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sábado, novembro 11, 2023

Hoje é dia de São Martinho...!

 

São Martinho partilhando o seu manto com um mendigo (1531), Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian

 

Martinho de Tours (em latim: Martinus Turonensis; Sabaria, Panónia, 316 - Condate, Gália, 397), foi um militar, monge e, mais tarde, bispo de Turonum (Tours), sendo considerado santo pela Igreja Católica.

 
São Martinho de Tours era filho de um tribuno e soldado do exército romano. Nasceu e cresceu na cidade de Sabaria, Panónia (atual Hungria), em 316, sob uma educação baseada na religião dos seus antepassados, os deuses mitológicos venerados no Império Romano. Aos 10 anos de idade, entrou para o grupo dos catecúmenos (aqueles que estão se preparando para receber o batismo). Aos 15 anos de idade, e contra a própria vontade, teve de ingressar no exército romano e dirigir-se para a Gália (região na atual França). Aos 18 anos abandonou o exército, pois o cristianismo não era compatível com as suas funções militares. Foi batizado por Santo Hilário, bispo da cidade de Poitiers.
    
(...)
   
Por curiosidade começou a frequentar uma Igreja cristã, ainda criança, sendo instruído na doutrina cristã, porem sem receber o batismo. Ao atingir a adolescência, para tê-lo mais perto de si, o seu pai alistou-o na cavalaria do exército imperial. Mas se o intuito do pai era afasta-lo da Igreja, o resultado foi o inverso, pois Martinho, continuava praticando os ensinamentos cristãos, principalmente a caridade. Depois, foi destinado a prestar serviço na Gália, hoje França.
Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto. Um dia um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe esmola e, como não tinha, o cavaleiro cortou o seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte. Durante a noite o próprio Jesus apareceu-lhe em sonho, usando o pedaço de manto que dera ao mendigo e agradeceu a Martinho por tê-lo aquecido no frio. Dessa noite em diante, ele decidiu que deixaria as fileiras militares para dedicar-se à religião.
Com vinte e dois anos já estava batizado, provavelmente pelo Bispo de Amiens, afastado da vida da corte e do exercito. Tornou-se monge e discípulo do famoso Bispo de Poitiers, Santo Hilário que o ordenou diácono. Mais tarde, quando voltou do exílio em 360, doou a Martinho um terreno em Ligugé, a doze quilómetros de Poitiers. Ali ele fundou uma comunidade de monges. Mas logo eram tantos jovens religiosos que buscavam sua orientação, que Martinho construiu o primeiro mosteiro da França e da Europa ocidental.
No ocidente, ao contrário do oriente, os monges podiam exercer o sacerdócio para que se tornassem apóstolos na evangelização. Martinho liderou então a conversão de muitos e muitos habitantes da região rural. Com seus monges visitava as aldeias pagãs, pregava o evangelho, derrubava templos e ídolos e construía igrejas. Onde encontrava resistência fundava um mosteiro com os monges evangelizando pelo exemplo da caridade cristã, e logo todo o povo se convertia. Dizem os escritos que, nesta época, havia recebido dons místicos, operando muitos prodígios em beneficio dos pobres e doentes que tanto amparava.
Quando ficou vaga a diocese de Tours, em 371 o povo o aclamou por unanimidade para ser o Bispo. Martinho aceitou, apesar de resistir no início. Mas não abandonou a sua peregrinação apostólica, visitava todas as paróquias, zelava pelo culto e não desistiu de converter pagãos e exercer exemplarmente a caridade. Nas proximidades da cidade fundou outro mosteiro, chamado de Marmoutier. E a sua influência não se limitou a Tours, mas expandiu-se por toda a França, tornando-o querido e amado por todo o povo.
Martinho exerceu o bispado por vinte e cinco anos e, aos oitenta e um, estava na cidade de Candes, quando morreu, no dia 8 de novembro de 397. A sua festa é comemorada no dia 11, data em que foi sepultado, na cidade de Tours.
Venerado como São Martinho de Tours, tornou-se o primeiro Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e tornou-se um dos santos mais populares da Europa medieval.
      

 

domingo, setembro 10, 2023

A região demarcada de vinho do Porto foi criada há 267 anos


Alvará Régio de 10 de setembro de 1756
Aprova a instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e os seus Estatutos. Assinava esse Alvará El-Rei D. José I e o seu Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Mello. Tinha 53 capítulos, sendo os principais - X, XIV, XXIX, XXX e XXXIII - respeitantes aos fins da instituição, formação do seu capital, preços dos vinhos e demarcação da região. A alusão aos restantes capítulos levaria muito longe e, por essa razão, apenas se deixam aqui algumas notas dignas de interesse. A Direção era constituída por um Provedor, doze Deputados e um Secretário; havia ainda seis Conselheiros, "homens inteligentes deste comércio". A Companhia dispunha de um juiz Conservador com jurisdição privativa e um Procurador Fiscal. O seu capital elevava-se a "um milhão e duzentos mil cruzados repartidos em ações de quatrocentos mil réis cada uma; a metade do qual se poderá perfazer em vinhos competentes, e capazes de receber, com que os Acionistas se quiserem interessar; e a outra metade será precisamente em dinheiro, para que a Companhia possa assim cumprir com as obrigações de ocorrer às urgências da lavoura, e comércio..." Era-lhe ainda facultado conceder empréstimos de dinheiro aos lavradores a juros de 3% ao ano, para o fabrico do vinho, amanho das vinhas e ainda para "despesas miúdas que a conservação da vida humana faz quotidianamente indispensáveis." 

sexta-feira, novembro 11, 2022

Hoje é dia de São Martinho...!

