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sexta-feira, janeiro 05, 2024

O Ramal de Pampilhosa foi abandonado há quinze anos...

  

O Ramal da Figueira da Foz, igualmente conhecido como Ramal de Pampilhosa, e originalmente como Linha da Beira Alta (em conjunto com o troço de Pampilhosa a Vilar Formoso), é uma ligação ferroviária desativada, situada no centro-oeste de Portugal. Ligava a estação de Figueira da Foz (que é também término da Linha do Oeste) à estação de Pampilhosa, na intersecção da Linha do Norte com a Linha da Beira Alta, numa distância total de 50,4 quilómetros.

Construída pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, esta linha foi inaugurada em 3 de agosto de 1882 e foi explorada por aquela companhia até 1947, ano em que a exploração foi transferida para a CP. Em 1992, este troço ferroviário foi destacado da Linha da Beira Alta e renomeado como Ramal da Figueira da Foz.

O tráfego no Ramal da Figueira da Foz foi suspenso em 5 de janeiro de 2009, por motivos de segurança e para a realização de obras de modernização. No entanto, não foram concluídas quaisquer obras, tendo o serviço rodoviário de substituição sido encerrado em 1 de janeiro de 2012 e a remoção física da via sido iniciada em 2013.
   
Apeadeiro de Santana-Ferreira (PK 15,8)

 

quarta-feira, setembro 06, 2023

Até os aldrabões fazem anos...

(imagem daqui)

 

Ideias

Honra, Brio, Dignidade:
Onde estais? Quem vos preza?
Não posso viver pobre: – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, paredes húmidas, bolores,
Ao pensar na pobreza! Ideias.
E causam-me suores.

 

in Ossadas (1947) - Afonso Duarte

Poema para um aldrabão que caiu na asneira de fazer hoje anos...

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

sábado, junho 10, 2023

Camões fartou-se disto há 443 anos...

(imagem daqui)

      
 

Camões dirige-se aos seus contemporâneos
    
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
    
     


Jorge de Sena

 

terça-feira, maio 23, 2023

Bonnie e Clyde foram mortos há 89 anos...

  
Bonnie Elizabeth Parker (Rowena, 1 de outubro de 1910 - Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi uma famosa criminosa norte-americana que, com o namorado Clyde Barrow e a sua quadrilha de assaltantes, cometeu assaltos pelo interior dos Estados Unidos no começo da década de 30, até ser morta pela polícia, em 1934. Ela e o seu companheiro ficaram conhecidos na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Bonnie teve uma infância pobre e difícil com a mãe e os dois irmãos, depois que o seu pai morreu quando ela tinha quatro anos, provocando a mudança da família de sua cidade natal de Rowena para Dallas, no mesmo estado do Texas.
Apesar da infância na mais absoluta pobreza, ela era uma ótima aluna de inglês e redação que escrevia poemas de qualidade, inclusive vencendo para a sua escola um concurso da liga de ensino do Condado em literatura. Na adolescência, a sua facilidade com a escrita fez com que chegasse a trabalhar escrevendo introduções de discursos para políticos locais. Descrita como uma jovem inteligente, de personalidade e força de vontade pelos que a conheceram, Bonnie era uma pequena loira atraente de 1,50 m e 41 kg.
O seu talento para a poesia e a literatura ficou expresso em dois poemas que se tornaram famosos após sua morte, Suicide Sal e The Story of Bonnie and Clyde.
Bonnie casou-se em setembro de 1926, aos quinze anos, com Roy Thornton, um rapaz da área, mas o casamento durou pouco e eles separaram-se em janeiro de 1929 e Roy foi condenado a cinco anos de cadeia por roubo, pouco tempo depois. Em 1930, trabalhando como empregada de bar, conheceu o homem que mudaria a sua vida, a levaria para uma vida aventureira e de fora-da-lei de crimes e a tornaria famosa no mundo todo por gerações, Clyde Barrow.
Clyde tinha a mesma idade de Bonnie e quando se conheceram apaixonaram-se imediatamente e Bonnie largou tudo para seguir-lo. Dali em diante, ela mostrar-se-ia uma leal companheira de Clyde e com a ajuda de outros bandidos e do irmão de Barrow, os dois formaram uma quadrilha que aterrorizaria por quase quatro anos o centro dos Estados Unidos, assassinando civis e policiais e assaltando bancos, lojas e postos de gasolina, sendo mitificados pelos media americana, até serem mortos numa emboscada, depois de uma longa caçada humana, numa estrada deserta perto de Bienville Parishem, no estado da Louisiana, em 23 de maio de 1934.
   

