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terça-feira, fevereiro 06, 2024

Porque hoje é dia de recordar um grande Homem...

(imagem daqui)

 

António Vieira

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a gloria tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

 
  
in
Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

sábado, janeiro 20, 2024

El-Rei D. Sebastião nasceu há 470 anos...

      
D. Sebastião (Lisboa, 20 de janeiro de 1554Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1578), apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o Rei de Portugal e dos Algarves de 1557 até à sua morte. Era filho de João Manuel, Príncipe de Portugal, e Joana da Áustria. Ele ascendeu ao trono aos três anos após a morte de seu avô o rei João III, com uma regência sendo instaurada durante a sua menoridade, liderada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina da Áustria, e depois pelo seu tio-avô, o cardeal Henrique de Portugal.
Sebastião assumiu o governo aos catorze anos de idade em 1568, manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias da chamada Reconquista, decidiu montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada, após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência para a Espanha e ao nascimento do mito do Sebastianismo.

  
(imagem daqui)
    
 
A ÚLTIMA NAU

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
  
 
  
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

quarta-feira, novembro 01, 2023

A Mensagem de Fernando Pessoa foi publicada há 89 anos



Mensagem é o mais célebre dos livros do poeta português Fernando Pessoa, e o único que ele publicou em vida, se descontarmos os livros de poemas em inglês. Composto por 44 poemas, foi chamado pelo poeta de "livro pequeno de poemas". Publicado em 1934 pela Parceria António Maria Pereira, o livro foi contemplado, no mesmo ano, com o Prémio Antero de Quental, na categoria de «poema ou poesia solta», do Secretariado da Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, o jovem editor de Orpheu, revista trimestral de literatura, de que saíram 2 números em 1915.

Publicada apenas um ano antes da morte do autor, a obra trata do glorioso passado de Portugal de forma apológica e tenta encontrar um sentido para a antiga grandeza e a decadência existente na época em que o livro foi escrito. Glorifica acima de tudo o estilo camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado, como os Descobrimentos portugueses. É apontando as virtudes portuguesas que Fernando Pessoa acredita que o país deva se "regenerar", ou seja, tornar-se grande como foi no passado através da valorização cultural da nação. O poema mais famoso do livro é Mar Português.

O título original do livro era Portugal. Influenciado por um amigo, Pessoa considera "Mensagem" um título mais apropriado, pelo nome "Portugal" se encontrar "prostituído" no mais comum dos produtos. Pessoa constrói a palavra "mensagem" a partir da expressão latina: Mens agitat molem, isto é, "A mente move a matéria", frase da história de Eneida, de Virgílio, dita pela personagem Anquises quando explica a Enéias o sistema do Universo. Pessoa não utiliza o sentido original da frase, que denotava a existência de um princípio universal de onde emanavam todos os seres.

Segundo uma carta datada de 13 de janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro, Mensagem foi o primeiro livro que o poeta conseguiu completar. Pessoa mesmo explica que esse facto demonstra o porquê de não ter publicado outro livro como a prosa de um de seus heterónimos ou a poesia em seu próprio nome.

Numa carta de 1932 de Pessoa a João Gaspar Simões, o seu primeiro biógrafo, vemos que a intenção do poeta era publicar primeiramente a Mensagem para somente mais tarde divulgar outras obras como o Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Bernardo Soares, e a poesia dos heterónimos.

Foi publicado primeiramente a 1 de dezembro de 1934, com edição da Parceria António Maria Pereira, em Lisboa. A segunda edição, de 1941, possui correções feitas por Pessoa à primeira edição e foi editada pela Agência Geral das Colónias.

Um mês após a sua primeira publicação, ganhou o prémio na segunda categoria do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) que o premiou com o mesmo valor em dinheiro da primeira categoria.



NOTA: para uma melhor leitura on-line desta Opus Magna da literatura portuguesa, aqui fica um link:

 

 
 

 Noite

 

A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.


*


Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.


*


Senhor, os dois irmãos do nosso Nome -
O Poder e o Renome -
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.

Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.

Mas Deus não dá licença que partamos.

sexta-feira, setembro 22, 2023

Antônio Conselheiro morreu há 126 anos

Estátua em madeira representando o Conselheiro no memorial em Quixeramobim
  
Antônio Vicente Mendes Maciel (Nova Vila de Campo Maior, 13 de março de 1830 - Canudos, 22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro.
Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.
A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contra-revolucionário monárquico perigoso.
Herói do Brasil, lutou pelos grupos sociais menos favorecidos, numa época em que a escravatura e a opressão eram naturais.

(...)