Escultura de São Martinho no Mosteiro de Tibães

 

Martinho de Tours (em latim: Martinus Turonensis; Sabaria, Panónia, 316 - Condate, Gália, 397), foi um militar, monge e, mais tarde, bispo de Turonum (Tours), sendo considerado santo pela Igreja Católica.

 
São Martinho de Tours era filho de um tribuno e soldado do exército romano. Nasceu e cresceu na cidade de Sabaria, Panónia (atual Hungria), em 316, sob uma educação da religião dos seus antepassados, deuses mitológicos venerados no Império Romano. Aos 10 anos de idade, entrou para o grupo dos catecúmenos (aqueles que estão se preparando para receber o batismo). Aos 15 anos de idade, e contra a própria vontade, teve de ingressar no exército romano e dirigir-se para a Gália (região na atual França). Aos 18 anos abandonou o exército pois o cristianismo não era compatível com as suas funções militares. Foi batizado por Santo Hilário, bispo da cidade de Poitiers.
    
(...)
   
Por curiosidade começou a frequentar uma Igreja cristã, ainda criança, sendo instruído na doutrina cristã, porem sem receber o batismo. Ao atingir a adolescência, para tê-lo mais perto de si, o seu pai alistou-o na cavalaria do exército imperial. Mas se o intuito do pai era afasta-lo da Igreja, o resultado foi o inverso, pois Martinho, continuava praticando os ensinamentos cristãos, principalmente a caridade. Depois, foi destinado a prestar serviço na Gália, hoje França.
Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto. Um dia um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe esmola e, como não tinha, o cavaleiro cortou o seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte. Durante a noite o próprio Jesus apareceu-lhe em sonho, usando o pedaço de manto que dera ao mendigo e agradeceu a Martinho por tê-lo aquecido no frio. Dessa noite em diante, ele decidiu que deixaria as fileiras militares para dedicar-se à religião.
Com vinte e dois anos já estava batizado, provavelmente pelo Bispo de Amiens, afastado da vida da corte e do exercito. Tornou-se monge e discípulo do famoso Bispo de Poitiers, Santo Hilário que o ordenou diácono. Mais tarde, quando voltou do exílio em 360, doou a Martinho um terreno em Ligugé, a doze quilómetros de Poitiers. Ali ele fundou uma comunidade de monges. Mas logo eram tantos jovens religiosos que buscavam sua orientação, que Martinho construiu o primeiro mosteiro da França e da Europa ocidental.
No ocidente, ao contrário do oriente, os monges podiam exercer o sacerdócio para que se tornassem apóstolos na evangelização. Martinho liderou então a conversão de muitos e muitos habitantes da região rural. Com seus monges visitava as aldeias pagãs, pregava o evangelho, derrubava templos e ídolos e construía igrejas. Onde encontrava resistência fundava um mosteiro com os monges evangelizando pelo exemplo da caridade cristã, logo todo o povo se convertia. Dizem os escritos que, nesta época, havia recebido dons místicos, operando muitos prodígios em beneficio dos pobres e doentes que tanto amparava.
Quando ficou vaga a diocese de Tours, em 371 o povo o aclamou por unanimidade para ser o Bispo. Martinho aceitou, apesar de resistir no início. Mas não abandonou a sua peregrinação apostólica, visitava todas as paróquias, zelava pelo culto e não desistiu de converter pagãos e exercer exemplarmente a caridade. Nas proximidades da cidade fundou outro mosteiro, chamado de Marmoutier. E a sua influência não se limitou a Tours, mas se expandiu por toda a França, tornando-o querido e amado por todo o povo.
Martinho exerceu o bispado por vinte e cinco anos e, aos oitenta e um, estava na cidade de Candes, quando morreu, no dia 8 de novembro de 397. A sua festa é comemorada no dia 11, data em que foi sepultado, na cidade de Tours.
Venerado como São Martinho de Tours, tornou-se o primeiro Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e tornou-se um dos santos mais populares da Europa medieval.
      