 

Clyde Champion Barrow (Condado de Ellis, 24 de março de 1909Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi um ladrão e assassino que aterrorizou o meio-oeste dos Estados Unidos no começo da década de 30, chefiando uma quadrilha de assalto a bancos e postos de gasolina integrada por seu irmão Buck, por sua namorada Bonnie Parker e por outros bandidos. Os seus feitos tornaram o casal conhecido na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Nascido numa família pobre de pequenos fazendeiros, desde cedo Clyde começou seu envolvimento com a polícia e o crime. Aos 16 anos foi preso pela primeira vez ao fugir de um policial quando foi interpelado sobre um carro alugado em seu poder, que ele não havia devolvido à locadora no prazo certo. A segunda prisão, desta vez junto com seu irmão Buck, foi por roubar perus de uma propriedade.
Mesmo conseguindo pequenos trabalhos entre 1927 e 1929, Clyde continuou praticando pequenos furtos em lojas de conveniência e roubando carros. Apesar de ser principalmente reconhecido como assaltante de bancos, a preferência de Clyde era por pequenos roubos em postos de gasolina e lojas.
De acordo com o historiador John Neal Phillips, e ao contrario da errônea imagem fria de Clyde Barrow passada no clássico filme Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas de Warren Beatty, o objetivo de vida de Clyde não era ficar famoso e rico assaltando bancos, mas se vingar do sistema carcerário americano pelos abusos que havia sofrido em suas prisões. Segundo Phillips, ele na verdade se sentia culpado pelas pessoas que assassinava.
Depois de conhecer Bonnie Parker em 1930, Clyde, Bonnie, Buck e Blanche montaram a quadrilha conhecida como Barrow Gang e nos anos seguintes levaram o terror à população dos estados centrais dos EUA, assaltando e matando civis e policiais que se colocavam em seu caminho, até ser finalmente morto a tiros junto com Bonnie dentro do carro que dirigiam, numa emboscada montada pela polícia numa estrada deserta da Louisiana em 23 de maio de 1934.
   
A Carta   

Antes de morrer, durante uma fuga, Clyde escreveu uma carta com endereço para Henry Ford elogiando a excelente mecânica V8 dos Ford's que construiu. Aqui está o texto da carta:


Tulsa - Oklahoma
10 de abril
Sr. Henry Ford
Detroit - Michigan

Enquanto ainda tenho ar em meus pulmões, escrevo para dizer, que carro elegante o senhor construiu. Tenho dirigido exclusivamente Ford's, quando consigo roubar um. Para manter a velocidade e a liberdade longe de problemas, o Ford deixa os outros carros para trás e, se meu trabalho não é estritamente legal, também não me ofendo ninguém ao dizer que magnífico veículo o seu V8.
Sinceramente seu,
Clyde Champion Barrow
       
O Filme
Em 1967, um filme sobre a vida dos dois amantes e assassinos, Bonnie e Clyde, dirigido por Arthur Penn e tendo como estrelas Warren Beatty e Faye Dunaway, no papel de Bonnie, foi um campeão de bilheteira, nomeado para dez Óscares, tendo conquistado dois e que se tornou um dos filmes mais emblemáticos do novo cinema americano, pela crueza de suas cenas.
     

terça-feira, setembro 06, 2022

Porque os patifes também fazem anos...

 

(imagem daqui)

 

Ideias

Honra, Brio, Dignidade:
Onde estais? Quem vos preza?
Não posso viver pobre: – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, paredes húmidas, bolores,
Ao pensar na pobreza! Ideias.
E causam-me suores.

