermeiras e organizava espaços de refeição comunitários da cidade com o objetivo de responder às necessidades das pessoas que mais necessitavam. Graças a ela, esses locais não só proporcionavam comida para órfãos, anciãos e pobres, como lhes entregavam roupas, medicamentos e dinheiro. Ali trabalhou incansavelmente para aliviar o sofrimento de milhares de pessoas, tanto judias como católicas.
Em 1942, os nazis criaram um gueto em Varsóvia, e Irena, horrorizada pelas condições em que ali se sobrevivia, uniu-se ao Conselho para a Ajuda aos Judeus, Zegota. Ela mesma contou:
  
   
Quando Irena caminhava pelas ruas do gueto, levava uma braçadeira com a estrela de David, como sinal de solidariedade e para não chamar a atenção sobre si própria. Pôs-se rapidamente em contacto com famílias, a quem propôs levar os seus filhos para fora do gueto, mas não lhes podia dar garantias de êxito. Eram momentos extremamente difíceis, quando devia convencer os pais a que lhe entregassem os seus filhos e eles lhe perguntavam:
"Podes prometer-me que o meu filho viverá?". Disse Irena, "O que poderia prometer, quando nem sequer sabia se conseguiriam sair do gueto." A única certeza era a de que as crianças morreriam se permanecessem lá. Muitas mães e avós eram reticentes na entrega das crianças, algo absolutamente compreensível, mas que viria a se tornar fatal para elas. Algumas vezes, quando Irena ou as suas companheiras voltavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de opinião, verificavam que todos tinham sido levados para os campos da morte.
Ao longo de um ano e meio, até à evacuação do gueto no Verão de 1942, conseguiu resgatar mais de 2.500 crianças por várias vias: começou a recolhê-las em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo se valia de todo o tipo de subterfúgios que servissem para os esconder: sacos, cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, caixões... nas suas mãos qualquer elemento transformava-se numa via de fuga.
Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos de paz e por isso não fica satisfeita só por manter com vida as crianças. Queria que um dia pudessem recuperar os seus verdadeiros nomes, as suas identidades, as suas histórias pessoais e as suas famílias. Concebeu então um arquivo no qual registava os nomes e dados das crianças e as suas novas identidades.
Os nazis souberam dessas atividades e, em 20 de outubro de 1943, Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: "Jesus, em Vós confio", e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.
Ela, a única que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou-se a trair seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Foi condenada à morte. Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um "interrogatório adicional".
Ao sair, gritou-lhe em polaco "Corra!". No dia seguinte Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados. Os membros da Żegota tinham conseguido deter a execução de Irena subornando os alemães, e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.
Em 1944, durante o revolta de Varsóvia, colocou as suas listas em dois frascos de vidro e enterrou-os no jardim de uma vizinha para se assegurar de que chegariam às mãos indicadas se ela morresse. Ao acabar a guerra, Irena desenterrou-os e entregou as notas ao doutor Adolfo Berman, o primeiro presidente do comité de salvação dos judeus sobreviventes. Lamentavelmente, a maior parte das famílias das crianças tinha sido morta nos campos de extermínio nazis.
De início, as crianças que não tinham família adotiva foram cuidadas em diferentes orfanatos e, pouco a pouco, foram enviadas para a Palestina.
As crianças só conheciam Irena pelo seu nome de código "Jolanta". Mas anos depois, quando a sua fotografia saiu num jornal depois de ser premiada pelas suas ações humanitárias durante a guerra, um homem chamou-a por telefone e disse-lhe:
  
  
E assim começou a receber muitas chamadas e reconhecimentos públicos.
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.
Em novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwaśniewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por Elżbieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que recordava como "a menina da colher de prata".
     

sexta-feira, abril 28, 2023

Oskar Schindler nasceu há 115 anos...