sábado, setembro 10, 2022

A região demarcada de vinho do Porto foi criada há 266 anos


Alvará Régio de 10 de setembro de 1756
Aprova a instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e os seus Estatutos. Assinava esse Alvará El-Rei D. José I e o seu Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Mello. Tinha 53 capítulos, sendo os principais - X, XIV, XXIX, XXX e XXXIII - respeitantes aos fins da instituição, formação do seu capital, preços dos vinhos e demarcação da região. A alusão aos restantes capítulos levaria muito longe e, por essa razão, apenas se deixam aqui algumas notas dignas de interesse. A Direção era constituída por um Provedor, doze Deputados e um Secretário; havia ainda seis Conselheiros, "homens inteligentes deste comércio". A Companhia dispunha de um juiz Conservador com jurisdição privativa e um Procurador Fiscal. O seu capital elevava-se a "um milhão e duzentos mil cruzados repartidos em ações de quatrocentos mil réis cada uma; a metade do qual se poderá perfazer em vinhos competentes, e capazes de receber, com que os Acionistas se quiserem interessar; e a outra metade será precisamente em dinheiro, para que a Companhia possa assim cumprir com as obrigações de ocorrer às urgências da lavoura, e comércio..." Era-lhe ainda facultado conceder empréstimos de dinheiro aos lavradores a juros de 3% ao ano, para o fabrico do vinho, amanho das vinhas e ainda para "despesas miúdas que a conservação da vida humana faz quotidianamente indispensáveis." 

sexta-feira, setembro 10, 2021

A mais antiga região demarcada de vinhos de Portugal foi criada há 265 anos!


Porto: um vinho com história

Ao longo de quase dois milénios, fez-se, na encostas xistosas do vale do Douro, uma paisagem vitícola singular, um vinho excepcional. Mais do que um dom da natureza, o vinho do Porto é, na sua essência, essa espessura histórica, um património cultural colectivo de trabalho e experiências, saberes e arte, que gerações e gerações acumularam. O vinho do Porto foi e é um produto chave da economia nacional e ainda mais um valor simbólico que distintamente representa a portugalidade no mundo.

A história do vinhedo do Alto Douro é muito antiga. Não faltam descobertas arqueológicas e referências documentais a testemunhar a persistência cultural do empenho vitivinícola de outras eras.

Recuam pelo menos aos séculos III-IV os vestígios de lagares e vasilhame vinário, um pouco por toda a região duriense. Porém, a designação de vinho do Porto surge apenas na segunda metade do séc. XVII, numa época de expansão da viticultura duriense e de crescimento rápido da exportação de vinhos.

No último terço do séc. XVII, em tempo de rivalidades entre os impérios marítimos do Norte, flamengos e ingleses aumentam a procura dos vinhos ibéricos, em detrimento dos de Bordéus e de outras regiões francesas. A Inglaterra importa crescentes quantidades de Porto. Em 1703, o Tratado de Methuen virá consagrar no plano diplomático este fluxo mercantil, prevendo a contrapartida de privilégios para os tecidos britânicos no mercado português.

A produção duriense, estimulada pela procura inglesa crescente e preços altíssimos, tenta adaptar-se às novas exigências do mercado. Mas, como acontece a todos os grandes vinhos, o negócio rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos.

Ora, a partir de meados do séc. XVIII, as exportações estagnam, ao passo que a produção vinhateira parece ter continuado a crescer. Os preços baixam em flecha e os ingleses decidem não comprar vinhos, acusando os lavradores de promover adulterações.

Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses dos grandes vinhateiros durienses junto do governo do futuro Marquês de Pombal, à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10 de Setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os preços. Procede-se à primeira «demarcação das serras». A região produtora é bordada por 335 marcos de pedra com a designação de Feitoria, designação que referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia exportar-se para Inglaterra, vulgarmente conhecido por vinho fino. Define-se o conceito de cadastro.


 


Alvará Régio de 10 de setembro de 1756
Aprova a instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e os seus Estatutos. Assinava esse Alvará El-Rei D. José I e o seu Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Mello. Tinha 53 capítulos, sendo os principais - X, XIV, XXIX, XXX e XXXIII - respeitantes aos fins da instituição, formação do seu capital, preços dos vinhos e demarcação da região. A alusão aos restantes capítulos levaria muito longe e, por essa razão, apenas se deixam aqui algumas notas dignas de interesse. A Direcção era constituída por um Provedor, doze Deputados e um Secretário; havia ainda seis Conselheiros, "homens inteligentes deste comércio". A Companhia dispunha de um juiz Conservador com jurisdição privativa e um Procurador Fiscal. O seu capital elevava-se a "um milhão e duzentos mil cruzados repartidos em acções de quatrocentos mil réis cada uma; a metade do qual se poderá perfazer em vinhos competentes, e capazes de receber, com que os Accionistas se quiserem interessar; e a outra metade será precisamente em dinheiro, para que a Companhia possa assim cumprir com as obrigações de ocorrer às urgências da lavoura, e comércio..." Era-lhe ainda facultado conceder empréstimos de dinheiro aos lavradores a juros de 3% ao ano, para o fabrico do vinho, amanho das vinhas e ainda para "despesas miúdas que a conservação da vida humana faz quotidianamente indispensáveis." 

sábado, setembro 10, 2016

A mais antiga região demarcada de vinhos de Portugal foi criada há 260 anos

Porto: um vinho com história

Ao longo de quase dois milénios, fez-se, na encostas xistosas do vale do Douro, uma paisagem vitícola singular, um vinho excepcional. Mais do que um dom da natureza, o vinho do Porto é, na sua essência, essa espessura histórica, um património cultural colectivo de trabalho e experiências, saberes e arte, que gerações e gerações acumularam. O vinho do Porto foi e é um produto chave da economia nacional e ainda mais um valor simbólico que distintamente representa a portugalidade no mundo.