Em 22 de setembro de 1897, morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte "caminheira" (disenteria).
Em 5 de outubro de 1897 são mortos os últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do arraial. No dia seguinte o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado, enterrado no Santuário de Canudos, e sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo Dr. Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio. O arraial de Canudos é completamente destruído.

sexta-feira, agosto 04, 2023

Poema para recordar um mau augúrio...

(imagem daqui)

 

NEVOEIRO

 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer —

Brilho sem luz e sem arder

Como o que o fogo-fátuo encerra.

   

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

                                 Valete, Fratres.

 

 in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

A batalha de Alcácer-Quibir foi há 445 anos...

        
A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis, foi uma batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Alcácer-Quibir, entre Tânger e Fez, em 4 de agosto de 1578. Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei D. Sebastião, aliados ao exército do sultão Mulei Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadiana) contra um grande exército marroquino liderado pelo sultão Mulei Moluco (Abd Al-Malik, seu tio) e com apoio otomano.
No seu fervor religioso, o Rei D. Sebastião planeara uma cruzada, após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que o seu tio Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi havia tomado. A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate de El-Rei D. Sebastião e da nata da nobreza portuguesa. Além do rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, originando o nome "Batalha dos Três Reis", com que ficou conhecida entre os marroquinos.
A derrota na batalha de Alcácer-Quibir levou à crise dinástica de 1580 e ao nascimento do mito do sebastianismo. O reino foi gravemente empobrecido pelos resgates que foi preciso pagar para reaver os cativos.
A batalha ditou um rápido fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A crise dinástica resultou na perda da independência de Portugal, por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.
       
in Wikipédia
    
      
  
D. Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

terça-feira, julho 18, 2023

O Padre António Vieira morreu há 326 anos...

Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais) e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Na literatura, os seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente exigem a sua leitura.
   
 

(imagem daqui)

 

António Vieira

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a gloria tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
 


in
Mensagem (1934) - Fernando Pessoa 

terça-feira, junho 13, 2023

Hoje é o dia com três P's - Poesia, Pessoa e Portugal...

 

(imagem daqui)
  
A ÚLTIMA NAU

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
  
 
  
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

É a Hora...!

(imagem daqui)


Nevoeiro 

 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!


Valete, Fratres.

 

in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa  

segunda-feira, fevereiro 06, 2023

Poesia para celebrar um grande Homem...

(imagem daqui)

 

António Vieira

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a gloria tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

 
  
in
Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

sexta-feira, janeiro 20, 2023

El-Rei D. Sebastião nasceu há 469 anos

      
D. Sebastião (Lisboa, 20 de janeiro de 1554Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1578), apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o Rei de Portugal e dos Algarves de 1557 até à sua morte. Era filho de João Manuel, Príncipe de Portugal, e Joana da Áustria. Ele ascendeu ao trono aos três anos após a morte de seu avô o rei João III, com uma regência sendo instaurada durante a sua menoridade, liderada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina da Áustria, e depois pelo seu tio-avô, o cardeal Henrique de Portugal.
Sebastião assumiu o governo aos catorze anos de idade em 1568, manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias da chamada Reconquista, decidiu montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada, após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência para a Espanha e ao nascimento do mito do Sebastianismo.

  
(imagem daqui)
    
A ÚLTIMA NAU

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
  
 
  
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

quinta-feira, dezembro 01, 2022

O livro Mensagem foi publicada há 88 anos

     
Mensagem é o mais célebre dos livros do poeta português Fernando Pessoa, e o único que ele publicou em vida, se descontarmos os livros de poemas em inglês. Composto por 44 poemas, foi chamado pelo poeta de "livro pequeno de poemas". Publicado em 1934 pela Parceria António Maria Pereira, o livro foi contemplado, no mesmo ano, com o Prémio Antero de Quental, na categoria de «poema ou poesia solta», do Secretariado da Propaganda Nacional, dirigido por António Ferro, o jovem editor de Orpheu, revista trimestral de literatura, de que saíram 2 números em 1915.

Publicada apenas um ano antes da morte do autor, a obra trata do glorioso passado de Portugal de forma apológica e tenta encontrar um sentido para a antiga grandeza e a decadência existente na época em que o livro foi escrito. Glorifica acima de tudo o estilo camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado, como os Descobrimentos portugueses. É apontando as virtudes portuguesas que Fernando Pessoa acredita que o país deva se "regenerar", ou seja, tornar-se grande como foi no passado através da valorização cultural da nação. O poema mais famoso do livro é Mar Português.

