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quarta-feira, abril 17, 2024

Há um novo mural em Coimbra a celebrar o 55º aniversário da crise académica de 1969...

A Crise Académica de 1969, que abalou o Estado Novo, em filme de tvAAC

Coimbra começou uma crise académica há 55 anos...

(imagem daqui)
 
A crise académica de 1969 começou quando não foi permitido aos estudantes o uso da palavra durante uma inauguração. À greve e à falta aos exames assumidos pelos estudantes respondeu o governo com a prisão e a mobilização para a guerra do ultramar.

A crise começou no dia 17 de abril de 1969. Os estudantes pretendiam intervir durante a inauguração do edifício das matemáticas e o presidente da Direção Geral da Associação Académica, Alberto Martins, pediu a palavra, mas foi impedido de o fazer.

Os estudantes, que já estavam em protesto exigindo a reintegração de professores e a democratização do ensino superior, tomaram conta da sala onde decorria a inauguração. A crise agudiza-se nas horas e dias seguintes com a prisão de vários dirigentes académicos e a ocupação de Coimbra por forças militares e policiais.

O Ministro da Educação e o Reitor acabariam por se demitir, mas vários estudantes da academia seriam forçados a integrar as forças armadas, seguindo para a guerra do ultramar.

 

NOTA: A sala onde a crise começou não é desconhecida para os Geopedrados - eu, por exemplo, fiz o meu último exame, como estudante da licenciatura em Geologia, no edifício das Matemáticas da FCTUC, numa sala chamada, naturalmente, de 17 de abril...

segunda-feira, abril 15, 2024

Fernando Namora nasceu há 105 anos

  
Fernando Namora (Condeixa-a-Nova, 15 de abril de 1919 - Lisboa, 31 de janeiro de 1989) de nome completo Fernando Gonçalves Namora, foi um médico e escritor português, autor de uma extensa obra, das mais divulgadas e traduzidas nos anos 70 e 80.
 
Licenciado em Medicina (1942) pela Universidade de Coimbra, pertenceu à geração de 40, grupo literário que reuniu personalidades marcantes como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado ou João José Cochofel, moldando-o, certamente, como homem, à semelhança do exercício da profissão médica, primeiro na sua terra natal depois nas regiões da Beira Baixa e Alentejo, em locais como Tinalhas, Monsanto e Pavia, até que, em 1951, acabaria por se instalar em Lisboa - onde, curiosamente, muito jovem estudara, no Liceu Camões - como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.
O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, porventura sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro. Em (1938) surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo que viria a ser galardoado com o Prémio Almeida Garrett no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se activamente no projecto do Novo Cancioneiro (1941), colecção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando o advento do neo-realismo, tendo esta iniciativa colectiva, nascida nas tertúlias de Coimbra, de João José Cochofel, demarcado esse ponto de viragem na literatura portuguesa. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a colecção dos Novos Prosadores (1943), pela Coimbra Editora, reunindo os romances Fogo na Noite Escura, do biografado, Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros.
Com uma obra literária que se desenvolve ao longo de cinco décadas é de salientar a sua precoce vocação artística, de feição naturalista e poética, tal como a importância do período de formação em Coimbra, mais as suas tertúlias e movimentos estudantis. Ao dar-se o amadurecimento estético do neo-realismo e coincidente com as vivências dos anos 50, enveredaria por novos caminhos, através de uma interpretação pessoal da narrativa, que o levaria a situar-se entre a ficção e a análise social. Os muitos textos que escreveu, nos diferentes momentos ou fases da vida literária, apresentam retratos com aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Independentemente do enquadramento, Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, inseparável de uma grande sensibilidade e linguagem poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem, com destaque para os cadernos de um escritor, que proporcionam um diálogo vivo com o leitor, a abertura a outras culturas, terras e gentes, a visão de um mundo em transformação, de uma realidade emergente, expressa em Estamos no Vento (Fevereiro de 1974).
Entre os muitos títulos que publica em prosa contam-se Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), (capítulo inédito publicado no nº 16 da revista Mundo literário existente entre 1946 e 1948), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957), Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961, Prémio José Lins do Rego), Os Clandestinos (1972), Resposta a Matilde (1980) e O Rio Triste (1982, Prémio Fernando Chinaglia, Prémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis). Ou, as biografias romanceadas de Deuses e Demónios da Medicina (1952). Além dos títulos já referidos, publicou em poesia Mar de Sargaços (1940), Marketing (1969) e Nome para uma Casa (1984) . Toda a sua produção poética seminal foi reunida numa antologia(1959) denominada As Frias Madrugadas. Escreveu ainda sobre o mundo e a sociedade em geral, na forma de narrativas romanceadas ou de anotações de viagem e reflexões críticas, sendo disso exemplo Diálogo em Setembro (1966), Um Sino na Montanha (1968), Os Adoradores do Sol (1971), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977), URSS, Mal Amada, Bem Amada e Sentados na Relva, ambos de (1986). Porém, foram romances como os Retalhos da Vida de um Médico, O Trigo e o Joio, Domingo à Tarde, O Homem Disfarçado ou O Rio Triste, que vieram a ser traduzidos em diversas línguas, tendo inclusive, em 1981, sido proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.
    