A história do vinhedo do Alto Douro é muito antiga. Não faltam descobertas arqueológicas e referências documentais a testemunhar a persistência cultural do empenho vitivinícola de outras eras.

Recuam pelo menos aos séculos III-IV os vestígios de lagares e vasilhame vinário, um pouco por toda a região duriense. Porém, a designação de vinho do Porto surge apenas na segunda metade do séc. XVII, numa época de expansão da viticultura duriense e de crescimento rápido da exportação de vinhos.

No último terço do séc. XVII, em tempo de rivalidades entre os impérios marítimos do Norte, flamengos e ingleses aumentam a procura dos vinhos ibéricos, em detrimento dos de Bordéus e de outras regiões francesas. A Inglaterra importa crescentes quantidades de Porto. Em 1703, o Tratado de Methuen virá consagrar no plano diplomático este fluxo mercantil, prevendo a contrapartida de privilégios para os tecidos britânicos no mercado português.

A produção duriense, estimulada pela procura inglesa crescente e preços altíssimos, tenta adaptar-se às novas exigências do mercado. Mas, como acontece a todos os grandes vinhos, o negócio rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos.

Ora, a partir de meados do séc. XVIII, as exportações estagnam, ao passo que a produção vinhateira parece ter continuado a crescer. Os preços baixam em flecha e os ingleses decidem não comprar vinhos, acusando os lavradores de promover adulterações.

Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses dos grandes vinhateiros durienses junto do governo do futuro Marquês de Pombal, à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10 de Setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os preços. Procede-se à primeira «demarcação das serras». A região produtora é bordada por 335 marcos de pedra com a designação de Feitoria, designação que referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia exportar-se para Inglaterra, vulgarmente conhecido por vinho fino. Define-se o conceito de cadastro.



Alvará Régio de 10 de setembro de 1756
Aprova a instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e os seus Estatutos. Assinava esse Alvará El-Rei D. José I e o seu Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Mello. Tinha 53 capítulos, sendo os principais - X, XIV, XXIX, XXX e XXXIII - respeitantes aos fins da instituição, formação do seu capital, preços dos vinhos e demarcação da região. A alusão aos restantes capítulos levaria muito longe e, por essa razão, apenas se deixam aqui algumas notas dignas de interesse. A Direcção era constituída por um Provedor, doze Deputados e um Secretário; havia ainda seis Conselheiros, "homens inteligentes deste comércio". A Companhia dispunha de um juiz Conservador com jurisdição privativa e um Procurador Fiscal. O seu capital elevava-se a "um milhão e duzentos mil cruzados repartidos em acções de quatrocentos mil réis cada uma; a metade do qual se poderá perfazer em vinhos competentes, e capazes de receber, com que os Accionistas se quiserem interessar; e a outra metade será precisamente em dinheiro, para que a Companhia possa assim cumprir com as obrigações de ocorrer às urgências da lavoura, e comércio..." Era-lhe ainda facultado conceder empréstimos de dinheiro aos lavradores a juros de 3% ao ano, para o fabrico do vinho, amanho das vinhas e ainda para "despesas miúdas que a conservação da vida humana faz quotidianamente indispensáveis." 

sexta-feira, dezembro 27, 2013

O Tratado de Methuen foi assinado entre Portugal e o Reino Unido há 210 anos

(imagem daqui)