 

Oskar Schindler (Svitavy, 28 de abril de 1908 - Hildesheim, 9 de outubro de 1974) foi um empresário alemão sudeto célebre por ter salvo mais de 1.200 trabalhadores judeus do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Tornou-se membro do Partido Nazi após a anexação território dos Sudetos em 1938. No início da Segunda Guerra Mundial, mudou-se para a Polónia a fim de ganhar dinheiro aproveitando-se da situação. Em Cracóvia, abre uma fábrica de armas esmaltadas, onde passa a empregar trabalhadores judeus. A origem destes trabalhadores era o Gueto de Cracóvia, local onde todos os judeus da cidade foram escondidos.
Em março de 1943, o gueto foi ativado e os moradores que não foram no local foram enviados para o campo de concentração de Plaszow. Os operários de Schindler trabalhavam o dia todo na sua fábrica e à noite voltavam para Plaszow.
Quando, em 1944, os administradores de Plaszow receberam ordens para desativar o campo, devido ao avanço das tropas soviéticas - o que significava mandar os seus habitantes para outros campos de concentração, onde seriam mortos. Oskar Schindler convenceu, os dirigentes nazis, através de suborno, que necessitava desses operários "especializados" e criou a famosa Lista de Schindler. Os judeus integrantes desta lista foram transferidos para a sua cidade natal de Zwittau-Brinnlitz, onde foram colocados numa nova fábrica adquirida por ele (Brnenec).
No fim da guerra, 1.200 judeus, entre homens, mulheres e crianças foram salvos de perecer num campo de concentração nazi. Nos últimos dias da guerra, antes da entrada do exército russo na Morávia, Schindler conseguiu ir para a Alemanha, no território controlado pelos Aliados. Ele livrou-se de ser preso devido aos depoimentos dos judeus a quem ajudara.
Passada a guerra, ele e a esposa Emilie Schindler foram agraciados com uma pensão vitalícia do governo de Israel,  em agradecimento pelos seus atos humanitários. O seu nome foi inscrito, junto a uma árvore plantada por ele. no centro da cidade, na avenida dos Justos entre as Nações do Museu do Holocausto do Yad Vashem, em Jerusalém, ao lado do nome de outras cem personalidades não judaicas que ajudaram os judeus durante o Holocausto. Durante a guerra tornou-se próspero, mas gastou o seu dinheiro com a ajuda prestada aos judeus que salvou e com empreendimentos que não deram certo após o final da guerra.
Viveu na Alemanha na cidade de Hildesheim (Rua Goettingstrasse 30 no bairro Weststadt) entre 1971 e 1974 e morreu, pobre, num hospital em Hildesheim, no dia 9 de outubro de 1974, com 66 anos de idade. Foi enterrado no cemitério cristão (era católico) no Monte Sião, em Jerusalém, com honras de herói.
A sua história foi contada em livro (Schindler's Ark) por Thomas Keneally e, posteriormente filmada por Steven Spielberg (A Lista de Schindler) no ano de 1993. Este filme é considerado pelo próprio Spielberg e pela crítica como a sua obra-prima, e apontado entre os dez melhores filmes da história de Hollywood. O filme foi filmado a preto-e-branco para criar um efeito sombrio e ambientar-se à história retratada. O filme foi o vencedor do Óscar de 1994 e Steven Spielberg levou o almejado Óscar de melhor direção.

   

quarta-feira, fevereiro 15, 2023

O anjo do Gueto de Varsóvia nasceu há 113 anos

   
Irena Sendler, em polaco: Irena Sendlerowa, nascida Krzyżanowska (Varsóvia, 15 de fevereiro de 1910 - Varsóvia, 12 de maio de 2008), também conhecida como o "Anjo do Gueto de Varsóvia," foi uma ativista católica dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuído para salvar mais de 2.500 vidas ao conseguir que várias famílias cristãs escondessem filhos de judeus no seio do seu lar e ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida.
   
(...)  
 