O título original do livro era Portugal. Influenciado por um amigo, Pessoa considera "Mensagem" um título mais apropriado, pelo nome "Portugal" se encontrar "prostituído" no mais comum dos produtos. Pessoa constrói a palavra "mensagem" a partir da expressão latina: Mens agitat molem, isto é, "A mente move a matéria", frase da história de Eneida, de Virgílio, dita pela personagem Anquises quando explica a Enéias o sistema do Universo. Pessoa não utiliza o sentido original da frase, que denotava a existência de um princípio universal de onde emanavam todos os seres.

Segundo uma carta datada de 13 de janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro, Mensagem foi o primeiro livro que o poeta conseguiu completar. Pessoa mesmo explica que esse facto demonstra o porquê de não ter publicado outro livro como a prosa de um de seus heterónimos ou a poesia em seu próprio nome.

Numa carta de 1932 de Pessoa a João Gaspar Simões, o seu primeiro biógrafo, vemos que a intenção do poeta era publicar primeiramente a Mensagem para somente mais tarde divulgar outras obras como o Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Bernardo Soares, e a poesia dos heterónimos.

Foi publicado primeiramente a 1 de dezembro de 1934, com edição da Parceria António Maria Pereira, em Lisboa. A segunda edição, de 1941, possui correções feitas por Pessoa à primeira edição e foi editada pela Agência Geral das Colónias.

Um mês após a sua primeira publicação, ganhou o prémio na segunda categoria do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) que o premiou com o mesmo valor em dinheiro da primeira categoria.



NOTA: para uma melhor leitura on-line desta Opus Magna da literatura portuguesa, aqui fica um link:

 

 
 
 

 ’Screvo meu livro à beira-mágoa

 

’Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?

quinta-feira, setembro 22, 2022

Antônio Conselheiro morreu há 125 anos

Estátua em madeira representando o Conselheiro no memorial em Quixeramobim
  
Antônio Vicente Mendes Maciel (Nova Vila de Campo Maior, 13 de março de 1830 - Canudos, 22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro.
Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.
A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contra-revolucionário monárquico perigoso.
Herói do Brasil, lutou pelos grupos sociais menos favorecidos, numa época em que a escravatura e a opressão eram naturais.

(...)

Em 22 de setembro de 1897, morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte "caminheira" (disenteria).
Em 5 de outubro de 1897 são mortos os últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do arraial. No dia seguinte o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos, sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo Dr. Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio. O arraial de Canudos é completamente destruído.

quinta-feira, agosto 04, 2022

Vigília em Louvor do Desejado...

 

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Anunciação

    

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal
      
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o Sol quarando nossas roupas no varal
  
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
   
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
   
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais 
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
   
Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal
   
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
   
A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
   
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais

Poema para recordar uma data triste...

(imagem daqui)

 

NEVOEIRO

 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer —

Brilho sem luz e sem arder

Como o que o fogo-fátuo encerra.

   

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

                                 Valete, Fratres.

 

 in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

Música adequada à data...

A batalha de Alcácer-Quibir foi há 444 anos...

     
A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis, foi uma batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Alcácer-Quibir, entre Tânger e Fez, em 4 de agosto de 1578. Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei D. Sebastião, aliados ao exército do sultão Mulei Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadiana) contra um grande exército marroquino liderado pelo sultão Mulei Moluco (Abd Al-Malik, seu tio) e com apoio otomano.
No seu fervor religioso, o Rei D. Sebastião planeara uma cruzada após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que o seu tio Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi havia tomado. A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate de El-Rei D. Sebastião e da nata da nobreza portuguesa. Além do Rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, originando o nome "Batalha dos Três Reis", com que ficou conhecida entre os marroquinos.
A derrota na batalha de Alcácer-Quibir levou à crise dinástica de 1580 e ao nascimento do mito do sebastianismo. O reino foi gravemente empobrecido pelos resgates que foi preciso pagar para reaver os cativos.
A batalha ditou um rápido fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A crise dinástica resultou na perda da independência de Portugal, por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.
       
in Wikipédia
    
      
  
D. Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa

segunda-feira, julho 18, 2022

O Padre António Vieira morreu há 325 anos...

       
Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Na literatura, os seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente exigem a sua leitura.
   
 

(imagem daqui)

 

António Vieira

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a gloria tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.


in
Mensagem - Fernando Pessoa 

segunda-feira, junho 13, 2022

É a Hora...!

(imagem daqui)


Nevoeiro 

 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!


Valete, Fratres.

 

in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa  

Dia com três P's - Poesia, Pessoa e Portugal...

(imagem daqui)
  
A ÚLTIMA NAU

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
  
 
  
in Mensagem (1934) - Fernando Pessoa