 

in Ossadas (1947) - Afonso Duarte

 

Poema para um traste que faz hoje anos

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

sexta-feira, junho 10, 2022

Camões desistiu há 442 anos...

(imagem daqui)
      
Camões dirige-se aos seus contemporâneos
    
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
    
     

Jorge de Sena

segunda-feira, maio 23, 2022

Bonnie e Clyde foram mortos há 88 anos

  
Bonnie Elizabeth Parker (Rowena, 1 de outubro de 1910 - Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi uma famosa criminosa norte-americana que, com o namorado Clyde Barrow e a sua quadrilha de assaltantes, cometeu assaltos pelo interior dos Estados Unidos no começo da década de 30, até ser morta pela polícia, em 1934. Ela e o seu companheiro ficaram conhecidos na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Bonnie teve uma infância pobre e difícil com a mãe e os dois irmãos, depois que o seu pai morreu quando ela tinha quatro anos, provocando a mudança da família de sua cidade natal de Rowena para Dallas, no mesmo estado do Texas.
Apesar da infância na mais absoluta pobreza, ela era uma ótima aluna de inglês e redação que escrevia poemas de qualidade, inclusive vencendo para a sua escola um concurso da liga de ensino do Condado em literatura. Na adolescência, a sua facilidade com a escrita fez com que chegasse a trabalhar escrevendo introduções de discursos para políticos locais. Descrita como uma jovem inteligente, de personalidade e força de vontade pelos que a conheceram, Bonnie era uma pequena loira atraente de 1,50 m e 41 kg.
O seu talento para a poesia e a literatura ficou expresso em dois poemas que se tornaram famosos após sua morte, Suicide Sal e The Story of Bonnie and Clyde.
Bonnie casou-se em setembro de 1926, aos quinze anos, com Roy Thornton, um rapaz da área, mas o casamento durou pouco e eles separaram-se em janeiro de 1929 e Roy foi condenado a cinco anos de cadeia por roubo, pouco tempo depois. Em 1930, trabalhando como empregada de bar, conheceu o homem que mudaria a sua vida, a levaria para uma vida aventureira e de fora-da-lei de crimes e a tornaria famosa no mundo todo por gerações, Clyde Barrow.
Clyde tinha a mesma idade de Bonnie e quando se conheceram apaixonaram-se imediatamente e Bonnie largou tudo para seguir-lo. Dali em diante, ela mostrar-se-ia uma leal companheira de Clyde e com a ajuda de outros bandidos e do irmão de Barrow, os dois formaram uma quadrilha que aterrorizaria por quase quatro anos o centro dos Estados Unidos, assassinando civis e policiais e assaltando bancos, lojas e postos de gasolina, sendo mitificados pelos media americana, até serem mortos numa emboscada, depois de uma longa caçada humana, numa estrada deserta perto de Bienville Parishem, no estado da Louisiana, em 23 de maio de 1934.
   

 

Clyde Champion Barrow (Condado de Ellis, 24 de março de 1909Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi um ladrão e assassino que aterrorizou o meio-oeste dos Estados Unidos no começo da década de 30, chefiando uma quadrilha de assalto a bancos e postos de gasolina integrada por seu irmão Buck, por sua namorada Bonnie Parker e por outros bandidos. Os seus feitos tornaram o casal conhecido na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Nascido numa família pobre de pequenos fazendeiros, desde cedo Clyde começou seu envolvimento com a polícia e o crime. Aos 16 anos foi preso pela primeira vez ao fugir de um policial quando foi interpelado sobre um carro alugado em seu poder, que ele não havia devolvido à locadora no prazo certo. A segunda prisão, desta vez junto com seu irmão Buck, foi por roubar perus de uma propriedade.
Mesmo conseguindo pequenos trabalhos entre 1927 e 1929, Clyde continuou praticando pequenos furtos em lojas de conveniência e roubando carros. Apesar de ser principalmente reconhecido como assaltante de bancos, a preferência de Clyde era por pequenos roubos em postos de gasolina e lojas.
De acordo com o historiador John Neal Phillips, e ao contrario da errônea imagem fria de Clyde Barrow passada no clássico filme Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas de Warren Beatty, o objetivo de vida de Clyde não era ficar famoso e rico assaltando bancos, mas se vingar do sistema carcerário americano pelos abusos que havia sofrido em suas prisões. Segundo Phillips, ele na verdade se sentia culpado pelas pessoas que assassinava.
Depois de conhecer Bonnie Parker em 1930, Clyde, Bonnie, Buck e Blanche montaram a quadrilha conhecida como Barrow Gang e nos anos seguintes levaram o terror à população dos estados centrais dos EUA, assaltando e matando civis e policiais que se colocavam em seu caminho, até ser finalmente morto a tiros junto com Bonnie dentro do carro que dirigiam, numa emboscada montada pela polícia numa estrada deserta da Louisiana em 23 de maio de 1934.
   