E assim começou a receber muitas chamadas e reconhecimentos públicos.
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.
Em novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwaśniewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por Elżbieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que a recordava como "a menina da colher de prata".
      

domingo, outubro 09, 2022

O venerável Papa Pio XII morreu há 64 anos


Papa Pio XII
(em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII; O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; Roma, 2 de março de 1876 - Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi eleito Papa no dia 2 de março de 1939 até à data da sua morte. Foi o primeiro Papa romano desde 1724.
Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950, na sua encíclicaMunificentissimus Deus. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polémica devido a sua posição papal de imparcialidade, com relação ao conflito. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.

  

Opus iustitiae pax

 

Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.
A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo interreligioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.

   

 

COMO DE VÓS...
À memória do Papa Pio XII que quis ouvir, moribundo, o “Allegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven.


Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,

importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.

Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
 
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo.


11.10.1958
 

 
in Fidelidade (1958) - Jorge de Sena 

quinta-feira, agosto 04, 2022

Raoul Wallenberg nasceu há cento e dez anos...

   
Raoul Wallenberg (Lidingö, 4 de agosto de 1912 - Moscovo, 17 de julho de 1947) foi um arquiteto sueco, empresário e diplomata. Tornou-se famoso por conta de seus esforços bem sucedidos para resgatar dezenas de milhares de judeus da Hungria ocupada pelos nazis durante o Holocausto.
Em 17 de janeiro de 1945, durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho, Wallenberg foi detido pelas autoridades soviéticas, sob suspeita de espionagem e, posteriormente, desapareceu. Mais tarde, foi relatado que morreu em 17 de julho de 1947, enquanto estava preso na prisão de Lubyanka, em Moscovo, Rússia. Os motivos por trás da prisão de Wallenberg pelo governo soviético, juntamente com as circunstâncias de sua morte, permanecem misteriosas.
Devido a suas ações corajosas em nome dos judeus húngaros, Raoul Wallenberg tem sido objeto de numerosas honrarias humanitárias nas décadas seguintes a sua morte presumida. Em 1981, o deputado Tom Lantos, ele próprio salvo por Wallenberg, elaborou uma lei tornando Wallenberg cidadão honorário dos Estados Unidos. Ele também é cidadão honorário do Canadá, Hungria e Israel. Também em Israel, Raoul Wallenberg é considerado como um dos "Justos entre as Nações", citado e homenageado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto.

Memorial Raoul Wallenberg, Rua Wallenberg, Tel-Aviv, Israel
   
Raoul Wallenberg nasceu em Kappsta, um distrito da cidade de Lidingö, nas proximidades de Estocolmo, onde seus avós maternos, o professor Per Johan e sua esposa Sophie, tinham uma casa de verão. O seu avô paterno, Gustaf Wallenberg, era diplomata e trabalhou em Tóquio, Constantinopla e Sofia. Os seus pais eram Raoul Oscar Wallenberg (1888 – 1912), oficial da Marinha Sueca, e Maria "Maj" Sofia (18911979), casados em 1911. Raoul Oscar morreu de cancro quando o seu filho contava apenas três meses de idade. Em 1918, sua mãe casou novamente e teve mais dois filhos.
Em 1931, Wallenberg foi estudar arquitetura na Universidade de Michigan, nos EUA. Na faculdade, ele aprendeu Inglês, Alemão e Francês.
De volta à Suécia, o seu diploma americano de arquiteto não foi validado pelas autoridades locais. No entanto, o seu avô conseguiu-lhe um emprego na Cidade do Cabo, África do Sul, no escritório de uma empresa sueca de venda de materiais de construção. Entre 1935 e 1936, Wallenberg trabalhou numa filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica, onde travou contacto com a grande comunidade judaica local. De volta à Suécia em 1936, obteve um cargo em Estocolmo, com a ajuda de seu tio e padrinho, Jacob Wallenberg, numa empresa de exportação e importação de propriedade da Kálmán Lauer, um judeu húngaro.
A partir de 1938, o Reino da Hungria, sob a regência de Miklós Horthy, mergulhou numa onda de antissemitismo. Foram adotadas medidas inspiradas nas leis recentemente promulgadas na Alemanha Nazista. As novas leis húngaras restringiam o acesso dos judeus a inúmeras profissões. Na tentativa de driblar as leis anti-judaicas, Kalman Lauer nomeou Wallenberg como seu “sócio” e representante. Com isso, ele passou a viajar para a Hungria para fazer negócios em nome de Lauer e de zelar pelos membros da grande família de Lauer que permaneceram em Budapeste. Ele rapidamente aprendeu a falar húngaro e também se tornou conhecedor dos métodos da burocracia alemã da época, por ter de fazer negócios com empresas nazis. Tal conhecimento seria fundamental mais tarde, quando se aproveitou das brechas legais nazis para salvar judeus.
Estando em contacto bastante estreito com os alemães em plena Guerra, Wallenberg pode testemunhar a campanha de perseguições e extermínio contra os judeus, empreendida pelo regime nazi. Tais factos chocaram o empresário, que a partir de 9 de julho de 1944, foi nomeado primeiro-secretário da delegação sueca em Budapeste. Agora feito diplomata, Wallenberg aproveitou da imunidade, de seu poder e de seus contactos para expedir passaportes especiais (“schutzpass”) para cidadãos judeus. Estes eram qualificados como cidadãos suecos, à espera de repatriamento. Embora tais documentos não fossem legalmente válidos, eles pareciam impressionar os oficiais nazis que ocupavam a Hungria, que acabavam dando passagem aos seus portadores.
Além disso, Wallenberg alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca, colocando nas suas entradas falsas identificações, tais como "Biblioteca da Suécia" ou "Instituto de Pesquisas Suecas". Protegidas pelo status diplomático, tais casas não podiam ser invadidas pelos nazis e os judeus encontravam nelas refúgio.
Wallenberg habilmente negociou com oficiais nazis, como Adolf Eichmann e o comandante das forças armadas alemãs na Hungria, general Gerhard Schmidhuber. A dois dias da chegada do Exército Vermelho em Budapeste, ele conseguiu cancelar uma leva de judeus que seriam deportados para campos de concentração e extermínio da Alemanha, usando um bilhete assinado por um amigo fascista húngaro, Pal Szalay, que os ameaçou de processo por crimes de guerra.
Estima-se em cem mil o número de judeus que teriam sido salvos da morte por conta das ações de Raoul Wallenberg.
A chegada dos soviéticos à Hungria determinou o fim das perseguições aos judeus. Mas foi o início do fim de Raoul Wallenberg. Em 17 de janeiro de 1945, quando a guerra ainda se desenrolava, Wallenberg e seu motorista particular foram presos pelas autoridades comunistas, acusados de serem "espiões da OSS", a agência de espionagem britânica. De Budapeste, Wallenberg foi deportado para Moscovo, onde foi encarcerado na prisão de Lubyanka. Posteriormente foi transferido para a prisão de Lefortovo, também em Moscovo, onde permaneceria até à sua suposta morte, dois anos depois.
As condições das cadeias soviéticas eram tão terríveis quanto as vigentes nos campos de concentração nazis. Torturas, privações extremas, terrorismo psicológico e execuções sumárias faziam parte dos "métodos" comunistas. Incomunicável, Wallemberg teria morrido em Lefortovo no dia 17 de julho de 1947. Pelo menos foi isso o que as autoridades russas afirmaram em 6 de fevereiro de 1957, após uma intensa campanha internacional por notícias de seu paradeiro. Mesmo após tal notícia, prosseguiram as investigações em busca de seu paradeiro. Em 1981, sobreviventes dos gulags afirmaram terem conhecido um prisioneiro estrangeiro com as mesmas características físicas de Raoul Wallemberg, ainda vivo muitos anos depois da data da sua suposta morte.
Contudo em 1991, Vyacheslav Nikonov foi encarregado pelo governo da Rússia de investigar o destino de Wallenberg. Ele concluiu que Wallenberg morreu em 1947, executado como prisioneiro na prisão de Lubyanka.