Profecia 

Nem me disseram ainda
para o que vim.
Se logro ou verdade,
se filho amado ou rejeitado.
Mas sei
que quando cheguei
os meus olhos viram tudo
e tontos de gula ou espanto
renegaram tudo
— e no meu sangue veias se abriram
noutro sangue...
A ele obedeço,
sempre,
a esse incitamento mudo.
Também sei
que hei-de perecer, exangue,
de excesso de desejar;
mas sinto,
sempre,
que não posso recuar.

Hei-de ir contigo
bebendo fel, sorvendo pragas,
ultrajado e temido,
abandonado aos corvos,
com o pus dos bolores
e o fogo das lavas.
Hei-de assustar os rebanhos dos montes
ser bandoleiro de estradas.
— Negro fado, feia sina,
mas não sei trocar a minha sorte!

Não venham dizer-me
com frases adocicadas
(não venham que os não oiço)
que levo caminho errado,
que tenho os caminhos cerrados
à minha febre!
Hei-de gritar,
cair, sofrer
— eu sei.
Mas não quero ter outra lei,
outro fado, outro viver.
Não importa lá chegar...
O que eu quero é ir em frente
sem loas, ópios ou afagos
dos lábios que mentem.

É esta, não é outra, a minha crença.
Raios vos partam, vós que duvidais,
raios vos partam, cegos de nascença!
 
 
in Relevos (1927) - Fernando Namora

terça-feira, abril 09, 2024

Saudades de Adriano...

Adriano Correia de Oliveira nasceu há oitenta e dois anos...

(imagem daqui)
    
Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira (Porto, 9 de abril de 1942 - Avintes, 16 de outubro de 1982) foi um músico português. Mudou-se para Avintes ainda com poucos meses de vida.
 
Filho de Joaquim Gomes de Oliveira e de sua mulher, Laura Correia, Adriano foi um intérprete do fado de Coimbra e cantor de intervenção. A sua família era marcadamente católica, crescendo num ambiente que descreveu como «marcadamente rural, entre videiras, cães domésticos e belas alamedas arborizadas com vista para o rio». Depois de frequentar o Liceu Alexandre Herculano, no Porto, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1959. Viveu na Real República Ras-Teparta, foi solista no Orfeon Académico, membro do Grupo Universitário de Danças e Cantares, ator no CITAC, guitarrista no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica e jogador de voleibol na Briosa. Na década de 60 adere ao Partido Comunista Português, envolvendo-se nas greves académicas de 62, contra o salazarismo. Nesse ano foi candidato à Associação Académica de Coimbra, numa lista apoiada pelo MUD.
Data de 1963 o seu primeiro EP, Fados de Coimbra. Acompanhado por António Portugal e Rui Pato, o álbum continha a interpretação de Trova do vento que passa, poema de Manuel Alegre, que se tornaria uma espécie de hino da resistência dos estudantes à ditadura. Em 1967 gravou o álbum Adriano Correia de Oliveira, que, entre outras canções, tinha Canção com lágrimas.
Em 1966 casa-se com Maria Matilde de Lemos de Figueiredo Leite, filha do médico António Manuel Vieira de Figueiredo Leite (Coimbra, Taveiro, 11 de outubro de 1917 - Coimbra, 22 de março de 2000) e de sua mulher Maria Margarida de Seixas Nogueira de Lemos (Salsete, São Tomé, 13 de junho de 1923), depois casada com Carlos Acosta. O casal, que mais tarde se separaria, veio a ter dois filhos: Isabel, nascida em 1967, e José Manuel, nascido em 1971. Chamado a cumprir o Serviço Militar, em 1967, ficaria apenas a uma disciplina de se formar em Direito.
Em 1970 troca Coimbra por Lisboa, exercendo funções no Gabinete de Imprensa da FIL - Feira Industrial de Lisboa, até 1974. Ainda em 1969 vê editado o álbum O Canto e as Armas, revelando, de novo, vários poemas de Manuel Alegre. Pela sua obra recebe, no mesmo ano, o Prémio Pozal Domingues.
Lança Cantaremos, em 1970, e Gente d' aqui e de agora, em 1971, este último com o primeiro arranjo, como maestro, de José Calvário, e composição de José Niza. Em 1973 lança Fados de Coimbra, em disco, e funda a Editora Edicta, com Carlos Vargas, para se tornar produtor na Orfeu, em 1974. Participa na fundação da Cooperativa Cantabril, logo após a Revolução dos Cravos e lança, em 1975, Que nunca mais, onde se inclui o tema Tejo que levas as águas. A revista inglesa Music Week elege-o Artista do Ano. Em 1980 lança o seu último álbum, Cantigas Portuguesas, ingressando no ano seguinte na Cooperativa Era Nova, em rutura com a Cantabril.
Vítima de uma hemorragia esofágica, morreu na quinta da família, em Avintes, nos braços da sua mãe.
A 24 de setembro de 1983 foi feito Comendador da Ordem da Liberdade e a 24 de abril de 1994 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em ambos os casos a título póstumo.
  