A Carta   

Antes de morrer, durante uma fuga, Clyde escreveu uma carta com endereço para Henry Ford elogiando a excelente mecânica V8 dos Ford's que construiu. Aqui está o texto da carta:


Tulsa - Oklahoma
10 de abril
Sr. Henry Ford
Detroit - Michigan

Enquanto ainda tenho ar em meus pulmões, escrevo para dizer, que carro elegante o senhor construiu. Tenho dirigido exclusivamente Ford's, quando consigo roubar um. Para manter a velocidade e a liberdade longe de problemas, o Ford deixa os outros carros para trás e, se meu trabalho não é estritamente legal, também não me ofendo ninguém ao dizer que magnífico veículo o seu V8.
Sinceramente seu,
Clyde Champion Barrow
       
O Filme
Em 1967, um filme sobre a vida dos dois amantes e assassinos, Bonnie e Clyde, dirigido por Arthur Penn e tendo como estrelas Warren Beatty e Faye Dunaway, no papel de Bonnie, foi um campeão de bilheteira, nomeado para dez Óscares, tendo conquistado dois e que se tornou um dos filmes mais emblemáticos do novo cinema americano, pela crueza de suas cenas.
     

terça-feira, dezembro 07, 2021

Mário Soares nasceu há 97 anos

    
Atribuído a Clara Ferreira Alves, este artigo sobre Mário Soares circulou em 2009 pela net através de inúmeros blogues e de correntes de e-mails. Tendo sido objecto de acesas discussões, desde os fóruns e caixas de comentários até às mesas de cafés um pouco por todo o país, foi, contudo, pela própria desmentida posteriormente a sua autoria. Alguém anónimo e com um estranho sentido de cidadania terá dado início a esta corrente em nome daquela jornalista do Expresso, mas, na verdade, a sua verdadeira autoria é de Ricardo Santos Pinto no blogue5 Dias.net”, publicado em 12/Jan/2009.
   
Por muitos considerado como o "pai" da III República, pessoalmente eu só consigo ligar o cidadão Mário Soares à paternidade de um partido, o PS, que conseguiu levar este país à ruína e à condição de indigente da Europa, empurrando-nos a todos para um beco sem saída e cujo futuro é imprevisível, mas cujos contornos são já dos mais negros da nossa história recente.   Embora dirigido ao cidadão Mário Soares, este texto traça um perfil que, para muitos, nada mais é do que a verdadeira "matriz" malabarista e oportunista do PS que ele próprio fundou e que, em 15 anos de governo nos atirou fatalmente para o atoleiro em que agora nos encontramos, e que se perpetuará pelas próximas décadas. Porque aqui reponho este texto é pelo facto de ele conter certos esclarecimentos e afirmações que ajudam a entender a génese, a filosofia, a incompetência, o oportunismo, o clientelismo, numa palavra, a irresponsabilidade política de um partido - o PS - que nos conduziu à ruína final.
  
Embora desde há muito do domínio público, se não de todos pelo menos daqueles mais rodados no tempo e que ainda conservam as suas memórias com suficiente “lucidez”, e também por todos aqueles que chegaram a ler aquele “sacrílego” livrinho de Rui Mateus «Contos Proibidos - Memórias de um PS Desconhecido», relembro-o e reproduzo-o aqui sem enfatizar quaisquer factos ou afirmações nele contidos, ilustrando-o apenas com imagens, para que certas memórias se não percam, esquecidas no meio das vertiginosas turbulências dos tempos actuais!
Conclusões?… cada um que tire as suas. Conforme as suas tendências e as suas memórias.
  
