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sábado, abril 14, 2012

Mais um troglóbio português

Natureza
Maior insecto subterrâneo da Europa é do Algarve

O insecto tem três centímetros (foto de Sofia Reboleira)

O maior insecto subterrâneo terrestre da Europa foi descoberto em quatro grutas do Algarve pela bióloga Sofia Reboleira, da Universidade de Aveiro. A palavra “maior” traduz-se num corpo de três centímetros de comprimento e, se contarmos as antenas e as estruturas sensoriais no fim do abdómen para se orientar na escuridão, então chega aos dez centímetros.

Pertence ao grupo de insectos conhecidos por peixinhos-de-prata ou traças-dos-livros, embora tenha outro habitat: as grutas, onde nunca vê a luz do dia, pelo que não tem olhos e é esbranquiçado. Com o nome científico Squamatinia algharbica, é um novo género e nova espécie para a ciência, agora descrito na revista Zootaxa. “Vive apenas nas grutas do Algarve e não sobrevive no exterior”, explica a bióloga numa nota da universidade, considerando que é “uma relíquia biogeográfica, que terá sobrevivido a vários episódios de alterações climáticas, refugiado no meio subterrâneo”.

O que come? “Não sabemos ao certo, mas foram observadas células vegetais no seu conteúdo estomacal”, responde-nos a bióloga. Com este insecto, Sofia Reboleira, de 31 anos, a fazer doutoramento, já tem no currículo, desde 2006, a descoberta de sete novas espécies em vários locais de Portugal, todas de animais cavernícolas.

E por que a fascinam eles tanto? “Normalmente, os animais confinados a este meio têm grandes padrões de endemismo, ou seja, só existem naquele local. Muitos são relíquias biogeográficas, que já não têm parentes à superfície”, frisa. “São muito raros também. Ao não haver luz, não há fotossíntese e os alimentos são muito escassos. Por isso, as populações têm de ser muito reduzidas.”


NOTA: a mestre e doutoranda Sofia Reboleira, responsável pelo blog Profundezas... e minha amiga, está outra vez de parabéns - o seu trabalho na área da bioespeleogia e da espeleologia continua somar sucessos atrás de sucessos...!

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Divulgação científica - o contributo de uma minha ex-aluna da Universidade de Aveiro (UA)

Em prol da alfabetização científica
Estudante de Biologia da UA dá contributo para levar ciência a todos os públicos


Vera Ferreira, 23 anos, é aluna da Universidade de Aveiro e está a realizar um estágio profissionalizante (4º ano opcional da licenciatura em Biologia) na área da comunicação de ciência, no Parque de Las Ciencias, em Granada. O gosto por comunicar ciência levou-a a querer saber mais sobre a iniciativa «Jovem Jornalista de Ciência», promovida pelo «Ciência Hoje» mas o contacto com este jornal online português de ciência resultou num compromisso mais sério: a colaboração regular numa secção criada à sua medida.


@ua_online - Como surgiu o convite para ser colaboradora do Ciência Hoje?
Vera Ferreira (VF) - Após ter pedido informações sobre a nova iniciativa Jovem «Jornalista» de Ciência, promovida pelo jornal. A iniciativa não se adequava à minha faixa etária mas foi-me proposto pelo director do jornal, Jorge Massada, que escrevesse um pequeno artigo sobre a minha experiência no mundo da comunicação de ciência. O convite foi uma surpresa, ainda mais pelo facto de o director ter visto nesta participação a oportunidade de criar uma secção no jornal dedicada a colaboradores externos.

@ua_online - O que a levou a aceitar o desafio?
VF - Do meu ponto de vista, o Ciência Hoje desempenha um papel muito importante na divulgação da actividade científica desenvolvida em Portugal e no estrangeiro. Para alguém que está a começar a trilhar os caminhos da divulgação científica, a oportunidade que me foi dada não poderia ser recusada.

@ua_online - Que reflexo espera venha a ter esta colaboração?
VF - Espero vir a aumentar a minha (ainda pouca) experiência na área com o apoio de uma equipa qualificada, desenvolver não só as minhas capacidades comunicativas mas também contribuir para a alfabetização científica, levando a ciência a todos os públicos.


Biologia: uma formação atractiva

@ua_online - Quais os motivos que a levaram a estudar Biologia na Universidade de Aveiro?
VF - Foi a minha primeira opção. Dentro do conjunto de universidades que oferecem o curso de Biologia, o programa da UA era o mais atractivo, por ser muito diverso e com forte ligação à investigação. A disciplina de Pesquisa (3º ano) e o Estágio (4º ano opcional) proporcionam uma integração no mundo da investigação e até funcionam, de uma forma transitória e acompanhada, como uma via para o mercado de trabalho; uma mais valia do curso, sem dúvida!