 

 

Por Aquele Caminho - Adriano Correia de Oliveira
Música de Adriano Correia de Oliveira e Rui Pato
Letra de José Afonso
 
 

Por aquele caminho
De alegria escrava
Vai um caminheiro
Com sol nas espáduas

Ganha o seu sustento
De plantar o milho
Aquece-o a chama
De um poder antigo

Leva o solitário
Sob os pés marcado
Um rasto de sangue
De sangue lavado

Levanta-se o vento
Levanta-se a mágoa
Soltam-se as esporas
De uma antiga chaga

Mas tudo no rosto
De negro nascido
Indica que o negro
É um espectro vivo

Quem lhe dá guarida
Mostra-lhe a pintura
Duma cor que valha
Para a sepultura

Não de mão beijada
Para que não viva
Nele toda a raiva
Dessa dor antiga

Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
De outra sementeira

O sol vem primeiro
Grande como um sino
Pensa o caminheiro
Que já foi menino

 

sábado, abril 06, 2024

José Bonifácio de Andrada e Silva morreu há 186 anos...

    
José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 13 de junho de 1763 - Niterói, 6 de abril de 1838) foi um naturalista, estadista e poeta brasileiro. É conhecido pelo epíteto de "Patriarca da Independência" por ter sido uma pessoa decisiva para a Independência do Brasil.
Pode-se resumir brevemente a sua atuação dizendo que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823. De início, colocou-se em apoio à regência de D. Pedro de Alcântara. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos Martim Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva com o imperador. Em 16 de julho de 1823, D. Pedro I demitiu o ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da Constituinte, em 11 de novembro de 1823, José Bonifácio foi banido e exilou-se na França durante seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a tutoria do seu filho quando Pedro I abdicou, em 1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência.
    
(...)
    
Em 1783, partiu do Rio de Janeiro para Portugal, matriculando-se em outubro na Universidade de Coimbra e iniciando a 30 de outubro seu curso de estudos jurídicos, acrescidos um ano mais tarde, 11 e 12 de outubro de 1784, dos de matemática e filosofia natural.
Além dos cursos, leu muito. Já poetava, e numa ode sua surgem os nomes de Leibnitz, Newton e Descartes. Leu sobretudo Rousseau e Voltaire, mas leu também Montesquieu, Locke, Pope, Virgílio, Horácio e Camões, e se indignou contra o "mostro horrendo do despotismo". Os seus versos apelavam para as promessas da independência recém-proclamada dos Estados Unidos. Ainda estudante, cuidou de duas questões por cuja solução em vão se empenharia mais tarde: a civilização dos índios, a abolição do tráfico negreiro e da escravatura dos negros.
   
(...)
    
Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas à revolução industrial. José Bonifácio concluiu, em 16 de junho de 1787, o seu curso de Filosofia Natural e, a 5 de julho de 1788, o de Leis. Recebeu em Portugal apoio do duque de Lafões, D. João de Bragança, que, em 1780, fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 8 de julho de 1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da magistratura. Cinco meses antes, em 4 de março, fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista. Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento humano. Tinha por divisa: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. A sua primeira memória apresentada à Academia foi Memória sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias.
    
Visita à Europa
Foi comissionado, em 18 de fevereiro de 1790, para empreender, às custa do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.
Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Os seus biógrafos citam contactos com Lavoisier, Chaptal, Jussieu e outros. Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria uma memória sobre diamantes no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na Saxónia, em Freiburgo, cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde um atestado de que havia frequentado um curso completo de Orictognosia e outro de Geognosia. Ali cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner. Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na Europa - a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como amigos Alexander von Humboldt, Leopold von Buch e Del Río. Percorreu minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi a Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta; em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em 1794, chamado Viagem geognóstica aos Montes Eugâneos. Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na Suécia e na Noruega, a partir de 1796, caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas (entre os quais a petalita e o diópsido) e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome.
Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado. Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitara, além dos países citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia.
     

quinta-feira, março 28, 2024

Bernardino Machado nasceu há 173 anos

Bernardino Machado enquanto Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido

 

Bernardino Luís Machado Guimarães (Rio de Janeiro, 28 de março de 1851Santo Ildefonso, Porto, 29 de abril de 1944) foi o terceiro e o oitavo presidente eleito da República Portuguesa. Foi presidente da República Portuguesa por duas vezes: primeiro, de 6 de agosto de 1915 até 5 de dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, obrigando-o a abandonar o país; mais tarde, em 1925, volta à presidência da República para, um ano depois, voltar a ser destituído pela revolução militar de 28 de Maio de 1926, que instituirá a Ditadura Militar e abrirá caminho à instauração do Estado Novo

 

in Wikipédia

terça-feira, março 19, 2024

Cotelo Neiva, geólogo e antigo Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, morreu há nove anos...


Nasceu a 18 de fevereiro de 1917 na freguesia de Cedofeita, Porto, foi nomeado Professor Catedrático da Universidade de Coimbra em 1949 e seu Reitor entre 1971 e 1974, tendo-se Jubilado como Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Terra em 1987.
Licenciado em Ciências Geológicas, com distinção, pela Universidade do Porto, em 1938, onde foi contratado em 1939 como assistente do Grupo de Ciências Geológicas. Doutorado nesta Universidade em 1944, com a tese “Jazigos Portugueses de Cassiterite e Volframite”, onde passou a exercer funções de 1º assistente de 1945 a 1948. Prestou provas públicas para professor extraordinário com a tese “Rochas e minérios da região de Bragança-Vinhais”, em 1948, na Universidade do Porto. Foi Professor Extraordinário nesta Universidade de 1948 a 1949. Em 1949, prestou provas públicas para Professor Catedrático na Universidade de Coimbra, tendo dado a lição “Geologia dos minérios de ferro portugueses – seu interesse para a siderurgia”.
Entre 1950 e 1974, dirigiu o Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra. Foi diretor dos Centro de Estudos Geológicos (1950-1975), do Agrupamento de Estudos Geológicos do Ultramar (1954-1974) e do Centro de Estudos de Mineralogia e Geologia de Coimbra (1958-1974).
Colaborou com os Serviços Geológicos de Portugal desde 1940, Serviço de Fomento Mineiro (1945-1963) e Laboratório Nacional de Engenharia Civil (1962-1964). Foi membro do Conselho Superior de Minas e Serviços Geológicos (1958-1974), do Centro de Investigação Científica do Instituto de Alta Cultura (1964-1973) e da Junta Nacional de Educação (1971-1974).
Foi diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, entre 1963 e 1971, onde se destacou pela reforma das várias licenciaturas, pelo desenvolvimento da investigação e pelo apetrechamento didático.
Entre 1971 e 1974, assumiu o cargo de Reitor da Universidade de Coimbra, tendo protagonizado o crescimento físico e orgânico da Universidade, com a transformação da Faculdade de Ciências em Faculdade de Ciências e Tecnologia, a criação da Faculdade de Economia e deixou organizado o processo de criação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Desenvolveu os Serviços Sociais para os funcionários e estudantes, tendo sido responsável pela instalação de serviços de benefícios múltiplos.
A sua atividade académica é marcada pela investigação nos domínios dos recursos geológicos, nomeadamente, das mineralizações e dos jazigos minerais e dos processos geoquímicos associados, bem como da geologia de engenharia, relacionada com a cartografia geológica e geotécnica e com o comportamento geomecânico dos materiais.
Realizou estudos geológicos e petrográficos em Portugal continental, Porto Santo, Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Macau e Timor. Estudou jazigos minerais e pedreiras em Portugal, Angola, Moçambique e Goa.
Foi consultor dos principais projetos hidroelétricos em Portugal e nas ex-colónias, desde 1957, onde marcou as equipas multidisciplinares de projeto e construção das principais barragens, tendo mantido essa atividade até 2002.
A sua bibliografia é composta por 203 trabalhos científicos publicados e 334 relatórios de Geologia Económica e de Geologia Aplicada, os quais tiveram impacto nacional e internacional.
Foi um dos fundadores da Sociedade Geológica de Portugal (1941) e da Sociedad Española de Cristalografia e Mineralogia (1975).
Na Academia das Ciências de Lisboa, foi Membro Correspondente de 1983 a 1987, Membro Efetivo de 1987 a 2013 e Sócio Emérito de 2013 a 2015. Foi Sócio Emérito da Academia de Engenharia de 2009 a 2015.
Foi-lhe concedido a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública por Sua Excelência o Presidente da República, em 2003.
Em 2015, a Sociedade Geológica de Portugal instituiu o prémio Cotelo Neiva destinado a homenagear e distinguir a carreira científica e/ou profissional de um geólogo português.
  