__________________
  
   
«MOMENTOS DE LUCIDEZ»

«Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última semana(*), para a voz da rua. A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante a sua longa carreira política.

A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo em Paris.
A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma “brilhante” que se viu, o processo de descolonização.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.
A lucidez que lhe permitiu tratar de forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os “dossiers”.
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.

A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com “testas de ferro” no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume no caso Emaudio e no caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos”, que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a 'sorte' de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.

A lucidez que lhe permitiu passar incólume às “ligações perigosas” com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse carregado de diamantes, no dizer do Ministro da Comunicação Social de Angola).
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países (”recorde” absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.
A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da República Portuguesa.
A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da República.
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.
A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da República, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente no incêndio dos Paços do Concelho.
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a cinco milhões de Euros.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de dois milhões e meio de Euros, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.

A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na… Fundação Mário Soares.
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era, claro está… João Soares.
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do “Público”, José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.

A lucidez que lhe permitiu considerar José Sócrates “o pior do guterrismo” e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.
A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos “O Polvo” de Joaquim Vieira na “Grande Reportagem”, baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas(*).
   
No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai. Vai… e não volta mais.»
  
(*) – O texto é de 2009
__________
 
Original postado no blogue "5Dias", em 12/Jan/2009. Mais memórias "aqui", "aqui",  "aqui", e em muitos mais sítios... Ou mesmo baixar os «Contos Proibidos» de Rui Mateus!
       

segunda-feira, setembro 06, 2021

Poesia para aniversariante de hoje...

(imagem daqui)


Mania das Grandezas

Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.

No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!

Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...

Talvez ainda venha a ser Presidente da República...


Joaquim Namorado

 

 


(imagem daqui)


Ideias

Honra, Brio, Dignidade:
Onde estais? Quem vos preza?
Não posso viver pobre: – A frialdade
Que me dá toda a pobreza!

Lembram-me bichos, carochas, centopeias,
Musgo, paredes húmidas, bolores,
Ao pensar na pobreza! Ideias.
E causam-me suores.

 

in Ossadas (1947) - Afonso Duarte

quinta-feira, junho 10, 2021

Porque Camões morreu há 441 anos

(imagem daqui)
      
Camões dirige-se aos seus contemporâneos
    
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
    
    
in Metamorfoses, seguidas de Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena (1963) - Jorge de Sena

domingo, maio 23, 2021

Bonnie e Clyde foram mortos há 87 anos

  
Bonnie Elizabeth Parker (Rowena, 1 de outubro de 1910 - Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi uma famosa criminosa norte-americana que, com o namorado Clyde Barrow e a sua quadrilha de assaltantes, cometeu assaltos pelo interior dos Estados Unidos no começo da década de 30, até ser morta pela polícia, em 1934. Ela e o seu companheiro ficaram conhecidos na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Bonnie teve uma infância pobre e difícil com a mãe e os dois irmãos, depois que o seu pai morreu quando ela tinha quatro anos, provocando a mudança da família de sua cidade natal de Rowena para Dallas, no mesmo estado do Texas.
Apesar da infância na mais absoluta pobreza, ela era uma ótima aluna de inglês e redação que escrevia poemas de qualidade, inclusive vencendo para a sua escola um concurso da liga de ensino do Condado em literatura. Na adolescência, a sua facilidade com a escrita fez com que chegasse a trabalhar escrevendo introduções de discursos para políticos locais. Descrita como uma jovem inteligente, de personalidade e força de vontade pelos que a conheceram, Bonnie era uma pequena loira atraente de 1,50 m e 41 kg.
O seu talento para a poesia e a literatura ficou expresso em dois poemas que se tornaram famosos após sua morte, Suicide Sal e The Story of Bonnie and Clyde.
Bonnie casou-se em setembro de 1926, aos quinze anos, com Roy Thornton, um rapaz da área, mas o casamento durou pouco e eles separaram-se em janeiro de 1929 e Roy foi condenado a cinco anos de cadeia por roubo, pouco tempo depois. Em 1930, trabalhando como empregada de bar, conheceu o homem que mudaria a sua vida, a levaria para uma vida aventureira e de fora-da-lei de crimes e a tornaria famosa no mundo todo por gerações, Clyde Barrow.
Clyde tinha a mesma idade de Bonnie e quando se conheceram apaixonaram-se imediatamente e Bonnie largou tudo para seguir-lo. Dali em diante, ela mostrar-se-ia uma leal companheira de Clyde e com a ajuda de outros bandidos e do irmão de Barrow, os dois formaram uma quadrilha que aterrorizaria por quase quatro anos o centro dos Estados Unidos, assassinando civis e policiais e assaltando bancos, lojas e postos de gasolina, sendo mitificados pelos media americana, até serem mortos numa emboscada, depois de uma longa caçada humana, numa estrada deserta perto de Bienville Parishem, no estado da Louisiana, em 23 de maio de 1934.
   