O Tratado de Methuen, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um tratado assinado entre a Inglaterra e Portugal, em 27 de dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário britânico John Methuen, por parte da Rainha Ana da Inglaterra, e D. Manuel Teles da Silva, Marquês de Alegrete.
Pelos seus termos, os portugueses comprometiam-se a consumir os têxteis britânicos e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. Com três artigos, é o texto mais reduzido da história diplomática europeia:
"I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário.
II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do Direito do costume. Porem, se em qualquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lã e todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra.
III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dois meses se passarão as Ratificações."
No século XVIII, Portugal encontrou em terras brasileiras a primeira riqueza que instigava a realização das grandes navegações: os metais preciosos. Além de atender a uma antiga expectativa, a exploração da economia aurífera do espaço colonial poderia determinar a recuperação económica lusitana, bem como a dinamização de uma economia que se encontrava gravemente enfraquecida pelos anos de dominação espanhola e a grave crise açucareira que atingiu o Brasil no século anterior.
Contudo, contrariando a essa possibilidade, observamos que a riqueza retirada do Brasil e enviada a Portugal não resultou nesse processo de recuperação. Pior do que isso, a extração aurífera veio reforçar a dependência econômica que os portugueses tinham em relação ao espaço colonial brasileiro e, na medida em que o ouro escasseava, a crise económica lusitana voltava a se fortalecer. Mas afinal, como poderíamos compreender essa situação, no mínimo, contraditória?
Entre os vários fatores que possam ser trabalhados, acreditamos que o Tratado de Methuen ou Tratado de Panos e Vinhos tem grande valia para que possamos entender o quadro económico experimentado em Portugal ao longo do século XVIII. Assinado com a Inglaterra, esse acordo estabelecia que Portugal teria facilidades na compra dos tecidos ingleses e que a Inglaterra se valeria de facilidades semelhantes para comprar a produção de vinho lusitana.
Ao longo do tempo, a vigência desse acordo impeliu grande parte dos produtores agrícolas de Portugal a utilizarem suas terras cultiváveis para a produção de vinho. Afinal de contas, a disponibilidade do mercado inglês imposta pelo tratado garantia lucro aos produtores. No entanto, essa mesma prática impedia que a economia portuguesa se voltasse para o desenvolvimento de outras atividades que pudessem dinamizar a sua economia.
Além disso, devemos salientar que a demanda portuguesa por tecidos era bem maior que a riqueza produzida pela venda do vinho à Inglaterra. Desse modo, os portugueses acumularam grandes dívidas geradas pela necessidade crescente de se consumir os produtos ingleses manufaturados. No contexto do século XVIII, esse déficit era suprido com o envio das barras de ouro e as pedras preciosas que eram extraídas no Brasil. Com isso, a riqueza colonial brasileira mascarava a deficiência económica da sua metrópole.
Em diferentes ocasiões, esses efeitos produzidos pelo Tratado de Methuen foram criticados por diversos estudiosos que percebiam o impasse gerado. Na segunda metade do século XVIII, o marquês de Pombal, principal ministro do rei D. José I, tomou medidas cujo objetivo seria de reverter essa situação. Contudo, o desinteresse da aristocracia portuguesa impedia que um projeto de modernização econômica se estabelecesse naquelas terras.
Ao alcançarmos os finais do século XVIII, momento em que a economia mineradora já apresentava sérios sinais de desgaste, a economia portuguesa sentia o retorno de uma grave crise económica. De tal modo, vemos que a assinatura do Tratado de Methuen, somado a outros fatores ligados à política e à economia portuguesa, explicam como o país não se fortaleceu economicamente num período em que a prosperidade trazida pelo ouro deveria abrir tantas outras portas.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

Artigo interessante para qualquer geólogo ou biólogo no Público

Portugal, o santuário mundial da biodiversidade da vinha
Por Abel Coentrão
23.11.2013

As grandes nações do vinho já começam a replicar o modelo português, mas levam um atraso de décadas na recolha de dados

Um conjunto de factores favoreceu a manutenção, em Portugal, de centenas de castas de vinha autóctones, cada uma delas com um grau de variabilidade bem acima do que acontece nos países que foram apostando em clones de meia dúzia de castas na moda e muito produtivas. Um grupo de cientistas vem estudando o potencial desse património genético, que, diz o rosto deste projecto, pode tornar o país numa Meca da viticultura.
Chegámos atrasados a quase tudo. Às Luzes, à Industrialização, à Democracia. Portugal, um pequeno país teimosamente agarrado à cauda da Europa tem um pequeno segredo mal guardado que o anda a pôr nas bocas do mundo que tem boca para um bom vinho como um país de vanguarda, a anos-luz dos restantes países vinícolas do planeta. Na revista World of Fine Wine já lhe chamaram Arca de Noé da biodiversidade da vinha. Antero Martins, sumidade na área da genética quantitativa aplicada ao melhoramento de plantas, ou mais simplesmente um dos "Noés" desta história, prefere pensar que estamos a caminho de nos tornarmos uma espécie de "Meca do Vinho". Mas porquê tanta excitação?

A culpa é do tal atraso. Em parte, pelo menos, concede o responsável pela Investigação da Sogrape, António Graça, outro dos envolvidos na recém-criada Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (Porvid), que desde 2009 prossegue, agora de uma forma institucional, os esforços de identificação e preservação da biodiversidade destas plantas iniciados há 35 anos por um trio de "carolas", o já referido Antero Martins, do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa, Nuno Magalhães, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Luís Carneiro, da Estação Agronómica Nacional. O seu esforço permitiu identificar, no nosso país, 250 castas autóctones (no território que pode ser o da península), muito para lá das dezenas utilizadas, pelos produtores. E o número já peca por defeito porque, nas análises genéticas mais recentes, se percebeu que plantas que se pensavam ser apenas uma variante (genótipo) dentro da casta, são afinal castas diferentes. O que vai, de certeza, engrossar a lista deste património.

Quando o mundo se rendia a vinhos estremes, feitos a partir de meia dúzia de castas francesas, plantadas nos quatro cantos do globo; quando viveiristas e agricultores de outros países seleccionavam eugenisticamente, por elimininação, castas, e plantas (genótipos) dentro das castas com as melhores características para responder ao mercado, cada vez mais global mas, em contraponto, a estreitar o gosto, Portugal estava ainda a acordar do longo sono salazarista, que o manteve fechado, e não apenas à Coca-Cola. Por cá mantinham-se tradições como as dos vinhos de lote, com mistura de castas, muita vinha velha por arrancar – alguma até pré-filoxérica, como os mortórios do Douro – e técnicas culturais que favoreciam o acaso em vez da selecção e, que, por isso, mantiveram uma parte importante da biodiversidade do país, o único que tem cem por cento do território numa qualquer região demarcada, lembra António Graça.