 

sexta-feira, março 15, 2024

Carolina Michaëlis nasceu há 173 anos...


Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos (Berlim, 15 de março de 1851 - Porto, 22 de outubro de 1925) foi uma crítica literária, escritora, lexicógrafa e professora universitária, tendo sido a primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa, na Universidade de Coimbra, e uma das duas primeiras a entrar na Academia das Ciências. Teve igualmente grande importância como mediadora entre a cultura portuguesa e a cultura alemã. 

 

Família e nascimento

Nascida em Berlim, Prússia, na época parte da Confederação Germânica, a 15 de março de 1851, Carolina Wilhelma Michaëlis era filha do professor liceal de matemática e, mais tarde na universidade de fonética e estenografia, Gustav Michaëlis, e de Henriette Louise Lobeck. Era a mais nova dos cinco filhos do casal, sendo irmã da lexicógrafa e autora dos primeiros dicionários Michaelis, Henriette Michaëlis.

 

Primeiros Anos

Desde muito cedo demonstrou ter uma rara aptidão e gosto pelas línguas e literatura germânica, eslava e latina, tendo ingressado com 7 anos no colégio feminino municipal Luisenschule já a saber ler e escrever. Aos 12 anos de idade tornou-se órfã de mãe. Querendo aprofundar os seus estudos, e apesar do ensino superior ser à época exclusivo para o sexo masculino, dos 16 aos 25 anos foi educada e instruída pelo seu pai, o filólogo Eduard Matzner e pelo romancista e amigo da família Carl Goldbeck que lhe ensinaram filologia clássica e românica, para além de literatura greco-romana, francesa, espanhola e italiana, entre outras.

Em 1867, com apenas 16 anos de idade, Carolina começou a publicar em revistas alemãs da especialidade e, com 20 anos, já trabalhava como tradutora e intérprete para os assuntos da Península Ibérica, no Ministério do Interior alemão, assim como colaborara nas enciclopédias de Brockhaus e Meyer e em várias revistas e periódicos internacionais, como a Bibliografia Crítica de História e Literatura, dirigida por Francisco Adolfo Coelho.

 

 Casamento

Em 1876, durante a sua colaboração luso-germânica e após o polémico caso da "Questão do Fausto", na qual foi bastante criticada a versão traduzida da obra Fausto, de Goëthe, feita por António Feliciano de Castilho, Carolina conheceu Joaquim António da Fonseca de Vasconcelos, musicólogo e historiador de arte português. Com ele, iniciou uma longa correspondência de cartas que, em pouco tempo, se transformou num fervoroso namoro à distância. Ficou conhecido o episódio em que Joaquim António de Vasconcelos, arrebatado e decidido em ir ao encontro da sua amada, em plena terceira guerra carlista, à falta de comboios, decidiu atravessar os Pirenéus a cavalo. Nesse mesmo ano, os dois casaram-se em Berlim e foi dada a dupla cidadania a Carolina.