 

Clyde Champion Barrow (Condado de Ellis, 24 de março de 1909Bienville Parish, 23 de maio de 1934) foi um ladrão e assassino que aterrorizou o meio-oeste dos Estados Unidos no começo da década de 30, chefiando uma quadrilha de assalto a bancos e postos de gasolina integrada por seu irmão Buck, por sua namorada Bonnie Parker e por outros bandidos. Os seus feitos tornaram o casal conhecido na história criminal americana como Bonnie e Clyde.
Nascido numa família pobre de pequenos fazendeiros, desde cedo Clyde começou seu envolvimento com a polícia e o crime. Aos 16 anos foi preso pela primeira vez ao fugir de um policial quando foi interpelado sobre um carro alugado em seu poder, que ele não havia devolvido à locadora no prazo certo. A segunda prisão, desta vez junto com seu irmão Buck, foi por roubar perus de uma propriedade.
Mesmo conseguindo pequenos trabalhos entre 1927 e 1929, Clyde continuou praticando pequenos furtos em lojas de conveniência e roubando carros. Apesar de ser principalmente reconhecido como assaltante de bancos, a preferência de Clyde era por pequenos roubos em postos de gasolina e lojas.
De acordo com o historiador John Neal Phillips, e ao contrario da errônea imagem fria de Clyde Barrow passada no clássico filme Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas de Warren Beatty, o objetivo de vida de Clyde não era ficar famoso e rico assaltando bancos, mas se vingar do sistema carcerário americano pelos abusos que havia sofrido em suas prisões. Segundo Phillips, ele na verdade se sentia culpado pelas pessoas que assassinava.
Depois de conhecer Bonnie Parker em 1930, Clyde, Bonnie, Buck e Blanche montaram a quadrilha conhecida como Barrow Gang e nos anos seguintes levaram o terror à população dos estados centrais dos EUA, assaltando e matando civis e policiais que se colocavam em seu caminho, até ser finalmente morto a tiros junto com Bonnie dentro do carro que dirigiam, numa emboscada montada pela polícia numa estrada deserta da Louisiana em 23 de maio de 1934.

A Carta Antes de morrer, durante uma fuga, Clyde escreveu uma carta com endereço para Henry Ford elogiando a excelente mecânica V8 dos Ford's que construiu. Aqui está o texto da carta:


Tulsa - Oklahoma
10 de abril
Sr. Henry Ford
Detroit - Michigan

Enquanto ainda tenho ar em meus pulmões, escrevo para dizer, que carro elegante o senhor construiu. Tenho dirigido exclusivamente Ford's, quando consigo roubar um. Para manter a velocidade e a liberdade longe de problemas, o Ford deixa os outros carros para trás e, se meu trabalho não é estritamente legal, também não me ofendo ninguém ao dizer que magnífico veículo o seu V8.
Sinceramente seu,
Clyde Champion Barrow.
       