Pode parecer contraditório, mas este atraso acertou o nosso relógio com o do planeta, que já reconhecia a importância da biodiversidade nesses finais de 70, em que, gastando horas fora das aulas e fins-de-semana, Martins e seus pares puseram pés ao caminho. Numa abnegação que ainda hoje os mantém, apesar de jubililados, ainda ligados ao projecto, conseguiram, em pouco tempo, criar uma rede informal: com as direcções regionais de agricultura e algumas empresas, que perceberam desde logo a importância de participar nesta missão de recolha, estudo, selecção e – note-se a diferença – preservação das variedades genéticas da vinha portuguesa. Em poucos anos, dezenas de quintas por esse país fora acolheram campos experimentais e viveiros onde esse património foi mantido.

Agora, depois de o Estado ter cedido em 2009 à Porvid parte de uma herdade em Pegões, na Península de Setúbal, nada longe de propriedades e da adega de sócios como a José Maria da Fonseca ou a Cooperativa de Santo Isidro de Pegões, entre outros, as plantas estão todas a caminho de uma nova casa. Milhares delas já foram instaladas (em vasos) e vai-se preparar mais terreno para guardar 50 mil genótipos das tais 250, ou mais, castas portuguesas, mesmo ao lado de uma área de 80 a 100 hectares onde uma parte importante dessa variabilidade vai ser enxertada e posta a produzir, para análise comparativa.

A necessidade de guardar um tão elevado número de espécimes é facilmente percebida se soubermos que, nas mais de 60 castas já bem estudadas ao longo destes anos, há exemplos de uma diversidade intra-casta impensável noutros países, que andaram a deitar essa variabilidade ao lixo. Se o Riesling alemão se faz com muitos poucos clones, do Alvarinho, há 530 genótipos diferentes conhecidos, com diferentes consequências na produção, compara Antero Martins. Aliás, foi depois de estudada a variabilidade interna da Touriga Nacional, um dos primeiros alvos da atenção do projecto, que o sector conseguiu descobrir e seleccionar genótipos que, com ganhos superiores a 30%, resolveram o problema da baixa produtividade e da desconfiança com que esta grande casta portuguesa era encarada, na década de 70, pelos produtores do Douro.

O estudo aprofundado da variabilidade dentro de cada casta foi um dos grandes avanços do projecto e Antero Martins insiste sempre em associá-lo à entrada em cena de uma sua assistente, Elsa Gonçalves, que o ultrapassou – e ele di-lo com o gosto de quem não quer ficar com o conhecimento só para si – na capacidade de pôr a estatística, e a informática, ao serviço da genética quantitativa. Graças a este aporte, já reconhecido no meio científico internacional, a equipa conseguiu, para mais de seis dezenas de castas, identificar as suas variantes internas e o comportamento de cada uma, independentemente de factores ambientais, em parâmetros como a produção, a acidez, o açucar (importante para o teor alcoólico) e as antocianas (pigmentos responsáveis pela cor escura do vinho tinto).

Não é difícil imaginar a utilidade deste conhecimento para a vitivinicultura portuguesa. E há casos concretos em que ele já resolveu problemas, explica António Graça. Já se percebeu por exemplo que a tinta-roriz, muito apreciada, entre outros aspectos, pela cor que imprime aos vinhos, perde, precisamente nesse aspecto, a partir de um determinado patamar de produção, potenciado por condições ambientais favoráveis. Perante isto, tem sido feito um esforço de enxertar as novas vinhas com genótipos menos "produtivos", mas que garantem a qualidade máxima pretendida. António Graça, tal como Antero Martins, antevêem o que isto, multiplicado por todo o nosso parque de castas, significa, em termos de competitividade, para o país, numa altura em que são visíveis os efeitos das alterações climáticas.

Antevendo o risco, é o homem das empresas, António Graça, quem mais toca, na conversa com a FUGAS, na questão ambiental. Mas Portugal está a construir, com o projecto da Porvid, a capacidade de escolher, a cada momento, as vinhas que melhor se adaptam, por exemplo, à subida da temperatura ambiente, rejubila. Já Antero Martins foge da sua genética quantitativa para fazer notar que estaremos preparados para responder a outro tipo de desafios, como o das modas, o gosto. Se hoje se produzem vinhos com teores de álcool bem acima dos 12,5 graus que eram habituais há umas décadas, nada nos diz que os vinhos de baixo teor alcoólico, para os quais hoje já há algum mercado, não se tornarão um trend. E, se for necessário, nós saberemos dar resposta a essa demanda, vinca.

Apesar de ir dizendo que gostava de ser mais reformado do que é – e desconfiamos que não conseguiria manter-se muito longe do campo experimental de Pegões, que nos mostrou com orgulho – Antero Martins não esconde a satisfação pelo reconhecimento que o projecto vem tendo por esse mundo fora, nas revistas especializadas e em congressos do sector. As grandes nações do vinho já começam a replicar o modelo português, mas levam um atraso de décadas na recolha de dados. E "o projecto de Pegões é para mais 50 anos", nota António Graça. O seu sucesso pleno está no entanto dependente da entrada de mais dinheiro – por via das quotas de mais associados, mecenas, apoios estatais e fundos europeus – que garantam uma estabilidade financeira que esta luta pela biodiversidade no sector ainda não teve.