Após o casamento, o casal mudou-se para Portugal, dividindo o seu tempo entre a localidade de Vasconcelos, no distrito de Braga, e as cidades de Lisboa e Porto, para além da sua casa de férias em Águas Santas. Apesar de ter dedicado esses primeiros anos à sua vida familiar, Carolina Michaëlis de Vasconcelos nunca deixou os estudos e investigações, e em 1877, durante os primeiros meses de gravidez, era frequente vê-la passar as tardes na biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, a recolher dados sobre a língua e a literatura do folclore português, especialmente do período arcaico. Pouco depois tornou-se sócia honorária do Instituto de Línguas Vivas de Berlim e, em dezembro desse mesmo ano, nasceu o seu primeiro e único filho, Carlos Joaquim Michaëlis de Vasconcelos.

  

Investigação literária e carreira profissional

Decidida a investigar mais sobre a literatura, língua e história de Portugal, Carolina Michaëlis de Vasconcelos começou a desenvolver um intenso trabalho de investigação, levando-a a se corresponder com inúmeras figuras da elite intelectual e cultural do país, como escritores, políticos, historiadores, médicos e filólogos, tais como Eugénio de Castro, Antero de Quental, João de Deus de Nogueira Ramos, Henrique Lopes de Mendonça, José Leite de Vasconcelos, Conde de Sabugosa, Teófilo Braga, Trindade Coelho, Anselmo Braamcamp Freire, Sousa Viterbo, Alexandre Herculano, António Egas Moniz e Ricardo Jorge, ou personalidades espanholas, como os escritores Menéndez y Pelayo e Menéndez Pidal, para além de diversas outras figuras de origem francesa, inglesa e alemã.

Pelo seu trabalho na divulgação e valorização da língua portuguesa, em 1901, foi-lhe concedida pelo rei D. Carlos a insígnia de oficial da Real Ordem Militar de Santiago da Espada.

Dez anos depois, em 1911, Carolina Michaëlis de Vasconcelos foi nomeada, por distinção, docente de Filologia Germânica da Universidade de Lisboa, tornando-se na primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa. Um ano depois, por querer estar mais perto da cidade do Porto, pediu transferência para a Universidade de Coimbra, onde viria a reger cinco cursos distintos: dois de Filologia (românica e portuguesa) e três de Língua e Literatura Alemã.

Nesse mesmo ano, foi inscrita e votada para entrar, novamente por mérito, juntamente com Maria Amália Vaz de Carvalho, como membro e sócia da Academia das Ciências de Lisboa, tornando-se assim numa das primeiras mulheres a entrar na prestigiada instituição científica.

Em 1924, dirigiu a revista Lusitânia (1924-1927), uma das publicações de maior projeção cultural em território nacional. 

  

(...)

    

Morte

Faleceu a 22 de outubro de 1925, com 74 anos de idade, no Porto. No seu enterro, escritores, jornalistas e colegas, assim como o Presidente da República, Teixeira Gomes, acompanharam o corpo da escritora desde a sua casa, na Rua de Cedofeita, até ao cemitério de Agramonte.
 

quarta-feira, março 13, 2024

Música para recordar o Cesário, o presidente da AAC precocemente desaparecido...

Cesário Silva, presidente da Associação Académica de Coimbra, morreu há dois anos...

Cesário Silva

Cesário Silva esteve desde cedo ligado ao associativismo, tendo sido presidente do Núcleo de Estudantes de Informática e ainda membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra

O presidente da direção-geral da Associação Académica de Coimbra, Cesário Silva, morreu hoje em consequência de um acidente de viação em Oliveira de Azeméis, revelou à agência Lusa o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão.
Cesário Silva, 24 anos, estudante de Engenharia Informática, morreu na sequência de um choque frontal entre duas viaturas ligeiras, ocorrido durante a tarde na estrada nacional 224, no concelho de Oliveira de Azeméis.
Fonte dos bombeiros de Oliveira de Azeméis contou à agência Lusa que o acidente causou dois feridos graves, transportados para o Hospital de Gaia, mas um deles, Cesário Silva, acabou por morrer.
Cesário Silva tinha tomado posse em dezembro passado como presidente da direção-geral da Associação Académica de Coimbra.
Em comunicado, a câmara municipal de Coimbra lamentou "profundamente a morte prematura" de Cesário Silva, sublinhando que é uma "dolorosa perda" para a cidade.
Estudante na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Cesário Silva "esteve desde cedo ligado ao associativismo, tendo sido presidente do Núcleo de Estudantes de Informática e ainda membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra", referiu a câmara municipal.
 