O Filme
Em 1967, um filme sobre a vida dos dois amantes e assassinos, Bonnie e Clyde, dirigido por Arthur Penn e tendo como estrelas Warren Beatty e Faye Dunaway, no papel de Bonnie, foi um campeão de bilheteira, nomeado para dez Óscares, tendo conquistado dois e que se tornou um dos filmes mais emblemáticos do novo cinema americano, pela crueza de suas cenas.
     

segunda-feira, dezembro 07, 2020

Mário Soares nasceu há 96 anos

   
Atribuído a Clara Ferreira Alves, este artigo sobre Mário Soares circulou em 2009 pela net através de inúmeros blogues e de correntes de e-mails. Tendo sido objecto de acesas discussões, desde os fóruns e caixas de comentários até às mesas de cafés um pouco por todo o país, foi, contudo, pela própria desmentida posteriormente a sua autoria. Alguém anónimo e com um estranho sentido de cidadania terá dado início a esta corrente em nome daquela jornalista do Expresso, mas, na verdade, a sua verdadeira autoria é de Ricardo Santos Pinto no blogue5 Dias.net”, publicado em 12/Jan/2009.
   
Por muitos considerado como o "pai" da III República, pessoalmente eu só consigo ligar o cidadão Mário Soares à paternidade de um partido, o PS, que conseguiu levar este país à ruina e à condição de indigente da Europa, empurrando-nos a todos para um beco sem saída e cujo futuro é imprevisível, mas cujos contornos são já dos mais negros da nossa história recente.   Embora dirigido ao cidadão Mário Soares, este texto traça um perfil que, para muitos, nada mais é do que a verdadeira "matriz" malabarista e oportunista do PS que ele próprio fundou e que, em 15 anos de governo nos atirou fatalmente para o atoleiro em que agora nos encontramos, e que se perpetuará pelas próximas décadas. Porque aqui reponho este texto é pelo facto de ele conter certos esclarecimentos e afirmações que ajudam a entender a génese, a filosofia, a incompetência, o oportunismo, o clientelismo, numa palavra, a irresponsabilidade política de um partido - o PS - que nos conduziu à ruína final.
  
Embora desde há muito do domínio público, se não de todos pelo menos daqueles mais rodados no tempo e que ainda conservam as suas memórias com suficiente “lucidez”, e também por todos aqueles que chegaram a ler aquele “sacrílego” livrinho de Rui Mateus «Contos Proibidos - Memórias de um PS Desconhecido», relembro-o e reproduzo-o aqui sem enfatizar quaisquer factos ou afirmações nele contidos, ilustrando-o apenas com imagens, para que certas memórias se não percam, esquecidas no meio das vertiginosas turbulências dos tempos actuais!
Conclusões?… cada um que tire as suas. Conforme as suas tendências e as suas memórias.
  
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«MOMENTOS DE LUCIDEZ»

«Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última semana(*), para a voz da rua. A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante a sua longa carreira política.

A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo em Paris.
A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma “brilhante” que se viu, o processo de descolonização.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.
A lucidez que lhe permitiu tratar de forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os “dossiers”.
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.

A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com “testas de ferro” no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume no caso Emaudio e no caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos”, que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a 'sorte' de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.

A lucidez que lhe permitiu passar incólume às “ligações perigosas” com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse carregado de diamantes, no dizer do Ministro da Comunicação Social de Angola).
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países (”recorde” absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.
A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.
A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da Republica.
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.
A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente no incêndio dos Paços do Concelho.
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a cinco milhões de Euros.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de dois milhões e meio de Euros, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.

A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na… Fundação Mário Soares.
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era, claro está… João Soares.
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do “Público”, José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.

A lucidez que lhe permitiu considerar José Sócrates “o pior do guterrismo” e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.
A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos “O Polvo” de Joaquim Vieira na “Grande Reportagem”, baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas(*).
   
No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai. Vai… e não volta mais.»
  
(*) – O texto é de 2009
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Original postado no blogue "5Dias", em 12/Jan/2009. Mais memórias "aqui", "aqui",  "aqui", e em muitos mais sítios... Ou mesmo baixar os «Contos Proibidos» de Rui Mateus!