@ua_online - O curso e a UA corresponderam às suas expectativas?
VF - O Departamento de Biologia é bastante acessível. Os professores são muito cooperantes e interessados no bom desempenho dos seus alunos. Os laboratórios de aulas proporcionam todas as condições para uma boa aprendizagem, com todas as condições e equipamentos necessários. A Biologia é um campo muito amplo e o curso faz um apanhado de todas as áreas. O facto de termos muitas cadeiras de opção permite que os alunos delineiem o seu próprio percurso consoante as suas preferências.
A UA é uma universidade jovem, moderna, com um ambiente informal e com um grande espírito académico. Bastante informatizada e com elevadas preocupações em termos de acessibilidade. Não poderia estar mais satisfeita com as condições que nos são dadas.

@ua_online - Que competências adquiriu ao longo do curso e que adequabilidade entende terem para o bom desempenho da sua profissão?
VF - A apresentação de trabalhos é uma parte importante da avaliação das disciplinas e há uma grande preocupação por parte dos professores do Departamento em desenvolver as capacidades de comunicação dos seu alunos. Somos constantemente solicitados a expor oralmente trabalhos de investigação/pesquisa, o que fez com que a minha capacidade de comunicação oral e o à vontade com a assistência se desenvolvessem.
Depois, a licenciatura em Biologia conjuga outras áreas como a química e a física, competências que agora me permitem colaborar em projectos multidisciplinares.

@ua_online - É uma formação que o mercado de trabalho precisa/procura?
VF - Há cada vez mais cientistas a fazerem parte de equipas multidisciplinares de comunicação ou consultadoria. É importante que não só pedagogos ou comunicadores sociais façam parte destes grupos, mas que haja uma colaboração próxima com os investigadores para que se mantenha uma das características principais da ciência: o rigor.
Portugal está no bom caminho para a promoção da cultura científica pois o programa Ciência Viva tem-na fomentado de forma correcta. E a procura deste tipo de equipas vem dos mais diversos tipos de instituições: universidades, centros de ócio e museus de educação informal de ciência, câmaras municipais...


Estágio no Parque de las Ciencias

@ua_online - O que a levou ao exercício da sua actual actividade no Parque de las Ciencias
VF - Tudo aconteceu porque, no ano lectivo passado (2009-2010), estava apenas a fazer a Pesquisa do 3º ano da licenciatura (24 ECTS) e, por isso, pude preencher os restantes créditos com disciplinas de mestrado. Fiz, então, a disciplina de Exposição, Divulgação e Comunicação em Biociências.
Este ano lectivo decidi fazer o estágio profissionalizante (4º ano opcional) na área da comunicação de ciência. Queria dar os primeiros passos nesta área mas desconhecia a existência do Parque. A escolha do local para a realização do estágio foi da responsabilidade ao meu actual orientador da UA, Prof. Paulo Trincão, que já conhecia de perto o trabalho que o Parque desenvolve.
O Parque de las Ciencias oferece um conjunto de actividades educativas a escolas e professores contribuindo para o ensino não-formal da ciência através de ateliês, formação, guias e cadernos didácticos. Em Novembro do ano passado fui integrar o Departamento de Educação e Actividades. O meu compromisso era o de conhecer os espaços museológicos e aprender o máximo sobre as actividades desenvolvidas no Departamento para que, numa segunda fase, possa desenvolver o meu próprio projecto.

@ua_online - Como pode descrever exactamente o seu trabalho e o seu dia a dia
VF - O meu estágio está dividido em duas fases: na primeira tomei conhecimento da estrutura interna do Parque e das actividades que se promovem dentro e fora do museu. Neste momento, na segunda fase, o dia-a-dia é passado entre dois trabalhos paralelos: a participação activa na construção, desenvolvimento e acompanhamento de actividades educativas e o desenvolvimento do meu próprio projecto de estágio. Sempre que há oportunidade é-me dada a possibilidade de assistir aos ateliers educativos, às conferências ou outra actividade que seja promovida no/pelo Parque.

@ua_online - Como está a decorrer a experiência em Granada. As relações profissionais e hábitos diários são muito diferentes?
VF - Em relação à rotina diária há duas diferenças bastante grandes, uma das quais requereu (e ainda requer) grande esforço adaptativo: a hora de almoço começa às três da tarde! A cultura desportiva dos granadinos é muito marcante pois não se acomodam só com as inúmeras actividades culturais que a cidade oferece, mas também passam, muito tempo a passear e a fazer desporto.
As relações profissionais são muito pouco burocratas e muito agradáveis. Todos os colegas do Departamento de Educação (na maioria professores) contribuíram para a minha rápida integração. Não me foram impostas quaisquer restrições na utilização das ferramentas que o museu possui e a interacção com outros departamentos (Comunicação, Infografia, etc.) é muito acessível. Pela semelhança com a nossa, também a língua não se revelou uma dificuldade: basta conhecer as palavras que são efectivamente diferentes.

@ua_online - Regressar a Portugal continua nos seus planos? Quando?
VF - Voltarei ainda antes do final do ano lectivo para terminar a parte escrita do projecto de estágio, sendo que ainda não está definido o local da sua apresentação. Regressar definitivamente é uma incerteza. Em grande parte dependerá do local onde venha a realizar a tese de mestrado, algo que também não está definido. 


NOTA:  já tinhamos aqui falado desta experiência da Vera - ler AQUI.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Notícia no Público sobre troglóbios

Descobertas duas espécies de invertebrados no Algarve e em Montejunto

O pseudoescorpiao foi encontrado em cavidades nas grutas algarvias

Duas novas espécies cavernícolas, um pseudoescorpião e um escaravelho, foram descobertas para a ciência em grutas do Algarve e do Montejunto pela bióloga e espeleóloga portuguesa Sofia Reboleira.

O pseudoescorpião – apenas semelhante ao escorpião no exterior – Titanobochica magna representa a descoberta de uma nova espécie e de um novo género, explicou ao PÚBLICO a investigadora. O escaravelho Trechus tatai é uma nova espécie, juntando-se às três espécies de escaravelhos cavernícolas já conhecidas em Portugal Continental, no maciço calcário das Serras de Aire e Candeeiros, todas endémicas. Duas delas foram oficialmente descobertas no ano passado, no âmbito do Mestrado da investigadora.

A descoberta do pseudoescorpião, depois de um ano de trabalho de campo, "foi uma enorme surpresa", contou Sofia Reboleira, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. "Quando vamos para o campo estamos à espera de encontrar alguma coisa nova, mas quando realmente a encontramos, é sempre uma grande surpresa".

A espécie, que só foi encontrada em quatro cavidades dos maciços calcários do Algarve - da zona de Portimão à de Olhão -, pode ser considerado um “gigante”, com os seus cerca de dois centímetros, dado que o tamanho destes animais oscila, normalmente, entre um e cinco milímetros. "Esta espécie não tem parentes à superfície, todos se extinguiram com as glaciações, alterações climáticas ou perturbações das placas tectónicas", explicou. "São verdadeiras relíquias" que só conseguiram sobreviver graças ao ambiente muito estável das grutas, nomeadamente às temperaturas constantes ao longo do ano.

Além do pseudoescorpião, Sofia Reboleira descobriu ainda uma nova espécie de escaravelho cavernícola, Trechus tatai, numa cavidade de Montejunto. “É despigmentado e tem os olhos muito reduzidos” descreveu.

Apesar de viverem em ambientes até agora pouco estudados, estas espécies merecem atenção. "As espécies cavernícolas não conseguem sobreviver em mais nenhum local, logo têm a sua distribuição geográfica muito reduzida. Qualquer perturbação pode pôr em causa a sua sobrevivência", sublinhou Sofia Reboleira. A investigadora lembrou, nomeadamente, a poluição por pesticidas e insecticidas que se podem infiltrar nas grutas e a perturbação ou mesmo destruição daqueles locais por actividades humanas.

Além disso, estas populações nunca são de grande dimensão. "Não tendo luz, as grutas onde vivem estes animais não têm plantas e as fontes de alimento são muito escassas. Por isso, as populações não podem ser muito grandes. Na verdade, estes são exemplares raríssimos".

Ainda assim, Sofia Reboleira acredita que a dimensão das populações destes insectos ainda não é conhecida na sua totalidade. "As grutas são apenas uma janela para observarmos a fauna, à qual temos acesso. Depois há uma rede de fissuras, por onde os animais passam, à qual não podemos chegar."

A descoberta das duas espécies, publicadas há duas semanas e na sexta-feira passada em revistas científicas especializadas em Zoologia, ocorreu durante o trabalho de campo no âmbito do doutoramento de Sofia Reboleira, orientado por Fernando Gonçalves (do departamento de biologia da Universidade de Aveiro) e Pedro Oromí (faculdade de biologia da Universidade de La Laguna, em Tenerife, Espanha).

O trabalho foi financiado pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia da qual Sofia Reboleira é bolseira há dois anos e meio.


NOTA: a Sofia Reboleira, minha conhecida da área da espeleologia, é a responsável pelo Blog Profundezas... e alguém que muito tem feito pela ligação entre Espeleologia, Biologia e Espeleologia - os nossos parabéns!

ADENDA: para verem a foto do novo escaravelho cavernícola, Trechus tatai, aqui fica um link do Profundezas...: Portugal tem um novo escaravelho cavernícola.