in CNN

sexta-feira, março 08, 2024

João de Deus, poeta e pedagogo, nasceu há 194 anos

  
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objeto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
    

 

Melancolia

 

Oh dôce luz! oh lua!
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que fluctua
De engano em desengano!
   Oh creação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E á dôr que nos opprime
Abres-lhe um oceano!

É esse céo um lago,
E tu, reflexo vago
D'um sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
   Oh luz orphã do dia!
Que mystica harmonia
Ha n'essa luz tão fria,
E a sombra que me guia
N'este areal deserto!

Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que és imagem,
Não tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
   Fita-te a gente, estuda,
(Sem mêdo que se illuda)
Essa linguagem muda...
O teu olhar ajuda...
E a gente sente e chora!

Ah! sempre que descrevas
A orbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vês nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
   As victimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as d'essas féras brutas...
E as lastimas, as luctas
Da orphã e do pobre!

 

João de Deus

Poesia (cantada...) adequado à data...

 

 

 

LÁGRIMA CELESTE

 

Lágrima celeste,

pérola do mar,

tu que me fizeste

para me encantar!

 

Ah! se tu não fosses

lágrima do céu,

lágrimas tão doces

não chorava eu.

 

Se eu nunca te visse,

bonina do vale,

talvez não sentisse

nunca amor igual.

 

Pomba debandada,

que é dos filhos teus?

Luz da madrugada,

luz dos olhos meus!

 

Meu suspiro eterno,

meu eterno amor,

de um olhar mais terno

que o abrir da flor.

 

Quando o néctar chora

que se lhe introduz

ao romper da aurora

e ao raiar da luz!

 

Esta voz te enleve,

este adeus lá soe,

o Senhor to leve

e Deus te abençoe.

 

O Senhor te diga

se te adoro ou não,

minha doce amiga

do meu coração!

 

Se de ti me esqueço

ou já me esqueci,

ou se mais lhe peço

do que ver-te a ti!

 

A ti, que amo tanto

como a flor a luz,

como a ave o canto,

e o Cordeiro a Cruz;

 

A campa o cipreste,

a rola o seu par,

lágrima celeste,

pérola do mar.

 

Lágrima celeste,

pérola do mar,

tu que me fizeste

para me encantar?

 


in Campo de Flores (1868) - João de Deus

quarta-feira, março 06, 2024

Luís de Albuquerque nasceu há 107 anos

(imagem daqui)
  
Luís Guilherme Mendonça de Albuquerque, igualmente conhecido como Luís de Albuquerque (Lisboa, 6 de março de 1917 - Lisboa, 22 de janeiro de 1992) foi um professor universitário de Matemática e de Engenharia Geográfica, e um historiador dos Descobrimentos Portugueses.

Nasceu em Lisboa, em 1917, e faleceu na mesma localidade, em 1992.

Iniciou a sua carreira como docente na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em 1941, aonde também foi um especialista em História da Educação; nesta mesma instituição ascendeu, por concurso público, a professor catedrático, em 9 de julho de 1966.
Foi aclamado como um dos principais vultos da historiografia do século XX no estudo dos Descobrimentos Portugueses, tendo escrito para jovens e crianças, e analisado a história da náutica e da marinha. Exerceu, igualmente, a posição de presidente da Comissão Científica da Comissão dos Descobrimentos Portugueses.
Na sequência da Revolução de 25 de abril, foi nomeado governador civil do distrito de Coimbra, cargo que ocupou entre 1974 e 1976.
Entre 1978 e a sua jubilação, em 1987, foi diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
Em 1983, colaborou na organização da XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura.
      

segunda-feira, março 04, 2024

Eugénio de Castro nasceu há 155 anos

(imagem daqui)
         
Eugénio de Castro e Almeida (Coimbra, 4 de março de 1869 - Coimbra, 17 de agosto de 1944) foi um poeta português.
    
Biografia
Por volta de 1889 formou-se em Letras pela Universidade de Coimbra e mais tarde veio a lecionar nessa faculdade. Funda a revista "Os Insubmissos" com João Menezes e Francisco Bastos ainda nos últimos anos da sua licenciatura, mais propriamente em 1889. Colaborou com a revista que fundou e com a revista "Boémia nova", ambas seguidoras do Simbolismo Francês. Teve também colaboração em várias publicações periódicas do século XIX, nomeadamente: A imprensa (1885-1891), Ave azul (1899-1900), A semana de Lisboa (1893-1895), A leitura (1894-1896), Branco e Negro (1896-1898); nas duas séries da Ilustração Portuguesa: Illustração Portugueza (1884-1890) e Illustração portugueza (iniciada em 1903), e ainda, em diversas revistas do Século XX, entre as quais a revista Serões (1901-1911), Atlantida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926) e na revista Ilustração (iniciada em 1926). Em 1890 entrou para a história da literatura portuguesa com o lançamento do livro de poemas "Oaristos", marco inicial do simbolismo em Portugal.
A obra de Eugénio de Castro pode ser dividida em duas fases: na primeira, a fase simbolista, que corresponde a sua produção poética até o fim do século XIX, Eugénio de Castro apresenta algumas características da Escola Simbolista, como o uso de rimas novas e raras, novas métricas, sinestesias, aliterações e vocabulário mais rico e musical.
Na segunda fase ou neoclássica, que corresponde aos poemas escritos já no século XX, vemos um poeta voltado à Antiguidade Clássica e ao passado português, revelando um certo saudosismo, característico das primeiras décadas do século XX em Portugal.
Casou-se em 22 de maio de 1898 com Brígida Augusta Correia Portal, e desse casamento nasceram seis filhos.
Foi homenageado em Coimbra através da atribuição do seu nome a uma escola da cidade - o atual Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro.
 
Obras
  • Cristalizações da Morte (1884)
  • Canções de Abril (1884)
  • Jesus de Nazareth (1885)
  • Per Umbram (1887)
  • Horas Tristes (1888)
  • Oaristos (1890)
  • Horas (1891)
  • Sylva (1894)
  • Interlúnio (1894)
  • Belkiss (1894)
  • Tirésias (1895)
  • Sagramor (1895)
  • Salomé e Outros Poemas (1896)
  • A Nereide de Harlém (1896)
  • O Rei Galaor (1897)
  • Saudades do Céu (1899)
  • Constança (1900)
  • Depois da Ceifa (1901)
  • A Sombra do Quadrante (1906)
  • O Anel de Polícrates (1907)
  • A Fonte do Sátiro (1908),
  • O Cavaleiro das Mãos Irresistíveis (1916)
  • Camafeus Romanos (1921)
  • Tentação de São Macário (1922)
  • Canções desta Negra Vida (1922)
  • Cravos de Papel (1922)
  • A mantilha de Medronhos (1923)
  • A Caixinha das Cem Conchas (1923)
  • Descendo a Encosta (1924)
  • Chamas duma Candeia Velha (1925)
  • Éclogas (1929)
  • Últimos Versos (1938)
 
   

 

Um Sonho

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
O sol, celestial girasol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves
Suaves...

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o sol,o celestial girasol,esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos,Flor!à flor destes floridos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Como aqui se está bem!Além freme a quermesse...
- Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam,Flor!à flor dos frescos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Esmaiece na messe o rumor da quermesse...
- Não ouves este ai que esmaiece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta,absorto,à flor dos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Penumbra de veludo . Esmorece a quermesse...
Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece...
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos ,
Cítolas,cítaras,sistros ,
Soam suaves , sonolentos ,
Sonolentos e suaves ,
Em Suaves ,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Teus lábios de cinábrio,entreabre-os!Da quermesse
O rumor amolece,esmaiece,esmorece...
Dê-me que eu beije os teus morenos e amenos
Peitos!Rolemos,Flor!à flor dos flóreos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Ah! não resista mais a meus ais!Da quermesse
O atroador clangor,o rumor esmorece...
Rolemos,ó morena!em contactos amenos!
- Vibram três tiros à florida flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas,cítaras,sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em Suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Três da manhã. Desperto incerto... E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah!tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz,luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora,à flor dos flóreos fenos...
 
    
    
  
in
Oaristos (1890) - Eugénio de Castro