Se nunca houve muito dinheiro, o esforço valeu-lhes, pelo menos, alguns "brindes". Com o estudo aprofundado da variabilidade dentro de cada casta, os portugueses começaram a ter dados concretos sobre o caminho que cada uma delas seguiu, desde um ponto de origem. Esse ponto, como noutras espécies vegetais, é aquele em que a variabilidade da planta é maior (porque foi necessário mais tempo para a conseguir). É o contributo luso para a história desta cultura milenar. Que não traz boas notícias para todos. Rioja ficou a saber, pela Porvid, que o seu Tempranillo (a nossa Tinta Roriz ou Aragonez) não surgiu por ali, como pensavam, mas na zona de Valdepenãs, a sul de Madrid. Já a casta forte da Bairrada, a Baga, terá afinal surgido no Dão. E a Jaen, famosa nesta região, tem aqui tão pouca variedade que o mais certo é ser muito recente nesta zona do país, indiciando outra origem.

Depois, ao longo destes anos, ao calcorrear o país, os investigadores foram percebendo também que Portugal é um santuário da Vitis silvestrys, a planta silvestre que há milhares de anos foi domesticada pelo homem para se tornar nas videiras que hoje conhecemos. Há mais de 150 núcleos destas vinhas e, assinala António Graça, só nos faltará encontrar algum vínculo arqueológico para podermos, quem sabe, pôr em causa a teoria que coloca no médio Oriente o nascimento da cultura do vinho. Já há na Europa quem defenda a tese da origem múltipla, e Portugal está muito atento a esse debate, que, como a questão da biodiversidade, do uso de castas raras e desconhecidas, pode gerar dividendos económicos se, como insiste António Graça, formos capazes de "comunicar, comunicar, comunicar isto lá fora".

Já este ano, a Porvid associou-se a um projecto, com origem em França e ambições globais, a Wine Mosaic, que luta pela promoção das castas antigas do mediterrâneo, como aquela, quase extinta, que é cultivada por um italiano na Toscana e que, se não vende nada no seu país, teve sucesso em Hong Kong e no Japão, segundo a Wine Spectator. "É que, sabe, eu acho que no vinho, mais do que o que está lá dentro, muito do que se vende é cultura, é a sua história, o trabalho que implicou", acrescenta o presidente da Porvid, Antero Martins, convicto de que Portugal terá muito a ganhar com as dezenas de hectares de vinha, amostra complexa, e completa da nossa biodiversidade, que ele espera ver plantados, e continuamente estudados, em Pegões. Numa herdade prestes a tornar-se o novo santuário da viticultura portuguesa.

in Público - ler notícia

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

A água é cara? Bebam vinho...

(imagem daqui)

Proposta
Parlamento rejeita beber água da torneira porque sai 30 vezes mais cara


O Conselho de Administração da Assembleia da República manifestou-se, mais uma vez, contra a introdução da água da torneira nas reuniões parlamentares, argumentando que o seu custo é quase 30 vezes superior ao da água engarrafada.

A ideia de acabar com as garrafas de água mineral no Parlamento tem vindo a ser defendida pelo Partido Socialista, como um exemplo contra a produção desnecessária de resíduos. Uma primeira tentativa, em 2010, aplicável a toda a Assembleia da República, recebera um parecer desfavorável do Conselho de Administração.

Em Novembro passado, o PS apresentou uma nova proposta, para servir água da torneira pelo menos nas reuniões da Comissão do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Poder Local. Mas a ideia foi chumbada pela maioria dos deputados na comissão, a qual solicitou, por proposta do PSD, uma avaliação dos custos e benefícios de diversas alternativas para o fornecimento de água.

A conclusão foi enviada há dias aos deputados e brevemente discutida nesta terça-feira na Comissão de Ambiente.

Num documento enviado aos deputados, o Conselho de Administração do Parlamento sustenta que a água engarrafada servida nas reuniões da comissão custa 259,20 euros por mês. Para a água da torneira, o valor a que se chegou foi muito maior. O cálculo incluiu os custos de pessoal “para o enchimento, limpeza, colocação e arrumo dos vasilhames” e chegou à cifra de 2730 euros – cerca de dez vezes o valor para a água mineral. O Conselho de Administração também considerou o custo dos jarros em si, avaliados em 4680 euros – o equivalente a 18 meses de água mineral.

“Face aos encargos evidenciados, o Conselho de Administração pronunciou-se favoravelmente à utilização de água engarrafada, considerando que o respectivo uso, enquanto recurso geológico nacional distribuído por empresas portuguesas, assegura as melhores condições aos utilizadores internos e aos convidados da Assembleia da República, a um custo sem significado financeiro”, conclui o documento.

Para o próximo concurso de fornecimento de água, previsto para Julho, o Conselho de Administração sugere que se exijam garrafas de vidro, reutilizáveis.

Quando apresentou a sua proposta, o PS citou números a dizer que, de Janeiro a Novembro de 2010, consumiram-se no Parlamento 35 mil litros de água mineral, em 45 mil garrafas plásticas de 330 mililitros, duas mil garrafas de litro e meio e 78 mil copinhos de plástico.

