As manifestações começaram logo depois do suicídio de Mohamed Bouazizi, de 26 anos, vendedor ambulante de frutas e verduras, em Sidi Bouzid.
Sem conseguir uma licença para trabalhar na rua, Bouazizi fora, por
anos, assediado pelas autoridades tunisinas: impossibilitado de
continuar a pagar dinheiro aos fiscais, acabou por ter a sua mercadoria e
a sua balança confiscadas. Desesperado, o rapaz ateou fogo ao próprio
corpo.
Esta tragédia pessoal desencadeou os protestos que acabaram
por provocar uma onda revolucionária que envolveu toda a Tunísia e
espalhou-se pelo Mundo Árabe, do Norte da África ao Oriente Médio, atingindo países que, durante décadas, viveram sob ditaduras – muitas das quais apoiadas pelo Ocidente, embora acusadas de violações constantes dos direitos humanos e de impor severas restrições da liberdade de expressão. Além disso, as populações desses países têm convivido com altos índices de desemprego e pobreza, apesar de as elites dirigentes acumularem fortunas.
Os protestos na Tunísia prosseguiram, ao longo de janeiro de 2011, estimulados por um excessivo aumento dos preços dos alimentos básicos, que veio a aumentar a insatisfação popular diante elevado desemprego, das más condições de vida da maior parte da população tunisina e da corrupção do governo. Dado que na Tunísia não há registo de muitas manifestações populares, estas foram as mais importantes dos últimos 30 anos.
O presidente Zine El Abidine Ben Ali,
no poder há 24 anos, exigiu a cessação de disparos indiscriminados das
forças de segurança contra os manifestantes e afirmou que deixaria o
poder em 2014, prometendo também liberdade de imprensa para todos os meios de comunicação, incluindo a Internet.
Quatro semanas de manifestações contínuas por todo o país, apesar da repressão, provocaram a fuga de Ben Ali para a
Arábia Saudita, em
14 de janeiro de 2011. O Conselho Constitucional tunisiano designou o presidente do Parlamento,
Fouad Mebazaâ,
como Presidente da República interino, com base no artigo 57 da
Constituição do país. Essa nomeação e a constituição de um novo governo
dirigido pelo primeiro ministro demissionário
Mohamed Ghannouchi não resolvem a crise. O controle de oito ministérios pelo partido de Ben Ali, o
Rassemblement Constitutionnel Démocratique, é contestado pela oposição e pelos manifestantes.
Em 27 de janeiro, sob a pressão popular e sindical, um novo governo, sem os caciques
do antigo regime, é anunciado pelo primeiro-ministro Ghannouchi,
mantido na função. As manifestações e a violência continuam após essa
data. O povo tunisiano pressiona por mudanças políticas e sociais mais
amplas. O premier Ghannouchi anuncia a sua demissão em 27 de fevereiro
de 2011. Um tribunal de Túnis proibiu a atuação do antigo partido
governante e confiscou todos os seus recursos. Um decreto do Ministro do
Interior proibiu também a "polícia política", que eram forças especiais
que eram usadas para intimidar e perseguir ativistas políticos durante o
regime de Ben Ali.