O deputado socialista Pedro Farmhouse, autor da iniciativa, estranhou os números agora apresentados pelo Conselho de Administração e levantou a questão na reunião da comissão. "Fiquei surpreendido", afirma, mencionando que não só não há uma explicação concreta de como se chegou àqueles valores, como eles chocam com outros apresentados em 2010 também pela administração da Assembleia da República. "Vou escrever uma carta a pedir esclarecimentos ao Conselho de Administração", refere Pedro Farmhouse.

Em pareceres elaborados em 2010, o custo com a aquisição de 100 jarros - para todas as comissões e para o plenário do Parlamento - estava orçado em 1300 euros. A mudança para a água da torneira implicaria uma redução dos custos directos de cerca de 8800 euros para pouco menos de 1400 euros. Mas a questão da necessidade de encher e lavar os jarros era já nessa altura apontada como um problema.

António Couto dos Santos, presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República, explicou que para um serviço destes seria necessário alguém presente nas comissões do Parlamento. “Estas pessoas teriam que ser pagas para estar lá durante o tempo todo da comissão para ir buscar e trazer a água”, disse ao PÚBLICO.

As comissões no Parlamento duram várias horas. Actualmente a empresa que está de apoio às comissões coloca as garrafas e os copos antes de a reunião iniciar. O deputado do PSD referiu ainda as dificuldades práticas se o sistema fosse alterado. “Onde é que iam buscar a água?”, questionou. Naquela região do edifício a água canalizada só existe nas casas de banho, a cozinha está noutro lado da AR, uma terceira alternativa seria a construção de canalização de propósito para abastecer as salas de comissões. “É um absurdo populista que até custa a acreditar que venha de deputados”, resumiu Couto dos Santos. “Se isso é a resolução dos problemas do país? Temos tanto para nos ocupar.”

in Público - ler notícia

NOTA: é ridículo que nos tentem enganar com estas patacoadas - se a crise é para todos, quem está em cima deve começar por dar o exemplo e deixar-se destas desculpas esfarrapadas. E mais não digo para não me arrepender...

terça-feira, dezembro 27, 2011

O Tratado de Methuen foi assinado há 308 anos

O Tratado de Methuen, também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um tratado assinado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em 27 de Dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário britânico John Methuen, por parte da Rainha Ana da Grã-Bretanha, e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete.
Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal. Com três artigos, é o texto mais reduzido da história diplomática europeia:
"I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário.
II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do Direito do costume. Porem, se em qualquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lã e todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra.
III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dois meses se passarão as Ratificações."

terça-feira, março 15, 2011

Milagre! Deus queira que me saia branco!

Pagamento de suplemento à mulher do ministro da Justiça
Alberto Martins espera ter relatório da Inspecção-Geral dentro de três semanas

O ministro não se quis pronunciar sobre as condições que levaram João Correia a autorizar o pagamento à sua mulher

O ministro da Justiça, Alberto Martins, espera ter o relatório da Inspecção-Geral dos Serviços de Justiça (IGSJ) sobre as condições em que foi decidido pagar o suplemento remuneratório à sua mulher “dentro de 15 dias, três semanas, no limite”.

 Numa conferência de imprensa marcada para reagir à notícia de que o Ministério decidiu pagar mais de 72 mil euros de suplemento remuneratório à procuradora adjunta e sua mulher, Maria da Conceição Correia Fernandes, pelo facto de ter trabalhado em dois tribunais cíveis do Porto, apesar dos pareceres contrários da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da hierarquia do Ministério Público, Alberto Martins reafirmou basicamente tudo o que já tinha ao PÚBLICO (ver edição de hoje).

“Quando assumi em funções deleguei no secretário de Estado a competência relativa à acumulação de funções por parte dos magistrados judiciais e do Ministério Público e não dei qualquer instrução sobre qualquer dos 39 processos despachados pelo então secretário de Estado [João Correia]”.

O ministro não se quis pronunciar sobre as condições que levaram João Correia a autorizar o pagamento à sua mulher, apesar dos pareceres negativos, reafirmando que não teve “nenhuma conversa” com o secretário de Estado nem teve “conhecimento do processo”. “Perante as notícias públicas que suscitaram dúvidas eu pedi à Inspecção-Geral dos Serviços de Justiça para que fizesse uma apreciação sobre os procedimentos adoptados” em todo o processo, afirmou Alberto Martins, salientando que espera ter o relatório disponível “dentro de 15 dias, três semanas no limite”, o qual será tornado público. “Confio que a IGSJ clarifique de forma definitiva todas as questões”, acrescentou, recusando-se “antecipar conclusões”. Alberto Martins admitiu ainda que tinha conhecimento de que a sua mulher tinha posto uma acção em tribunal contra o Ministério, mas não avançou mais pormenores.

O ministro revelou ainda que comunicou ao presidente da 1ª comissão parlamentar a sua disponibilidade para se deslocar ao Parlamento e prestar todos os esclarecimentos.

NOTA: o fartar vilanagem, versão antiga: